Esqueça Prates, preste atenção na FUP
Entidade sindical se movimenta para controlar a gestão da Petrobras em aliança com o PT. Nome do presidente é detalhe
Um amigo chamou minha atenção para a pouca discussão em torno do papel que Federação Única dos Petroleiros (FUP) vem assumindo nos destinos da Petrobras.
É verdade. Fala-se muito sobre a fritura de Jean Paul Prates, presidente (momentâneo) da estatal, e do seu embate com o ambicioso ministro das Minas e Energia Alexandre Silveira (PSD-MG). Enquanto a novela ocupa o horário nobre, a FUP opera nos bastidores.
Deyvid Bacelar, coordenador-geral da entidade, se reuniu com Lula neste sábado (6). Foi um dos sindicalistas que o presidente recebeu na Granja do Torto para discutir “questões estratégicas”.
Velhos fracassos
No fim da reunião, a imprensa quis saber se a mudança no comando da Petrobras foi debatida. A resposta foi negativa.
Talvez fosse melhor se tivessem gasto o tempo apenas com esse assunto. Em vez disso, parece que falaram sobre coisa bem pior: retomada dos investimentos em refino e também na indústria naval – o velho plano fracassado de construir navios, sondas e plataformas no Brasil, com altíssimo emprego de “conteúdo nacional”. Lula e a FUP compartilham sonhos que já causaram ruína.
E sobre o contrato da Petrobras com a Unigel, que segundo os técnicos do TCU não faz sentido nem empresarial, nem lógico, nem econômico? Aposto que essa questão – possível primeiro escândalo da nova era petista à frente da nossa gigante estatal – pairou no ambiente. Se Lula e Bacelar a abordaram, não deixaram vazar.
Prates
Acredito que a sobrevivência de Prates não fez mesmo parte da pauta. Na última quinta-feira, 4, a FUP soltou nota pública para defendê-lo do “espancamento público” que estaria sofrendo. Ao mesmo tempo, deixou claro que só cabe a Lula decidir sobre a substituição do CEO.
A nota significa que os sindicalistas soltaram a mão de Prates. Querem alguém com seu perfil no comando da estatal – mas não ele, necessariamente.
Não vão chorar uma lágrima se o atual presidente for sacrificado, contanto que isso não signifique ter alguém sem sintonia com a FUP ou imune às pressões da entidade no leme da Petrobras.
Alguém indicado por Silveira e com laços com o Centrão, por exemplo, seria um pesadelo. Um petista como Aloísio Mercadante, facilmente cooptável (como Prates parece ter sido), sem dúvida seria bem visto.
Campanhas contra inimigos
A FUP não brinca em serviço. Faz campanha feroz contra conselheiros e funcionários que não compartilham da visão dos sindicatos sobre a Petrobras. Trabalham para expurgar da empresa qualquer “dissidência”. Executivos que põem em dúvida dogmas do petismo ou atuaram em processos de venda de ativos carregam um alvo nas costas.
No final de 2023, uma daquelas publicações de esquerda que jamais questionam qualquer decisão tomada por Lula, por mais escabrosa que seja, publicou um artigo com o título “Quintas-colunas”, apontando alguns dos executivos que a FUP gostaria de destruir.
Por exemplo: Daniel Pedroso, gerente executivo de energia renovável que trabalhou na privatização da refinaria Landulpho Alves (BA), durante o governo Bolsonaro. Deyvid Bacelar já pediu sua cabeça em público. “Já deveria estar fora”, disse ele em uma rede social.
Por causa dessa postagem, o conselho da Petrobras pediu a abertura de um processo disciplinar contra o sindicalista. O procedimento foi instaurado no início de março. A FUP revidou logo em seguida, anunciando que pediria a abertura de uma investigação contra altos funcionários da administração da companhia.
Conteúdo nacional
Outra técnica atacada pela reportagem do veículo de esquerda foi Maiza Pimenta Goulart. Seu pecado? Dizer a verdade.
Em 2021, quando atuava na Gerência de Projetos de Desenvolvimento da Produção, ela publicou um artigo criticando a política de conteúdo nacional obrigatório adotada pelo PT: “No passado recente, a Petrobras praticou a estratégia de obrigar a construção das plataformas integralmente no Brasil. O resultado foi um rastro de desemprego, falências, dívidas e ações judiciais”.
Ora, qual foi a empresa símbolo dessa estratégia de “desenvolvimento”? A Sete Brasil. E o que aconteceu com ela? Pediu falência no final de fevereiro, o que pode resultar em um prejuízo de 17 bilhões de reais para estaleiros brasileiros, o Fundo de Garantia para a Construção Naval (FGCN) e a própria Petrobras.
Apagamento da história
A FUP é parceira do PT na estratégia de apagamento da história revelada pela Petrobras. Propagandeia a toda hora que a operação anticorrupção destruiu milhares de empregos e afundou a economia brasileira, apoiando-se em números produzidos por colegas do sindicalismo. Com base nessa lógica enviesada, desdenhou da devolução de dinheiro para a Petrobras obtido pela Lava Jato, sugerindo que os montantes bilionários eram ninharia.
Também é no mínimo curioso o posicionamento da FUP em relação à Unigel, mencionada no começo deste artigo. Desde o ano passado, a entidade vinha reclamando do arrendamento de duas fábricas de fertilizantes da Petrobras ao grupo empresarial.
Em julho, posicionou-se contra qualquer auxílio que a estatal pudesse dar à empresa privada, que apresentava sinais financeiros preocupantes. Parecia entender – com razão – que o negócio só era bom para a Unigel. Passou a pressionar para que as plantas fossem retomadas e para que a Petrobras voltasse a atuar diretamente no mercado de fertilizantes, do qual se retirou há tempos.
Poupando o PT
Pois bem: no fim do ano passado, a Petrobras, controlada pelo PT, resolveu ajudar a Unigel. Sabe-se que o dono do grupo tem velhos laços com petistas graúdos da Bahia, como os ex-governadores Jacques Wagner e Rui Costa, atual ministro da Casa Civil. Na semana passada, o relatório do TCU mostrou que o contrato “sem sentido” pode causar um prejuízo de quase meio bilhão de reais à petrolífera (assista ao vídeo abaixo).
Deyvid Bacelar, sempre tão vocal, ainda não tocou no assunto.
É claro que os funcionários da Petrobras têm direito a se fazer ouvir e a influir nos rumos estratégicos da companhia. A FUP, no entanto, quer mais do que isso. Luta para dominar a gestão da companhia em aliança com o PT, ao qual poupa de críticas pelos escândalos do passado e pelos que parecem surgir no horizonte. Faz de tudo para retomar políticas que fracassaram e causaram mal à companhia, porque acredita controlar a verdade e jamais cometer erros. Nessa campanha, não hesita em transformar funcionários da própria Petrobras em alvos de bombardeio.
A novela de Jean Paul Prates chama atenção. Mas a FUP é um protagonista muito mais forte – e perigoso.
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