O fim da farsa sobre as "coações" da Lava Jato O fim da farsa sobre as "coações" da Lava Jato
O Antagonista

O fim da farsa sobre as “coações” da Lava Jato

avatar
Carlos Graieb
4 minutos de leitura 25.06.2024 16:50 comentários
Análise

O fim da farsa sobre as “coações” da Lava Jato

Empreiteiras conseguiram o que queriam, condições melhores para pagar suas multas. Chega de dizer que houve algo errado nos acordos de leniência

avatar
Carlos Graieb
4 minutos de leitura 25.06.2024 16:50 comentários 0
O fim da farsa sobre as “coações” da Lava Jato
Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

Não houve coação nos acordos de leniência da Lava Jato. Não se trata de uma opinião, mas de um fato objetivamente admitido pelas empreiteiras no processo de renegociação das multas e ressarcimentos que elas se comprometeram a pagar anos atrás, ao assinar as leniências. 

Se fosse questão de princípio ou justiça provar que, durantes as investigações do petrolão, elas foram forçadas a assumir crimes que não haviam cometido, as empresas que participaram das tratativas nos últimos quatro meses – Novonor (ex-Odebrecht), Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Nova Participações (antiga Engevix), Metha (antiga OAS) e UTC Engenharia – não teriam cedido. 

Mas elas deixaram de insistir nessa tese logo no começo dos trabalhos, em fevereiro. Pois era, obviamente, apenas questão de dinheiro. 

Prejuízo fiscal

Nesta segunda-feira, 24, as empreiteiras concordaram com o principal mecanismo que estava em discussão: poderão utilizar 50% dos créditos tributários gerados em anos de prejuízo fiscal para pagar o que devem à União. 

Elas ainda se esforçam para incluir nessa conta também o que devem à Petrobras. Se conseguirem, poderão abater 5,9 bilhões de reais por meio dos créditos. Se não conseguirem, devolverão 4 bilhões de reais aos cofres públicos dessa maneira e terão de se virar para ressarcir a petroleira em dinheiro mesmo.

Essa, sem dúvida alguma, é a solução correta. Ao contrário do que pensam Lula e o PT e do que fingem não saber os advogados das empresas, o caixa da Petrobras (que tem acionistas privados, lembram?) não se confunde com o da União. O cartel que barbarizou a petroleira não pode usar créditos fiscais para compensá-la. 

Crimes readmitidos

Mas voltemos ao ponto de partida. Durante a renegociação, as empreiteiras, em busca de um alívio nas condições de pagamento de suas dívidas, reconheceram mais uma vez o que já se sabia: houve corrupção na Petrobras; houve cartel que beneficiou empresas; houve desvio de dinheiro que beneficiou executivos, políticos, partidos, autoridades. Os crimes foram readmitidos. A Lava Jato não foi um delírio.

Com o fim desse processo, é preciso que haja consequências jurídicas. Depois que tanta gente se sentou na mesma sala iluminada – empresas, AGU, CGU e até um representante do STF, o ministro André Mendonça – reafirmou a existência do petrolão e chegou a uma nova combinação financeira, é preciso extinguir a ação que está na origem de tudo. 

Trata-se daquela ação delirante, patrocinada por três legendas de esquerda (Psol, PCdoB e Solidariedade) e assinada Walfrido Warde, um integrante do grupo prerrogativas (aquela agremiação de advogados milionários também de esquerda), segundo a qual a Lava Jato criou um “estado de coisas inconstitucional” e submeteu as coitadinhas das empreiteiras, com seus exércitos de advogados caros, a torturas que nem a Idade Média chegou a sonhar. 

O petrolão existiu, Dias Toffoli

O ministro André Mendonça deveria extinguir esse troço com palavras duras para os partidos de esquerda e algumas indiretas para os advogados milionários do grupo prerrogativas. Aliás, o fundador do grupo, Marco Aurélio de Carvalho, representou a Camargo Correa na renegociação. Nesta terça, ele disse ao Estadão que “ninguém saiu vencedor desse processo”, mas seu escritório deve ter ganhado alguma coisa, não é?

Logo em seguida, Mendonça deveria chamar o seu colega Dias Toffoli para um cafezinho e lhe dizer que pare de destruir a Lava Jato com canetadas solitárias. Porque veja bem, amigo Toffoli, ou melhor, amigo do amigo do pai do Marcelo Odebrecht, o petrolão existiu. Deixemos então de fingir que a Lava Jato foi a coisa ruim que aconteceu ao país. Horrorosa mesmo foi toda aquela corrupção.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Visualizar notícia
2

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
3

Jaguar se rende à cultura woke e é alvo de críticas

Visualizar notícia
4

Toffoli remói a narrativa dos grampos de Youssef

Visualizar notícia
5

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
6

Kassab projeta Tarcísio presidente até 2030

Visualizar notícia
7

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
8

O papel dos indiciados em suposta tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
9

Putin comenta lançamento de míssil e ameaça o Ocidente

Visualizar notícia
10

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Mandado contra Netanyahu não tem base, diz André Lajst

Visualizar notícia
2

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
3

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
4

PGR vai denunciar Jair Bolsonaro?

Visualizar notícia
5

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
6

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
7

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
8

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
9

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
10

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

acordos de leniência Alexandre Mendonça Dias Toffoli empreiteiras Lava Jato STF
< Notícia Anterior

Hugh Grant estrela "Herege”, novo filme de terror aterrorizante: veja o trailer

25.06.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

A transformação física e o amor de Yuri Lima que homenageia Iza

25.06.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Duda Teixeira Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.