Os mentirosos querem controlar as mentiras
O jogo de apontar as mentiras dos outros é muito fácil. Difícil, para o governo Lula, é admitir as próprias mentiras — e parar de contá-las
Para ignorar as violações de direitos humanos cometidas pelo regime amigo de Nicolás Maduro na Venezuela, o governo Lula resolveu tratar as mudanças na moderação de conteúdo da Meta como uma questão de Estado.
Enquanto a líder da oposição María Corina Machado era sequestrada e o ditador consumava sua farsa eleitoral com uma posse ilegítima, sob aplausos dos petistas, a cúpula do governo se reunia para deliberar sobre a melhor forma de convencer os distraídos de que o problema mais urgente do Brasil hoje é o Facebook.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, disse que a adoção de notas da comunidade em detrimento de bloqueios determinados a partir de agências de checagem de fatos “tende a intensificar a desordem informacional em um ecossistema digital que já enfrenta desafios significativos relacionados à disseminação de fake news e discursos de ódio”.
Apontar mentiras é fácil
O que Messias não disse é que sua Advocacia Geral da União (AGU) participa da “desordem informacional” ao mesmo tempo em que alega combater mentiras. Aconteceu na crise das enchentes do Rio Grande do Sul e na disparada do dólar, quando a AGU se fez de besta para tentar limpar a barra de Lula.
Esse jogo de apontar as mentiras dos outros é muito fácil. Difícil, para o governo Lula, é admitir as próprias mentiras — e parar de contá-las.
Por exemplo: João Brant, secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, disse que “a repriorização do ‘discurso cívico’ significa um convite para o ativismo da extrema-direita”.
Verdade ou mentira?
Se isso for verdade, o Facebook estava cerceando um determinado espectro político, como sempre alegaram os políticos de direita. Mas o fato é que poder falar de política abertamente beneficiaria todos os espectros políticos, inclusive a “extrema esquerda”.
O pior, contudo, foi ler Brant dizer que a “Meta vai asfixiar financeiramente as empresas de checagem de fatos”. Só por não patrociná-las mais? Como um checador de fatos classificaria essa informação? Imprecisa? Maliciosa? Exagero? Mentira?
O trabalho dos checadores de fatos tem valor, desde que feito de forma crível. Diretor-executivo da Meta, Mark Zuckerberg disse que as agências de checagem “contribuíram mais para destruir a confiança do que para construí-la”. É verdade, por mais que os checadores esperneiem.
Quem define o que é verdade?
Zuckerberg reconheceu, em entrevista ao podcaster Joe Rogan, que os checadores não são necessariamente maliciosos, mas disse que a maioria deles segue uma agenda específica. Quer dizer, checam alguns temas e outros, não. Isso ocorre porque o trabalho de guardião da verdade é dificílimo.
É impossível policiar todos os assuntos, e, portanto, as checagens seguem agendas, assim como faz o noticiário. Vacinas e urnas eletrônicas se destacaram nos últimos anos como temas para checagem, enquanto os membros do governo Lula mentem livremente sobre a economia brasileira e o dólar.
Aliás, não mentem tão livremente assim, porque sites como O Antagonista, entre outros, fazem questão de apontar as mentiras dos petistas. E é assim que se combatem as tais das fake news, com verdades, mas apenas depois que elas são ditas, e não antes, como pretendem autoridades como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
STF também não é árbitro da verdade
Os próprios ministros do STF, que se apresentam como guardiões da verdade, têm disseminado suas fake news, como nos casos em que Dias Toffoli tentou dar prosseguimento a ações contra a Transparência Internacional e contra a Lava Jato, no caso da narrativa reciclada sobre os grampos de Alberto Youssef.
Num ambiente em que não existe ninguém ou nenhuma entidade com moral ou confiança o bastante para definir o que é verdade, a regulação precisa ser feita pelo maior número de pessoas possível, e não por uma casta de iluminados apontados como árbitros do que deve ou não ser publicado.
Tratar a mudança de moderação anunciada pela Meta como risco à democracia ou a “crianças, adolescentes e idoso, as pessoas mais vulneráveis do nosso país”, como fez Messias em vídeo gravado ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, é disseminar desinformação.
São essas pessoas que pretendem definir o que é verdade ou mentira?
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