Márcio Coimbra na Crusoé: O perigoso cerco sobre Taiwan
Estamos testemunhando o ensaio final de uma operação de estrangulamento sistêmico, desenhada para testar a resiliência das democracias ocidentais
À medida que transitamos para 2026, o tabuleiro geopolítico global enfrenta sua conjuntura mais crítica desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A deflagração da “Missão Justiça 2025” por Pequim não representa apenas mais um capítulo na longa história de tensões no Estreito de Taiwan, ela sinaliza uma mudança de paradigma na postura estratégica da República Popular da China.
Como analista de risco internacional habituado a monitorar as vulnerabilidades das grandes corporações e das cadeias de suprimento globais, atesto que se tornou imperativo reconhecer que não estamos diante de um simples exercício militar de rotina.
Estamos testemunhando o ensaio final de uma operação de estrangulamento sistêmico, desenhada para testar a resiliência das democracias ocidentais e a viabilidade da ordem internacional.
A “Missão Justiça 2025” distingue-se de manobras anteriores, como as de 2022 ou 2024, pela sua natureza tridimensional e pela sofisticação do cerco simulado. Desta vez, o Exército de Libertação Popular (ELP) não se limitou a disparos de mísseis ou incursões na zona de identificação de defesa aérea. A operação focou na interdição total dos portos de Keelung e Kaohsiung, o bloqueio das rotas submarinas de cabos de fibra ótica e a neutralização eletrônica das comunicações da ilha.
Ao “borrar” deliberadamente a fronteira entre o treinamento e a mobilização real, a China busca reduzir o tempo de aviso estratégico das potências aliadas, criando um ambiente de ambiguidade que eleva o risco de erro de cálculo a níveis alarmantes. Cada incursão que tangencia as águas territoriais de Taiwan é uma tentativa de normalizar a presença militar chinesa, desgastando a prontidão das forças de defesa taiwanesas e preparando o terreno para um fato consumado.
Este cenário torna-se ainda mais sombrio quando analisamos o alinhamento explícito entre Pequim e Moscou. O apoio da Rússia à “Missão Justiça 2025” não é meramente diplomático, é uma peça fundamental de uma estratégia de revisão global. Para o Kremlin, a instabilidade no Indo-Pacífico é um multiplicador de forças que drena a atenção e os recursos do Ocidente, aliviando a pressão sobre as suas próprias frentes na Europa Oriental.
Ao endossar a retórica de Pequim sobre a “integridade territorial”, a Rússia consolida o eixo autocrático, enviando uma mensagem clara: as grandes potências iliberais estão coordenadas para desafiar a hegemonia democrática em múltiplas frentes simultâneas. Este pacto de conveniência busca substituir o direito internacional pela lei das esferas de influência, onde o destino de nações livres é decidido pela força bruta das potências nucleares vizinhas.
A implicação imediata desta tensão é o risco real de que esses desdobramentos culminem em uma guerra aberta. A análise de risco sugere que a China pode interpretar a hesitação ocidental ou o foco em crises internas como uma janela de oportunidade histórica. Contudo, as consequências de tal conflito seriam devastadoras, transcendendo qualquer disputa territorial. Taiwan é o epicentro do que definimos como o “Escudo de Silício” da economia global.
A ilha é responsável pela produção de mais de 90% dos semicondutores de última geração…
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