Identitarismo desvia recursos e prejudica foco na saúde pública
É revoltante ver recursos preciosos sendo desviados para campanhas ideológicas que fazem muito barulho, mas oferecem pouco impacto concreto
A discussão sobre a cultura woke é marcada por argumentos de um lado e berros de outro. Não acredito que vá ser diferente neste caso, mas não custa lembrar, evidentemente, que qualquer pessoa deve ser contra o racismo e todos concordamos com isso.
O problema é quando uma pauta específica de extrema-esquerda sequestra e aparelha bandeiras meritórias, desvia atenção e recursos e inverte prioridades que, no limite, acabam prejudicando quem alegadamente dizem querer proteger.
A tática não é novidade. O economista Ludwig von Mises afirmou, há quase cem anos, que “Marx e Engels jamais buscaram refutar oponentes com argumentos. Insultavam, ridicularizavam, menosprezavam, caluniavam e difamavam. Suas polêmicas nunca se dirigiam aos argumentos, mas sempre às pessoas.” Mesmo sabendo dos riscos e custos, é importante seguir e apontar os problemas sem medo de patrulhas.
É difícil não se indignar ao observar o colapso da saúde pública em um país como o Brasil, onde faltam leitos, medicamentos, e médicos em áreas remotas. Ainda mais revoltante é ver recursos preciosos sendo desviados para campanhas ideológicas que fazem muito barulho, mas oferecem pouco impacto concreto.
Campanham como “Novembro Negro: Saúde Sem Racismo”, promovidas pelo Ministério da Saúde petista, exemplificam como o farisaísmo e as pautas simbólicas estão sendo usadas para sinalização de virtude e controle ideológico do que para enfrentar os desafios estruturais do SUS.
O problema evidentemente não é combater o racismo, mas como isso tem sido feito. Martin Luther King Jr. alertava: “Não podemos nos limitar a falar de justiça; temos que agir com justiça.” Em vez de ações concretas que beneficiem a população mais vulnerável, o governo adota discursos abstratos e centraliza recursos em pautas identitárias, inverte prioridades e foca em ações que não resolvem os problemas reais.
A estratégia do atual governo de incorporar pautas identitárias não se limita ao Ministério da Saúde. Em diversos ministérios, surgem campanhas que prometem combater injustiças sociais, mas frequentemente se revelam ineficazes na prática.
Na Saúde, mudanças como a reclassificação de gênero para procedimentos médicos mostram o tamanho do problema. Na Educação, projetos focados em “currículos decoloniais” e mudanças no ENEM têm gerado mais debates políticos do que avanços educacionais.
No caso da alocação de recursos e foco na saúde, a situação é particularmente grave. Apesar de todos os discursos, epidemias como a dengue devastam comunidades, com mais de 4 mil mortes confirmadas em 2024. O SUS opera com 93% da população avaliando seus serviços como ruins ou regulares. A fila de espera por consultas, cirurgias e exames é interminável, com 29% dos pacientes aguardando mais de seis meses.
As prioridades reais de um país pobre
No Brasil, os recursos públicos deveriam ser usados para resolver questões urgentes e realmente necessárias. Entre elas, a ampliação de leitos hospitalares, que têm sido reduzidos de forma alarmante; o combate a epidemias como dengue e malária, que continuam a matar milhares; e a contratação e distribuição de médicos em áreas carentes e regiões remotas.
A população mais vulnerável sofre desproporcionalmente com essas deficiências. Para milhões de brasileiros, o desafio diário é conseguir acesso ao básico: remédios, diagnósticos, e atendimento médico. Enquanto isso, campanhas baseadas em agendas importadas da esquerda universitátia americana ocupam espaço e consomem recursos que poderiam ser alocados para combater essas carências.
Como apontou o professor Paulo Cruz em entrevista a O Antagonista, muitas dessas iniciativas não atendem aos verdadeiros anseios das pessoas mais pobres. “Elas não querem discursos; querem prosperar, preservar sua dignidade e valores, e ter liberdade para viver e cuidar de suas famílias”, explicou. No caso da saúde, isso significa construir hospitais, garantir saneamento básico e combater filas.
Os líderes históricos do movimento negro sempre defenderam ações concretas e práticas como forma de alcançar a igualdade. W. E. B. Du Bois enfatizava que o progresso real viria de garantir acesso à educação e oportunidades. “A verdadeira emancipação começa onde termina a ignorância”, dizia. Booker T. Washington, por sua vez, defendia que avanços duradouros dependem do trabalho duro e da criação de condições dignas para todas as pessoas: “Ninguém pode ser verdadeiramente livre enquanto depende de outros para sua sobrevivência.”
Martin Luther King Jr., em seu discurso “Eu Tenho um Sonho”, ressaltava que a luta por justiça deve ser acompanhada de ações que tragam mudanças concretas. Ele não se limitava a exigir igualdade; cobrava políticas que realmente alterassem as condições de vida dos mais pobres.
O custo do desvio ideológico
O uso ideológico do racismo e de pautas identitárias para controle institucional e político prejudica mais do que ajuda.
Ele cria divisões artificiais, perpetua problemas reais e impede que políticas públicas se concentrem no que realmente importa: resolver os problemas estruturais que afetam a vida de milhões de brasileiros.
Combater o racismo na saúde pública não é pintar paredes de hospitais com slogans ideológicos ou organizar palestras que dão dinheiro e votos para apaniguados. É investir em acesso universal, infraestrutura de qualidade, e atendimento médico eficiente.
No Brasil de hoje, onde tantas vidas dependem de ações diretas, não há espaço para abstrações ideológicas. O combate ao racismo deve ser um compromisso com a dignidade, a igualdade de oportunidades e a melhoria concreta das condições de vida de todos.
É hora de resgatar o SUS de discursos vazios e devolver à sua missão original: salvar vidas e garantir saúde para todos que precisam.
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