O senador Piu-piu e o negacionismo tabajara do golpe
Mourão pode continuar a posar como o Piu-Piu que finge não ver o Frajola, mas a democracia brasileira não pode ser tão ingênua
O senador e ex-vice-presidente Hamilton Mourão, que rebatizou Eduardo Bolsonaro com o apelido “Bananinha”, agora encarna o papel de Piu-Piu, o passarinho amarelo dos clássicos do Looney Tunes que nunca vê ou não quer ver o perigo à sua volta.
Ao chamar o esquema golpista de 2022 de “conspiração tabajara”, Mourão tenta minimizar um ataque real e muito bem documentado à democracia brasileira. As evidências apresentadas pela Polícia Federal e pela decisão do ministro Alexandre de Moraes no âmbito da Operação Contragolpe desmentem categoricamente essa narrativa.
A prisão preventiva de Walter Braga Netto, decretada por Moraes, foi fundamentada em provas contundentes que indicam sua participação central na organização do plano golpista chamado “Punhal Verde e Amarelo”.
Esse plano, que incluía ações para impedir a posse de Lula e Alckmin e até mesmo atentados contra a vida de autoridades como o próprio ministro Moraes, foi estruturado com divisão de tarefas e financiamento ilícito, envolvendo figuras de alta patente e civis.
Documentos apreendidos e depoimentos confirmam que Braga Netto participou ativamente de reuniões para coordenar o golpe, utilizando sua influência entre militares e civis para organizar o esquema. Ele financiou operações clandestinas com dinheiro entregue em sacolas de vinho e buscou informações sobre a delação premiada de Mauro Cid para interferir nas investigações e proteger aliados.
A Polícia Federal identificou que o general fazia parte de um núcleo de comando que articulava operações de desinformação, mobilizações antidemocráticas em quartéis e ações de inteligência para monitorar opositores.
A Constituição Federal, em seu artigo 142, determina que as Forças Armadas podem, em última instância e em condições muito bem definidas e raras, garantir a ordem democrática, mas as ações coordenadas por Braga Netto não têm nada de legais ou constitucionais.
Além disso, sua conduta se enquadra, segundo as investigações e os autos, nos crimes previstos no Código Penal nos artigos 359-L e 359-M, que tipificam a tentativa de abolir violentamente o Estado Democrático de Direito e impedir a posse de autoridades eleitas.
Mourão e a banalização do golpe
Mourão, ao desdenhar das evidências e tratar o caso como algo amador, ignora o histórico golpista do Brasil.
Desde a proclamação da república até as recentes ameaças à ordem democrática, o país já enfrentou diversas rupturas institucionais que começaram com planos considerados “improváveis”. O desprezo de Mourão pela gravidade dos fatos reforça a ideia perigosa de que golpes que falham não têm impacto real. Mas a tentativa de 2022, mesmo sem sucesso, demonstrou fragilidades institucionais e deixou um roteiro para futuros ataques.
Seu reconhecimento do papel de Freire Gomes, então comandante do Exército, em recusar os apelos golpistas, apenas reforça a seriedade da trama e o risco que ela representava. Mourão tenta desacreditar a gravidade da prisão de Braga Netto, mas as provas indicam o contrário: um esquema articulado, financiado e com objetivos claros de subverter a democracia brasileira.
Por que a prisão de Braga Netto foi necessária?
A decisão de Alexandre de Moraes não foi apenas uma reação pontual, mas uma medida preventiva para garantir a ordem pública, a instrução criminal e a aplicação da lei penal. Deixar Braga Netto em liberdade seria abrir margem para a destruição de provas, constranger testemunhas e para a continuidade de uma associação criminosa que, ainda segundo as investigações e evidências, ameaçou a integridade do Estado Democrático de Direito.
As provas apresentadas pela PF detalham um esquema que não pode ser reduzido a meras conversas de idosos desocupados no Whatsapp. A trama incluiu monitoramento ilegal de opositores, disseminação de fake news e planejamento de ações violentas contra instituições. Essas ações, mesmo sem terem resultado em um golpe consumado, representam crimes graves que devem ser tratados com o rigor da lei.
Mourão pode continuar a posar como o Piu-piu que finge não ver o Frajola, mas a democracia brasileira não pode ser tão ingênua.
Golpes, bem-sucedidos ou não, são ataques diretos ao Estado de Direito e devem ser combatidos com firmeza. As provas contra Braga Netto não deixam margem para dúvidas: sua prisão foi uma medida necessária para proteger o país de novas investidas autoritárias.
O que está em jogo aqui não é apenas a punição de indivíduos, mas a preservação de um sistema democrático que já enfrentou múltiplas ameaças e que, mais uma vez, precisa demonstrar sua resiliência.
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Comentários (2)
Luis Eduardo Rezende Caracik
16.12.2024 15:13Não sei se a melhor descrição é Senador General B___ão ou General Senador B___ão! Se foi escolhido por Bolsonaro, junto com outros Generais, é sempre bom lembrar do ditado: Diga-me com quem andas e direi quem és.
Nina de Paula Brito de Miranda
16.12.2024 13:15Mourão, durante o governo Bolsonaro ou mesmo antes dele, ficou conhecido por emitir opiniões nada a ver, sem fundamento ou pura narrativa que existia só na própria imaginação. Senador Piu-piu é ótimo. Retrata bem o peso que se deve dar a essas opiniões.