Nunes, Marçal e a mão de ferro do bolsonarismo
Demonstrações de independência em relação ao "capitão" têm peso diferente para os dois candidatos à prefeitura de São Paulo
Três fatos dos últimos dias deixaram o eleitorado bolsonarista em polvorosa nesta sexta-feira, 16.
Um deles foi o apoio do prefeito Ricardo Nunes à ex-deputada federal Joice Hasselmann, na disputa por uma cadeira de vereadora na cidade de São Paulo.
O segundo, a crítica de Pablo Marçal a Carlos Bolsonaro em uma entrevista, que teve resposta articulada nas redes sociais.
O terceiro, a declaração ambígua do ex-presidente a uma rádio: ele disse estar comprometido com a campanha de Nunes à reeleição, embora ele não seja o seu “candidato dos sonhos”, e ao mesmo tempo em fez um elogio à “inteligência” de Marçal.
“Traíra”
Tudo isso teve bastante repercussão no X, um dos habitats naturais da política bolsonarista/direitista radical.
Uma das constatações que se pode fazer pelas postagens é que a reverência e a fidelidade a Jair Bolsonaro continuam sendo a régua pela qual todos os políticos que se aproximam da sua órbita serão medidos.
A aproximação entre Nunes e Joice resultou num trend topic chamado “Traíra”.
Joice Hasselmann é desprezada, ou mesmo odiada pelo bolsonarismo, porque rompeu com o ex-presidente no meio do seu governo.
Esse sentimento ameaça agora se transferir ao prefeito paulistano, como indicam os comentários na rede social.
Se já tinha dificuldades em cativar esse eleitorado, a tarefa pode ter se tornado impossível.
A declaração do filho 03, Eduardo, de que aproximar-se de Joice equivale a “cavar a própria sepultura”, e a falta de entusiasmo demonstrada pelo próprio Bolsonaro nesta sexta, deixam Nunes ainda mais ao relento.
Críticas a Carluxo
A questão da fidelidade também esteve no centro da reação à entrevista de Pablo Marçal, que acusou Carlos Bolsonaro de ter prejudicado a reeleição do pai adotando uma estratégia de campanha equivocada na internet e impedindo que outros políticos se aproximassem do ex-presidente.
Uma conta ligada aos Bolsonaro publicou uma edição do vídeo com carimbos de “mentira” acompanhando cada declaração de Marçal.
Além disso, o próprio Carlos Bolsonaro divulgou resposta em seu perfil. Nos comentários, falas e imagens do passado foram recuperadas para qualificar Marçal como oportunista e descompromissado com a causa bolsonarista.
Uma das fotos mais replicadas traz Marçal cumprimentando o ministro Alexandre de Moraes, inimigo número um do bolsonarismo, em sua posse no STF. Há também comparações entre ele e o ex-governador João Doria, outra figura abominada nesse universo.
Pesos diferentes
Os desafios à ortodoxia bolsonarista têm pesos muito diferentes para Nunes e Marçal, no entanto.
Nunes trava uma batalha crucial para o seu futuro político. Se não conseguir se reeleger, ficará sem cacife nenhum para empreitadas ambiciosas no futuro.
Marçal, por sua vez, é um franco-atirador, que começou a construir agora sua marca política.
A mão de ferro do bolsonarismo é muito mais ameaçadora para o primeiro do que para o segundo.
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