Lula finge “espanto” com problema que ele mesmo criou Lula finge “espanto” com problema que ele mesmo criou
O Antagonista

Lula finge “espanto” com problema que ele mesmo criou

avatar
Carlos Graieb
4 minutos de leitura 18.06.2024 18:24 comentários
Análise

Lula finge “espanto” com problema que ele mesmo criou

Lula se disse "espantado" com os subsídios econômicos; ele e sua pupila Dilma Rousseff são os principais responsáveis por esse cenário

avatar
Carlos Graieb
4 minutos de leitura 18.06.2024 18:24 comentários 0
Lula finge “espanto” com problema que ele mesmo criou
Foto: Reprodução/CBN

A entrevista de Lula à rádio CBN, nesta terça-feira, 18, teve momentos de suprema hipocrisia.

Um deles já foi destacado pelo Antagonista: à taxação das blusinhas, que traz as digitais do governo de cabo a rabo. Mas houve outro, um pouco mais difícil de perceber, mas de enorme significado.

Na tarde desta segunda, Lula se reuniu com os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento). Ele se disse “espantado” com um número que lhe foi apresentado pelos auxiliares: quase 600 bilhões de reais em subsídios econômicos minam atualmente a arrecadação do governo federal.

Admitir que o presidente petista possa se sentir surpreso com essa informação é ridículo. Ele e sua pupila Dilma Rousseff são os principais responsáveis por esse cenário.

Em 2017, durante o governo Michel Temer, o ministério da Fazenda fez um estudo sobre a evolução dos subsídios entre 2003 e 2016, ou seja, no período em que os petistas estiveram no poder.

Concluiu-se que os dois fizeram a conta dos subsídios subir continuamente em seus mandatos, tendo bancado conjuntamente, ao final, 3,5 bilhões em privilégios fiscais.

Um dos exemplos mais conhecidos dessa política, que esteve no noticiário até meados de maio, foi a desoneração da folha de pagamento para alguns setores da economia. Ela foi implementada por Dilma em 2011, para atender quatro grupos de empresas e com vigência limitada.

A própria Dilma expandiu o programa, que chegou a atender 56 setores da economia em 2014. Existe, além disso, um segredo de polichinelo sobre benesses com impostos: é diabolicamente difícil cancelá-las. A tentativa fazer isso com a desoneração da folha em 2024 não foi a primeira e fracassou mais uma vez.

Há quem implique com os subsídios dizendo que eles são uma “bolsa empresário”, uma ajuda para ricos. Não é tão simples assim. Se a política fosse bem realizada, poderia fortalecer a economia brasileira.

A Coreia do Sul, por exemplo, concedeu subsídios anuais de 2,5% do PIB para setores selecionados da economia, entre 2011 e 2017, e com isso conseguiu não apenas tornar esses negócios mais pujantes, mas também ampliar a própria arrecadação do governo. Todo mundo saiu ganhando.

No Brasil, pelo contrário, o gasto com subsídios subiu de 2% para 4,5% do PIB entre 2003 e 2015, mas a arrecadação do governo federal, no começo e no fim do período, se mantinha a mesma, de 22%. Isso é sinal de que a política foi mal desenhada. O governo instituiu de fato uma bolsa empresário: a renúncia fiscal acabou favorecendo a poucos.

O caso da desoneração da folha de pagamentos é mais uma vez exemplar. Vários estudos já demonstraram que ela não entregou o prometido. Um dos mais recentes, publicado no final do ano passado e que eu já comentei, mostrou que os setores beneficiados nem sequer ampliaram o número de vagas formais de trabalho na década entre 2012 e 2022, como se esperava que acontecesse: o número de carteiras assinadas reduziu-se em 13%.

Vejam bem, eu não fico feliz quando o Estado arranca dinheiro de quem quer que seja. Ainda mais um Estado ineficiente como o brasileiro.

Mas subsídios são políticas discriminatórias: elas selecionam um grupo específico para pagar menos tributos ou receber alguma ajuda. É preciso que tenham um retorno palpável.

Isso aconteceu ao longo dos anos caso do Bolsa Família, por exemplo, mas não com os subsídios. Eles aumentaram o buraco nas contas públicas brasileiras, em vez de enriquecer o país como um todo.

Os principais responsáveis pelas más escolhas e pela má implementação das políticas de renúncia fiscal no Brasil foram, de longe, Lula e Dilma.

O presidente não tem o direito de se dizer “espantado” com um problema que ele mesmo ajudou a criar. Precisa encontrar solução para ele. Mas sua arrogância e a mania de empurrar sempre para os outros a responsabilidade pelos desastres brasileiros não ajudam nisso.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
2

Jaguar se rende à cultura woke e é alvo de críticas

Visualizar notícia
3

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
4

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
5

Putin comenta lançamento de míssil e ameaça o Ocidente

Visualizar notícia
6

O papel dos indiciados em suposta tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
7

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
8

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
9

Crusoé: Pablo Marçal governador de São Paulo?

Visualizar notícia
10

Crusoé: Thomas Sowell está vivo, Elon

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Mandado contra Netanyahu não tem base, diz André Lajst

Visualizar notícia
2

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
3

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
4

PGR vai denunciar Jair Bolsonaro?

Visualizar notícia
5

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
6

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
7

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
8

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
9

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
10

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Lula
< Notícia Anterior

Eurocopa 2024: Portugal vence a República Tcheca de virada

18.06.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Beyoncé e Jay-Z fizeram história na música e no mercado imobiliário de Los Angeles

18.06.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Duda Teixeira Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.