‘Gilmarpalooza’: as instituições ou os interesses venceram?
Gilmar Mendes e STF se fazem de sonsos sobre participação de 12 empresas com processos na Corte
Em maio, no Foro Transformaciones, em Madri, Gilmar Mendes disse que “as instituições venceram” no Brasil, graças a medidas adotadas desde 2019 pelo Supremo Tribunal Federal, como o inquérito das fake news, no âmbito do qual seu colega Alexandre de Moraes censurou Crusoé por revelar o codinome do também ministro Dias Toffoli na Odebrecht.
Em junho, o Gilmarpalooza (foto), forum organizado por Gilmar em Lisboa, reúne, de acordo com levantamento do Estadão, sócios, diretores e representantes de 12 empresas com processos no STF: J&F, BTG, Aegea Saneamento, Prudential, Google, Grupo Votorantim, Eletrobras, Bradesco, Magazine Luiza, Instituto Brasileiro de Mineração, Banco Safra e Cosan.
“As pessoas vêm”, resumiu o ministro anfitrião após participar da mesa de abertura, reagindo ao que chamou de “uma certa incompreensão” em relação ao evento, que “se consolidou”.
Na verdade, o que existe é uma perfeita compreensão dos interesses em jogo.
Os processos
André Esteves, o banqueiro blindado por Gilmar na Lava Jato e moderador de painel junto com seu protetor, levou outros cinco palestrantes do BTG para o Gilmarpalooza, enquanto o banco responde a três processos na Suprema Corte.
O grupo J&F foi representado em mesa sobre “responsabilidade social” por Luizinho Magalhães, diretor pedagógico do Instituto J&F, entidade de “investimento social” dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que confessaram a prática de suborno, mas tiveram multas bilionárias aliviadas por Dias Toffoli, ministro palestrante do Gilmarpalooza. Joesley marcou presença no primeiro dia do evento e Wesley esteve no coquetel de Flávio Rocha, ao qual Gilmar também compareceu. “A Suprema Corte já tem questionamento sobre a disputa bilionária entre a J&F e a Paper Excellence pelo controle da Eldorado Celulose”, registra o jornal.
Já a Aegea Saneamento “ganhou quatro mesas” no forum de Gilmar, enquanto tem duas ações pendentes no STF sobre esgoto, “ambas sob relatoria de Flávio Dino”. “O advogado da Aegea é o ex-ministro do STF Ayres Britto.”
Conflito de interesse
“Isso é considerado conflito de interesse em qualquer país civilizado no mundo. Incluindo Portugal, onde esse evento também já está ficando conhecido por essas relações impróprias entre autoridades e empresários, inclusive muitos investigados por corrupção”, disse Bruno Brandão, da Transparência Internacional no Brasil, ao Estadão.
Procurada pelo jornal, a Suprema Corte afirmou não haver conflito de interesses, alegando que os ministros conversam com vários setores da sociedade — como se todos os brasileiros com processos no Judiciário tivessem as mesmas oportunidades que os empresários amigos.
Na verdade, o acesso privilegiado aos juízes das próprias causas confirma que conflito não há, porque os interesses já venceram no Brasil.
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