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Lula livrou todo mundo

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Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 03.02.2024 08:51 comentários
Análise

Lula livrou todo mundo

A narrativa desenhou o petista como o grande injustiçado, uma exceção no mar de corruptos da Lava Jato, mas ele não passou de um pretexto

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Rodolfo Borges
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Lula livrou todo mundo
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Há um constrangimento no ar. A história não saiu como o planejado, apesar de o roteiro estar óbvio desde a primeira cena para quem quisesse ver. A narrativa desenhou Lula (foto) como o grande injustiçado, uma exceção no mar de corruptos revelado pela Lava Jato, mas a alegada inocência do petista não passou de um pretexto para começar a derrubar toda a operação.

Foi Lula que abriu a fenda na Lava Jato por onde escoe toda a corrupção descoberta nos últimos anos. Ou melhor, foi por meio de Lula, a única figura política capaz de animar parte da população contra a maior operação de combate â corrupção da história do Brasil, que a estrutura de corrupção reagiu. Foi a anulação de suas condenações que inaugurou o cemitério de provas em que se transformaram as investigações do petrolão, como bem resumiu a Transparência Internacional.

Lula foi usado como escudo, e obviamente se beneficiou. O petista ganhou a oportunidade de tentar limpar sua reputação, enfrentando o “perigo maior” Jair Bolsonaro, mas a limpeza se torna mais difícil a cada pedaço da Lava Jato que cai diante dos olhos do país. Tirando advogados e executivos das empresas envolvidas, ninguém celebra publicamente a suspensão de multas e pagamentos (e manutenção dos benefícios) dos acordos de leniência — mas muitos celebram até hoje o teatro da absolvição de uma “ideia”, para usar as palavras do petista.

O carinho da torcida anti-Lava Jato

Ainda surgem pelas redes sociais alegações para sustentar que o culpado disso tudo é Sergio Moro, que teria feito tudo errado, abrindo margem para a derrubada da operação. As alegações poderiam enganar alguém, não fosse o fato de que todas as grandes operações policiais contra a corrupção no Brasil caíram nos tribunais superiores, cedo ou tarde, por questões técnico-processuais.

A diferença entre a Lava Jato e a Satiagraha ou a Castelo de Areia, por exemplo, é que teve torcida popular festejando enquanto se desmontava a operação conduzida por Deltan Dallagnol — a torcida de Lula.

Essa mesma torcida finge agora que não tem nada a ver com isso, lamenta a corrupção no Brasil enquanto aplaude a propagandeada democracia comandada pelo presidente da República em parceria com impávidos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que se espantam com o espanto da população diante da corrupção no país.

O legado da Lava Jato

No mesmo dia em que Dias Toffoli desmontou mais um pedaço da Lava Jato, ao suspender pagamento de 3,8 bilhões de reais da Odebrecht, que virou Novonor na tentativa de superar um passado que hoje se tenta apagar, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, destacou “o imenso serviço que o Judiciário presta ao Brasil”.

Gilmar Mendes verbalizou de outra forma o incômodo dos ministros do Supremo com a repercussão popular de suas decisões. Ao comentar o Índice de Percepção da Corrupção (IPC) 2023, no qual o Brasil caiu dez posições em relação ao ano anterior, disse que “um índice baseado em percepções precisa ser visto com cautela“ .

Depois da suspensão de tantas multas, do cancelamento de tantas condenações e da perseguição de tantos envolvidos nas investigações, esse se tornou o maior legado da Lava Jato: um incômodo, um sentimento ruim, a percepção de que a situação piorou. É frustrante, porque poderia ser muito mais do que isso, mas, em um país como o Brasil, não é pouco.

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Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

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