Lula é o Nezinho do Jegue e vice-versa
Tal qual o personagem da novela 'O Bem-Amado', o petista muda de opinião de acordo com a situação e, às vezes, no espaço de uma respiração
A entrevista do presidente à radio CBN escancarou o jeito Lula de fazer política. Ora fala uma coisa e faz o contrário. Ora fala o contrário e, mesmo assim, a faz.
A conversa, de quase um hora de duração, deixou passar incoerências e inconsistências (para não dizer inverdades, ou fake news) de forma ímpar.
O petista por vezes desmentia a si mesmo na própria fala e, ato contínuo, desmentia a “desmentida”. Os mais antigos lembrarão do personagem Nezinho do Jegue, da novela O Bem-Amado, que em um momento aplaudia Odorico Paraguaçu, o icônico prefeito de Sucupira, e, no seguinte, o xingava fervorosamente.
Lapsos de memória?
No caso do personagem fictício, a mudança de opinião era impulsionada pelo consumo etílico. No caso do presidente, aparente lapsos de memória parecem explicar a dificuldade em fazer o discurso casar com a realidade.
Lula abre a conversa falando sobre responsabilidade fiscal. “Aprendi que não se deve gastar mais do que se ganha“, recordou-se dos ensinamentos de Dona Lindu, mãe do presidente. A memória, no entanto, pareceu faltar-lhe quando se trata de eventos mais recentes, como o pior déficit fiscal primário desde a pandemia, de cerca de 250 bilhões de reais, registrado no primeiro ano do governo do petista.
Déficit primário se refere, vejam só, a gastar mais do que se arrecada (descontadas as receitas e despesas financeiras). Mesmo assim, o presidente defendeu que revisará gastos, mas não os que considera investimentos. Sobraria então os tais benefícios fiscais ao empresariado brasileiro, tipo aqueles que o governo tentou limitar na MP (Medida Provisória) devolvida pelo Senado recentemente. “Se tiver alguém recebendo o que não é para receber, vai parar de receber“, garantiu Lula.
Taxação das blusinhas
Sobre a taxação das blusinhas, como ficou conhecida a cobrança de impostos sobre compras internacionais abaixo de 50 dólares, o petista também mudou de opinião do dia para a noite. Em março do ano passado, defendeu abertamente a medida. “Não podemos aceitar que as pessoas fiquem vendendo para cá coisas sem pagar imposto de renda“, dizia.
A discussão, à época, também produziu a infame explicação da primeira-dama, Janja da Silva. “A taxação é para as empresas e não para o consumidor“, publicou em seu perfil no X, antigo Twitter, a cliente dos sites chineses de acordo com Lula. De lá para cá, com a popularidade esfriando, o presidente mudou de ideia.
No mês passado, avisou que a “tendência” seria vetar a taxação, caso o Congresso Nacional a aprovasse. Na entrevista desta terça-feira, 18, chegou a dizer que tinha vetado a medida, coisa que nunca aconteceu.
Unidade?
Afirmou ainda que continua contra a taxação, mas que não vetaria a medida. “Estou fazendo isso pela unidade do Congreso e do governo e das pessoas que queriam“, explicou. “Pessoalmente, acho equivocado a gente taxar as pessoas humildes que ganham 50… que gastam 50 dólares”, completou.
(Ah, se o presidente pudesse vetar.)
E assim foi em outros temas como saidinha de presos, que agora é contrário, mas já foi favorável; criminalização do aborto, tema sobre o qual liberou a bancada governista; Banco Central independente que é contra, mas se os diretores indicados forem todos dele é a favor.
Sobre a reeleição ativou o modo Nezinho do Jegue e mudou de posição entre um respiro e outro. “Tem muita gente boa para ser candidato, não preciso ser candidato“, falou antes de emendar. “Mas se for para evitar que os trogloditas que governaram esse país voltem a governar, pode ficar certo que meu 80 anos virarão 40 e poderei ser candidato”.
Como diria Nezinho do Jegue, quando tentou convencer a população de Sucupira sobre a visita que teria recebido de São Pedro: “Será o impossível? Ninguém acredita“.
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