Parasita, celular inocula nas urnas Marçal, que não é o único
Se não é o único, Marçal vem se superando no tom e no nível de manipulação de seus vídeos. Isso não é salutar em um processo verdadeiramente democrático
Outro dia, escrevi uma coluna no O Antagonista, falando sobre o novo normal na política, gente como Donald Trump, Pablo Marçal, André Janones e afins. Por todo o Brasil e o mundo, com a massificação da internet e a onipresença das redes sociais, sobretudo o TikTok e outras plataformas de vídeos curtos, qualquer um que seja capaz de produzir conteúdo sensacionalista e de fácil adesão popular, se tornará forte candidato a qualquer cargo eletivo, por maior que seja.
Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do Brasil, temos dois exemplos recentes. Em 2022, Nikolas Ferreira foi eleito deputado federal pelo Partido Liberal (PL) com quase 1.5 milhão de votos – o mais votado do País -, e Cleitinho Azevedo (Republicanos), senador com mais de 4 milhões de votos. Os dois são políticos “tiktokers”, eleitos exclusivamente pela massiva exposição de vídeos sensacionalistas, já que ambos não possuem currículos que os qualifiquem.
Jair Bolsonaro em 2018 (e em 2022), na esteira de Donald Trump em 2016, usou e abusou da internet e de campanhas intelectualmente simplórias, com forte apelo populista, muitas vezes mentirosas, resvalando – senão praticando – crimes de preconceito, racismo, xenofobia, homofobia e toda sorte de inadequações políticas e sociais, utilizando-se de mensagens curtas e maldosamente editadas, igualmente disseminadas em massa nas redes sociais.
Parasitas
Nestas eleições municipais, o grande ator do momento – e expoente máximo da baixaria eleitoral – é Pablo Marçal (PRTB), simplesmente candidato à Prefeitura de São Paulo, a maior metrópole da América do Sul que, se fosse um país, seria uma das 60 maiores economias do mundo, com um PIB próximo a um trilhão de reais (o 4º maior do Brasil), atrás apenas do próprio estado de SP, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, segundo levantamento recente da Fecomércio/SP.
De acordo com o Índice de Popularidade Digital (IDP), do instituto de pesquisas Quaest, Marçal lidera o número de menções nas redes e também de avaliações positivas dentre os candidatos. O ex-coach, para tanto, produz e publica uma quantidade formidável de “cortes” (vídeos curtíssimos e manipulados), que são disseminados por meio de uma extensa rede de militantes e apoiadores, procedimento que, inclusive, encontra-se sob a mira da Justiça Eleitoral.
A definição de parasitas é: organismos que vivem em ou sobre outros organismos, conhecidos como hospedeiros, de onde tiram os seus recursos em detrimento destes. Podem ser bactérias, vermes ou protozoários, e são classificados de acordo com a parte do corpo que atacam. Diante da realidade em que vivemos, não é exagero, portanto, comparar um smartphone a um parasita. E aqui me incluo como hospedeiro, com todos os efeitos nocivos sobre meu organismo.
Vírus
Já os vírus são seres microscópicos que não apresentam células nem tampouco metabolismo próprio. Estes organismos dependem de uma célula viva para se replicarem, sendo conhecidos, devido a essa característica, como parasitas intracelulares obrigatórios. Fazendo uma ginástica “à la Xandão“, torcendo um pouco, aqui e ali, as leis, digo a ciência, considero Marçal uma espécie de vírus, inoculado pelo parasita celular. Forcei a barra? Não creio.
Candidatos como Pablo Marçal – franco atiradores sem compromisso com os fatos, a história e a verdade -, que se utilizam de táticas e práticas abomináveis em detrimento da imagem e personalidade de seus adversários políticos, que consideram inimigos a serem aniquilados (e não simplesmente derrotados nas urnas), corroem a democracia e literalmente destroem a política e o sistema eleitoral, tornando o ambiente social ainda mais doente e inabitável do que já está.
Se não é o único, Marçal vem se superando no tom e no nível de edição (manipulação) de seus cortes (vídeos). Isso não pode ser considerado salutar em um processo verdadeiramente democrático, que não se resume à campanha e ao voto somente. Eleições pedem um conjunto de regras e ordem, desde o nascedouro até o fim. E tão fundamental quanto ter ficha limpa, é o candidato ter conduta limpa. Se “políticos tradicionais” são, em grande parte, os picaretas que são, isso é outra história. Não se combate o ruim com o péssimo.
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