O crime do batom no país dos manés
O delito efetivo de Débora foi riscar uma estátua. Sua única “arma” era um batom. Por tal delito, uma daquelas penas alternativas de prestação de serviço público seria suficiente

Aqui, no país dos manés, onde a população sofre padecendo grandes necessidades, emendas parlamentares bilionárias seguem rotineiramente por caminhos desconhecidos indo, em muitos casos, para o bolso de corruptos.
Aqui, no país dos manés, os juízes, que, a começar pela Suprema Corte, deveriam garantir a Constituição e distribuir justiça para todos, tratam de distribuir para eles mesmos benesses e penduricalhos que elevam seus ganhos para muito além do teto constitucional.
Aqui, no país dos manés, os partidos políticos, cuja missão deveria ser mobilizar a sociedade para lutar contra tais abusos, mobilizam-se apenas para garantir para si uma boa fatia dos bilionários fundos partidário e eleitoral.
Aqui, no país dos manés, o crime organizado controla e estabelece suas leis em cidades e regiões inteiras.
É diante desse quadro desolador que a esquerda grita a expressão “Sem Anistia!” como principal bandeira de redenção nacional, preferindo punir e vingar-se de supostos inimigos a ocupar-se das inúmeras mazelas que oprimem o povo.
Instigado e validado pelo clamor dessa militância cega e raivosa, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem exercido um rigor sem precedentes contra a “arraia miúda” que invadiu as sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Muitos foram presos preventivamente e presos continuam; uns tantos já foram condenados a cumprir penas de até 17 anos de prisão.
Corre agora no Supremo o julgamento da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que usou batom para escrever a frase “perdeu mané” na estátua A Justiça (que fica em frente ao STF). O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, votou por uma condenação a 14 anos de prisão.
Muito se tem falado e escrito sobre isto; e é preciso que se continue a falar e escrever para que tais abusos de julgamento não prevaleçam.
É preciso enfrentar o estardalhaço da campanha Sem Anistia e perseverar na cobrança de que os possíveis delitos dos baderneiros do 8 de janeiro sejam julgados de forma individualizada em vez de serem entendidos todos como “tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.”
O delito efetivo de Débora foi riscar uma estátua. Sua única “arma” era um batom. Por tal delito, uma daquelas penas alternativas de prestação de serviço público seria suficiente: um ano ajudando em serviços de limpeza estaria ótimo.
A pena de 14 anos para essa mãe de família, sem antecedentes criminais é um abuso, uma exorbitância, um descalabro jurídico, uma vingança política.
Quem reagiu politicamente a essa pena perversamente desproporcional foi o vigilante senador Alessandro Vieira, que apresentou um Projeto de Lei no sentido de corrigir distorções, não permitindo penas excessivas para quem cometeu atos “menos graves” durante as invasões do 8 de janeiro.
Do lado bolsonarista, porém, o que temos é a instrumentalização contínua do caso em favor do ex-presidente.
Misturam-se alhos com bugalhos como se Jair Bolsonaro e os que tramaram “virar a mesa” com ele estivessem na mesma condição de injustiçados quanto a cabeleireira com batom e outros presos pelo 8 de janeiro.
É preciso diferenciar entre massa de manobra e artífices reais da intentona bolsonarista. Punir devidamente os tubarões e soltar os peixes pequenos que foram arrastados a um ato impensado e irresponsável por quem efetivamente tramava um golpe.
Pena de 14 anos por pichar estátua é algo revoltante e comprova que Alexandre de Moraes tem se comportado mais como algoz do que como juiz.
Bolsonaro, porém, não é vítima. É preciso repudiar as penas excessivas sobre cidadãos comuns sem fazer o jogo vitimista e hipócrita daqueles que os colocaram nessa situação.
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Comentários (10)
LUIZ OSVALDO CARNIELO CALEJON
25.03.2025 12:01Muito ponderado e razoável o argumento do texto. Agora, é preciso diferenciar o que seria apenas um comentário escrito a batom numa praça em um domingo de sol, da mesma atitude de alguém que participava de uma agressão séria à democracia. É certo que a pena atribuída é excessiva, mas a avaliação de que se tratava apenas de uma cabeleireira inocente não é adequada no julgamento desse caso.
MARCOS
24.03.2025 18:23AQUI NO BRASIL A JUSTIÇA NUNCA FOI JUSTA. A LEI SÓ EXISTE PARA BENEFICIAR OS PODEROSOS (MILIONÁRIOS/BILIONÁRIOS). O RESTANTE QUE SE FODA. NO BRASIL O CRIME COMPENSA. VEJA O AMIGO DO AMIGO DO MEU PAI, A COXA OU AMANTE, O NERVOSINHO E TANTOS OUTROS. SERGIO CABRAL CONDENADO A MAIS D 400 ANOS DE CADEIA ESTÁ LIVRE, LEVE E SOLTO ENQUANTO OS MANÉS QUE SE ILUDIRAM NO GOLPE TOMAM 14 A 17 ANOS DE CADEIA E MULTAS MILIONÁRIAS. ISSO TUDO ENQUANTO OS MINISTROS DO stf SE REFASTELAM NO CAVIAR E CHAMPNHE IMPORTADA. ESSE É O PAÍS DOS MANÉS, NÉ MANÉ?
Maria Angélica
24.03.2025 16:49Excelente !!! A Justiça sendo injusta é um descalabro.
Luiz R Ferreira
24.03.2025 14:21Vejam o contexto para entenderem a pena: pessoa errada no lugar errado, fazendo coisa errada. Tudo se amplia em um clima de g o l p e, segundo análise dos ministros do STF.
Bernardo De Faria Leopoldo
24.03.2025 13:45Adoro seus textos, Catarina. São excelentes! Parabéns!
DUILIO RIBEIRO BARBOSA
24.03.2025 13:28"Bolsonaro, porém, não é vítima. É preciso repudiar as penas excessivas sobre cidadãos comuns sem fazer o jogo vitimista e hipócrita daqueles que os colocaram nessa situação." Excelente!!! Onde eu assino?
Alinete Lemos
24.03.2025 12:48Baton sai com pano, papel etc.
Marcia Elizabeth Brunetti
24.03.2025 10:18Muito bem resumida essa condição que vivemos atualmente. Tenho pena dessa moça e penso nos filhos, que drama estão vivendo. Ela foi gado, mas e o senhor Bozo? Não demonstra o mínimo de sensibilidade com as pessoas que acreditaram nele. E pensar que ainda está cheio de defensores desse animal e sua famíglia. Mas, ainda não esqueci é a falha na segurança naquele dia. Dizem que estavam de férias? No meu simples e humilde condomínio a segurança não entra de férias, simplesmente trocam-se funcionários para cobrir o período.
Guilherme Rios Oliveira
24.03.2025 09:57É um absurdo e nenhum poder vai contra, estão preocupados apenas em enriquecer às custas do país e manter o status quo.
Joaquim
24.03.2025 09:34É o que sempre digo: aos fracos e pobres o rigor da lei, aos amigos da corte as benesses das excelências. O sistem de injustiça bradileiro segue fazendo história.