Lula e o “chega pra lá” da Vale
Se pudessem reverter a privatização da empresa, que o PT nunca aceitou, certamente o fariam. Mas por ora, como dizia Zagallo, terão que engolir
Na segunda-feira (26), em mais um de seus discursos inflamados – e intelectualmente mais falso que uma nota de três reais -, o presidente Lula chamou a privatização da Eletrobras, ocorrida durante o governo Jair Bolsonaro, de “crime de lesa-pátria”.
Bem, para quem assistiu – e de camarote! – ao maior assalto aos cofres públicos de um país em toda a história do ocidente democrático, especialmente ao caixa da maior empresa do Brasil, a Petrobras, no escândalo do petrolão, soou, no mínimo, irreal.
Primeiro porque a despeito das críticas ao modelo de governança e até mesmo ao valor da negociação que possam e mereçam ser feitas, o processo se deu de forma totalmente legal e no âmbito do mercado acionário brasileiro, e não nos porões de Brasília.
Gula por estatais
Segundo porque, pelo que se tem notícia, não há qualquer ação de ordem criminal em andamento, seja contra membros do governo anterior, que cuidaram de todo o processo de privatização, ou em desfavor de quaisquer adquirentes de ações.
Fiz uma leitura pormenorizada dos ditames de tal crime, e confesso que não encontrei absolutamente nada que justificasse a bravata da “alma mais honesta deff paíff”. Nem de ordem irônica ou mesmo figurativa. Viajou feio na maionese, isso sim.
Ocorre que Lula e sua curriola não admitem não deter controle “czarista” sobre companhias estatais, ou de capital misto. Eles querem mandar em tudo e abocanhar tudo, com as consequências perversas já tão conhecidas pela sociedade brasileira.
De todos os setores
A própria recente intervenção na Petrobras causou um prejuízo bilionário, conforme o último balanço trimestral da empresa (a despeito do preço atual recorde das ações, devido à alta do petróleo no mundo – e não à política intervencionista do governo federal).
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, vem se manifestando no sentido de interferência, e até mesmo de intervenção (o que é impossível), na Aneel, Agência Nacional de Energia Elétrica, por discordar da atuação da diretoria colegiada.
O presidente da República tenta, a todo instante e a qualquer custo, interferir no Banco Central independente. Sim. Não é uma empresa estatal, ou de capital misto, mas não deixa de ser um exemplo crasso do modo lulopetista de intervenção na economia.
Aqui não, violão
É significativo – e simbólico – portanto, o mais que bem-vindo “chega pra lá” que Lula, Silveira e companhia receberam da Vale, ou melhor, do conselho da empresa, que resistiu às pressões por Guido Mantega e nomeou Gustavo Pimenta seu novo presidente.
Não é segredo que Guidinho – como o chamava a inesquecível estoquista de vento e ex-presidente Dilma Rousseff – estava sendo enfiado goela abaixo, pelo governo, na presidência da companhia. Imaginem, pelo histórico, o tamanho do estrago.
Em março deste ano, um conselheiro da empresa – justamente o representante dos acionistas minoritários -, José Luciano Duarte Penido renunciou após denunciar interferência política no processo de sucessão da Vale.
Aprendam com Zagallo
Lula e o PT deveriam – mas não tenho qualquer esperança – aprender que lugar de politicagem, se muito, é na esfera das Casas legislativa e executiva. Uma pena, inclusive, que o judiciário tenha se tornado, também, um antro dessa politicagem.
Em 2019, após a tragédia de Brumadinho, a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, culpou as privações do governo Fernando Henrique pelo ocorrido. Sim. Fez proselitismo político sobre mais de 200 cadáveres.
À época, escrevi uma coluna a respeito e a deputada não gostou. Ela me processou e exigiu a retirada do texto do ar – isso após quase dois anos da publicação. Como o artigo já estava, obviamente, fora do ar, o processo foi resolvido na audiência de conciliação.
Foi mais uma prova do que essa turma pensa a respeito de estatais, iniciativa privada e gestão. Se pudessem reverter a privatização da Vale – coisa que o PT nunca aceitou -, certamente o fariam. Mas por ora, como dizia o grande Zagallo, terão apenas que engolir.
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