Nem motosserra nem jeitinho são soluções verdadeiras Nem motosserra nem jeitinho são soluções verdadeiras
O Antagonista

Nem motosserra nem jeitinho são soluções verdadeiras

avatar
Carlos Graieb
4 minutos de leitura 27.03.2024 19:26 comentários
Análise

Nem motosserra nem jeitinho são soluções verdadeiras

Presidente da Argentina, Javier Milei, afirmou na noite de terça-feira, 26, que pretende demitir 70 mil funcionários públicos

avatar
Carlos Graieb
4 minutos de leitura 27.03.2024 19:26 comentários 0
Nem motosserra nem jeitinho são soluções verdadeiras
Foto: Reprodução/X Javier Milei

O argentino Javier Milei e os governadores dos mais endividados estados brasileiros oferecem um contraste interessante no noticiário desta semana.

Milei afirmou na noite de terça-feira, 26, que pretende demitir 70 mil funcionários públicos. Depois disso, o porta-voz da presidência explicou que o número está em estudo e que os cortes mais imediatos devem atingir 15 mil servidores. Ainda assim, o argentino mostrou que continua disposto a empunhar a motosserra, como dizia durante a campanha do ano passado, para reduzir os gastos do Estado.

Pouco antes da fala de Milei, os governadores do Sul e do Sudeste haviam se reunido em Brasília com ministros do governo Lula para renegociar as dívidas de seus estados. Segundo eles, os juros cobrados pela União tornam as dívidas impagáveis e sufocam a capacidade de investimento das unidades da federação.

O argentino quer sangue; os brasileiros querem um jeitinho. Não é boa de verdade nenhuma das duas saídas para lidar com o problema pavoroso do ajuste fiscal que ronda a todos.

Não se sabe qual a economia que Milei pretende alcançar. Se não forem feitas com a devida cautela, demissões em massa como as anunciadas por Milei tendem a ser judicializadas e criar outro tipo de passivo para o Estado. Além disso, mesmo que chegue ao número de 70 mil “degolas”, o presidente nem sequer fará cócegas na gigantesca burocracia argentina, que abriga cerca de 3,5 milhões de pessoas.

Não existe ato presidencial que, sozinho, possa reduzir drasticamente o tamanho desse organismo: medidas negociadas com o Congresso e com a população são incontornáveis. Assim, declarações espetaculosas como as do argentino (que logo em seguida têm de ser qualificadas pela sua equipe técnica) cumprem mais uma função política do que administrativa.

O caso brasileiro é inverso. Governos estaduais fogem do confronto com suas respectivas burocracias e nacionalizam a conta, pedindo arrego à União.

Lembremos que houve duas grandes renegociações das dívidas estaduais em cerca de 25 anos: a primeira em 1997, a segunda em 2016-17. Essa segunda repactuação foi necessária, em grande parte, aos estímulos que Lula e Dilma deram aos governadores para que deixassem de lado esse incômodo chamado responsabilidade fiscal.

Os estados mais encrencados atualmente são Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Justiça seja feita, Claudio Castro, Eduardo Leite e Romeu Zema, seus respectivos governadores, promoveram reformas das previdências estaduais, sempre um passo fundamental para o ajuste das contas públicas.

Mas eles não foram além e, enquanto pediam à União juros mais camaradas para o serviço da dívida, deveriam ter dado grande ênfase à necessidade de desinflar a máquina pública de seus estados. Segundo os números de 2023, a dívida do Rio equivale a 188% da receita corrente líquida do estado; a do Rio Grande do Sul, a 185%; a de Minas, a 168%. É importante reiterar que qualquer alívio dado a esses estados grandes e ricos, apesar das dívidas, significa uma nacionalização do problema. A maioria das unidades da federação tem dívidas sob controle atualmente, da ordem de 30% de suas receitas correntes.

Tirar um governo do fundo ou da beira do abismo fiscal é tarefa complicada, que requer um pouco de habilidade política e um pouco de dureza e determinação. Milei vai precisar de um pouco do primeiro ingrediente para cumprir o seu propósito. A discussão brasileira precisa de uma dose fortíssima da dureza de Milei para impedir que nossos políticos continuem recorrendo sempre ao jeitinho.

Esportes

Príncipe Harry voltará ao Reino Unido para celebrar 10 anos dos Jogos Invictus

28.04.2024 18:36 2 minutos de leitura
Visualizar

Serviços 24 horas em São Paulo estão ameaçados?

Visualizar

Delegado é assaltado em ciclovia de São Vicente e tem arma roubada

Visualizar

Governo Lula tenta agradar o agro

Visualizar

Sobe número de internações de crianças por queda

Visualizar

Jaden Smith publica foto com camisa do São Paulo e agita as redes

Visualizar

Tags relacionadas

Javier Milei
< Notícia Anterior

Auxílio Gás e BPC: conheça os benefícios sociais

27.03.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Reduza seu Imposto de Renda 2024: saiba o que deduzir e economize

27.03.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Governo Lula melhorou a comunicação até demais

Governo Lula melhorou a comunicação até demais

Rodolfo Borges
28.04.2024 09:53 3 minutos de leitura
Visualizar notícia
Os perigos de governar com o STF

Os perigos de governar com o STF

Rodolfo Borges
27.04.2024 11:24 5 minutos de leitura
Visualizar notícia
Com Lula e Pacheco no ringue, torça pela briga

Com Lula e Pacheco no ringue, torça pela briga

Carlos Graieb
26.04.2024 18:03 5 minutos de leitura
Visualizar notícia
STF ajuda a mascarar problema nas contas públicas

STF ajuda a mascarar problema nas contas públicas

Rodrigo Oliveira
26.04.2024 16:35 3 minutos de leitura
Visualizar notícia

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.