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Indicados de Lula ao BC querem mesmo segurar a inflação?

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Rodrigo Oliveira
5 minutos de leitura 14.05.2024 10:31 comentários
Análise

Indicados de Lula ao BC querem mesmo segurar a inflação?

Ata do Copom tenta resgatar perda de credibilidade dos indicados de Lula ao Banco Central no que diz respeito ao combate à pressão sobre os preços

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Rodrigo Oliveira
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Indicados de Lula ao BC querem mesmo segurar a inflação?
Foto: Pedro França/Agência Senado

Após muita antecipação, o Banco Central divulgou a Ata da reunião mais recente do Copom (Comitê de Política Monetária), que reduziu o ritmo de corte da taxa básica de juros Selic de 0,50 ponto percentual — como havia ocorrido nos seis encontros anteriores — para 0,25 p.p. agora. Com isso, a Selic passou de 10,75% ao ano para 10,50% ao ano.

A polêmica ficou em torno da votação dividida do colegiado, que definiu a nova política monetária com 5 votos a favor e 4 contrários. Não seria nada além de uma demonstração de que ainda não há consenso entre os membros do grupo, não fosse a coincidência de que todos os votos por uma estratégia mais relaxada para os juros foram de indicado do presidente Lula ao Banco Central.

O petista tem sido crítico de primeira hora da política de juros da autoridade monetária, dirigida por “aquele cidadão” — como Lula se refere ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Além da discordância sobres os rumos da taxa básica, Lula também aponta o fato de Campos Neto ser um indicado do ex-presidente Bolsonaro ao cargo.

Obediência

Desse ponto de vista, fica clara qual a expectativa do mandatário para os indicados dele à autarquia: obediência aos interesses do Executivo, mesmo que isso resulte em um pouco mais de inflação. Na reunião passada, os quatro indicados pelo petista (Gabriel Galípolo, na foto, Aílton Aquino, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira) tiveram a chance de demonstrar lealdade ao presidente da República.

De acordo com a Ata da reunião, todos esses diretores concordaram sobre a necessidade de um postura mais cautelosa para o juros. ” O comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada“, diz o texto. “Ao fim, concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária mais contracionista e mais cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária“, prossegue o documento.

Note que absolutamente todos os membros do colegiado concordam que a postura deveria ser “mais contracionista e cautelosa“. Ora, nada muda se tudo se mantém inalterado, portanto, alguma mudança haveria de ser adotada (pensariam os mais incautos). Mas isso, como se sabe, não ocorreu.

Acenos

A resposta óbvia do mercado foi precificar um Banco Central menos comprometido com o combate à inflação, o que acontece, com o aumento das taxas de juros futuras (aquelas, como o nome diz, esperadas para os próximos anos). O raciocínio é que o preço de juros mais baixos hoje é juros mais altos amanhã, em função de uma antecipada alta de inflação.

Evitar essa resposta foi a principal das missões da Ata do Copom divulgada nesta terça-feira, 14. A explicação utilizada para o que pode ser visto como um aceno à Lula (que ainda não definiu quem substituirá o Roberto Campos Neto à frente do BC a partir do ano que vem) foi “seguir o guidance“.

O guidance é a indicação que a autoridade monetária dá para o próximo movimento. Na reunião de março, o comunicado do Copom e a Ata repetiram a frase “os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião” – que indicava um novo corte, em maio, de 0,50 ponto percentual.

E as incertezas?

Para o grupo indicado por Lula, o mais importante seria cumprir a indicação anterior, mesmo concordando que de lá para cá a situação se deteriorou, com mais incerteza sobre os juros nos Estados Unidos, resiliência do mercado de trabalho no Brasil, mudanças nas metas fiscais e medidas de inflação acima da meta pesando sobre as expectativas.

A extração da tendência subjacente da dinâmica inflacionária em um ambiente incerto é difícil, mas não deveria, de forma alguma, ser confundida com leniência com relação aos indicadores divulgados no período, em particular as expectativas de inflação“. Assim explicaram os quatro diretores dissidentes na Ata. Outro argumento era de que não cumprir o guidance causaria perda maior de credibilidade do Banco Central de que reforçar o compromisso de combate à inflação com redução no ritmo de cortes.

A explicação parece ter funcionado, e o mercado de renda fixa respondeu no início das negociações com queda nas taxas futuras, principalmente, nos vencimento mais longos — que pode ser visto como um indicativo de maior confiança nos próximos anos do BC.

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Rodrigo Oliveira

Jornalista pela UnB (Universidade de Brasília), pós-graduado em Marketing &amp; Mídias Digitais pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e especializado em finanças e negócios. É Analista de Valores Mobiliários (CNPI) certificado pela Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) com quatro anos de experiência profissional no mercado financeiro.

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