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Não é por Xandão, é pela anistia

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Carlos Graieb
4 minutos de leitura 09.09.2024 13:05 comentários
Análise

Não é por Xandão, é pela anistia

Manifestação do 7 de Setembro mostra mais uma vez que livrar Bolsonaro da cadeia e devolver seu nome às urnas são as verdadeiras metas

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Carlos Graieb
4 minutos de leitura 09.09.2024 13:05 comentários 5
Não é por Xandão, é pela anistia
Bolsonaro no 7 de Setembro: Imagem: Reprodução/ YouTube

Livrar-se de Alexandre de Moraes não é o principal objetivo dos bolsonaristas que comandaram, do topo de um carro de som, a manifestação de 7 de Setembro em São Paulo. 

Como já haviam deixado claro em um evento semelhante (e muito mais cheio de gente) em março, o que eles querem de verdade é construir condições políticas para votar duas coisas no Congresso: anistia para todos que procuraram incitar uma intervenção militar entre o fim de 2022 e o começo de 2023, de Jair Bolsonaro à bucha de canhão que depredou a Praça dos Três Poderes; e a anulação da inelegibilidade do ex-presidente, com base em alguma feitiçaria legislativa.

Quem tiver dúvidas a esse respeito, ouça novamente na internet os discursos de Silas Malafaia e do próprio Bolsonaro. 

Um vilão para a narrativa

Na pregação de Malafaia, a tarefa é devolver Bolsonaro ao poder. Para isso, ele aborda uma a uma, laboriosamente, as acusações que pesam sobre seu aliado político. Até mesmo a gatunagem de quinta categoria das joias sauditas ele se esforça para desculpar. E então o pastor compara as ações de Bolsonaro, todas elas angelicais segundo a sua descrição, com os “verdadeiros crimes” cometidos por Alexandre de Moraes. 

Idem para o discurso do “capitão”. Ele foi construído seguindo o velho roteiro: eu desafiei o sistema; eu fui perseguido pelo sistema; eu não vou me render. A anistia é necessária para pacificar o país. A reversão da inelegibilidade será obtida no Congresso. 

Xandão é necessário a essa turma como vilão de uma história em quadrinhos em que eles são os justos. É apontando para o ministro que os sentimentos de revolta e indignação que fazem as pessoas saírem de casa são despertados. O fato de haverem produzido um boneco inflável apelidado de “Xandão”, que só não foi usado na avenida por medo de que levasse à prisão de alguém, ilustra bem essa necessidade de dar corpo e cara ao inimigo.

Leia também: Por que não pode haver anistia

Grito de guerra

O impeachment de Alexandre de Moraes ou de qualquer outro ministro do STF é grito de guerra e ferramenta de pressão. Mas não é a meta verdadeira de Bolsonaro, que só se preocupa em escapar da cadeia e recobrar, antes de 2026, o direito de concorrer às eleições (afinal, há gente como Pablo Marçal querendo invadir seu latifúndio na direita). 

Fique à vontade quem quiser servir de massa de manobra a esse projeto personalista.

Isso quer dizer que Alexandre de Moraes é um doce de côco? De jeito nenhum. 

O autoritarismo do STF

Há muito tempo, ele e seus colegas do STF desvirtuaram (ainda mais, visto que o bicho já nasceu torto) o inquérito das fake news, transformando-o não em ferramenta de investigação, mas de ameaça e controle político.

Há muito ele e seus colegas do STF vêm construindo um aparato policialesco no TSE – a tal Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), que esquadrinha mesmo fora do período eleitoral o discurso político na internet e nas redes sociais. 

Há muito ele perdeu a medida daquilo que um juiz deve ou não deve fazer, encomendando bloqueios de contas na internet e nas redes sociais em vez de apenas decidir se esse bloqueio é legal ou não (e seus colegas do STF o respaldam nisso). 

Há uma semana, ele mandou tirar do ar uma rede social inteira, sem ponderar o prejuízo que isso causa a 22 milhões de terceiros, vítimas colaterais.

Ele também ignorou com uma única canetada a personalidade jurídica de duas empresas diferentes – X e Starlink – tratando-as como “grupo econômico de fato” como se isso não exigisse um processo específico e não pusesse em risco a crença, que já não é das maiores, na segurança jurídica existente no Brasil.

E seus colegas do STF o respaldam nisso.

Tudo isso precisa ser denunciado, combatido e revertido. 

Só acho que não vale a pena lutar contra o autoritarismo que se incrustou no coração do STF em nome de outro projeto autoritário, como o bolsonarismo.

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (5)

Daniela Gonzalez Macedo

10.09.2024 07:50

Excelente artigo! Parabéns, Carlos Graieb!


Marcio Gama

09.09.2024 18:46

Ja deixou de ser democracia. Lula é o mafioso geral da união. O que faz os esquemas, expropria os cidadãos com impostos abusivos. Nao sei se sairemos disso.


Homero

09.09.2024 15:49

O comentário faz todo o sentido. Mas não é fácil separar as duas coisas. Um movimento desses é como se fosse uma frente. A abertura do processo de impeachment é um processo e a anistia é outro, no qual seria discutido se o devido processo legal foi aplicado e se houve acusação formal e individual às pessoas presas. O processo do Sr. Bolsonaro é outra coisa. Não se deve jogar a água suja do banho junto com o bebê! É claro que há váriadas visões em jogo, o que não pode é gerar um divisionismo em que nada seria feito!


Suely Racy

09.09.2024 14:26

Eu estava na manifestação. Levei uma faixa: fica X. Fora Moraes. A maior parte do tempo falaram sobre o impeachment do Alexandre de Moraes. https://www.instagram.com/reel/C_oJwSsvFVH/?igsh=MTcxOXh4aWg4amd2


Murillo Bueno Bran Junior

09.09.2024 13:27

Perfeito seu diagnóstico. Bolsonaro quer duas coisas.Ficar livre para se candidatar em 26 e ficar livre do xadrez..


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