Erro do bolsonarismo é fazer Lula parecer virtuoso
Entenda como Eduardo Bolsonaro ajudou o governo do PT na crise com Donald Trump
Mesmo depois de ganhar do próprio Lula o apelido de “meu camisa 10”, Eduardo Bolsonaro continua colocando o petista na cara do gol.
As tentativas do deputado federal EAD de sabotar encontros diplomáticos entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos não só fracassaram, como também deram a Lula uma nova oportunidade de posar de adulto na sala, em defesa dos interesses nacionais, durante e depois de sua reunião com o presidente americano, Donald Trump, na Malásia.
“O que não pode é acontecer o que aconteceu com o Brasil. Com base em informações equivocadas, tomaram uma decisão de taxar o Brasil em 50%. Ele sabe disso porque eu tive a oportunidade de dizer. Agora não tem mais intermediário. Agora é o presidente Lula com o presidente Trump. Gostemos ou não gostemos um do outro, nós dois temos que assumir a responsabilidade como chefe de Estado e saber que as nossas ações têm que trazer benefício para os povos que nos elegeu (sic)”, disse o petista, atacando apenas a língua portuguesa.
Eduardo tentou, então, transformar sua derrota parcial em “derrota” de Lula. Segundo o terceiro filho de Jair Bolsonaro, o “regime de exceção que há poucos meses atrás, [sic] agia sem prestar contas a ninguém”, foi “publicamente humilhado”.
“Foto com Trump seria vitória se esse fosse um governo alinhado à direita. No caso do Lula, é o símbolo da sua derrota e pequenez, tendo que se submeter a [sic] força inequívoca do Presidente Trump, a quem Lula odeia e chamava de ‘nova cara do nazi-fascismo’”, escreveu Eduardo, sem crase.
Essa redução da diplomacia internacional a uma mera disputa ideológica de rede social, no entanto, só mostra a “pequenez” do deputado federal EAD. É como se o mundo fosse dividido entre esquerda e direita, e todo presidente que tivesse de negociar com o lado oposto fosse um submisso, um perdedor, a despeito da necessidade e da produtividade dos países envolvidos.
Historicamente, Lula e PT podem e merecem ser criticados por terem adotado justamente essa postura: a que tornou o Brasil um “anão diplomático” aliado e até financiador de ditaduras de esquerda, como as de Cuba e Venezuela.
Uma direita adulta, em vez de emular a conduta esquerdista com sinal trocado, colocaria os interesses nacionais acima de divergências e alinhamentos ideológicos, defendendo os acertos mais vantajosos ao Brasil, sem perder de vista as questões humanas em relações com outros países.
Eduardo, porém, entrega de bandeja a Lula a chance de fingir que atua dessa maneira virtuosa e de estabelecer ainda um contraste redentor entre ela e a alternativa aloprada do bolsonarismo, esse segmento radical do Centrão que insiste em manchar o campo político da direita.
“Seria o mesmo que dar vitória ao Bolsonaro por ele ser obrigado a implorar por reunião e ter que tirar foto com Maduro, e ainda sendo obrigado a prestar satisfação dos seus atos e obrigado a falar do seu rival ex-presidente. Já imaginou isso?”, exemplificou o deputado federal EAD.
Eduardo é ruim de argumento e de exemplo. Não “seria o mesmo”, porque os Estados Unidos não são uma ditadura como a Venezuela, e esta não tem o mesmo peso dos EUA na balança comercial: o país de Maduro representou 0,4% do total das exportações do Brasil em 2024, totalizando US$ 1,2 bilhão, enquanto o país de Trump, segundo maior parceiro da economia nacional, atrás apenas da China, representou 12%, com as exportações brasileiras atingindo US$ 40,92 bilhões.
É muito mais importante para o Brasil, portanto, negociar com o regime democrático americano que com a ditadura venezuelana, tanto do ponto de vista econômico quanto dos valores democráticos e do respeito aos direitos humanos. Seria um vexame para Bolsonaro se submeter ao ditador Nicolás Maduro, mas não é vexame algum para qualquer presidente brasileiro negociar com qualquer presidente dos Estados Unidos.
Vexaminoso é que tanto Lula quanto Jair Bolsonaro tenham adulado o ditador russo Vladimir Putin, relativizando suas responsabilidades por massacres perpetrados contra a população ucraniana, para garantir a importação de fertilizantes e óleo diesel. Já imaginou isso? Pois é, aconteceu.
O camisa 10 do Lula ainda afirmou que “precisamos aprender [sic] diferenciar narrativa de realidade, jornalismo de assessoria”, como se não fosse ele, Eduardo, o maior assessor do lulismo no momento e como se não tivesse ele próprio recomendado em agosto, para “quem quiser se informar”, a missão de “assistir diariamente” a seus dois maiores porta-vozes na internet.
O velho truque dos propagandistas do bolsonarismo é colocar no mesmo balaio da ala lulista da imprensa os “isentões” que apontaram na raiz as ajudas bolsonaristas a Lula, incluindo as sabotagens da Lava Jato e da CPI da Lava Toga por pavor de prisão por rachadinhas. Mas cada vez menos gente cai nesse truque, porque os fatos são ainda mais teimosos que a família Bolsonaro.
Até a oposição política ao PT já entendeu quais foram as “conquistas” de Eduardo nos EUA:
- Lula, que estava nas cordas, voltou a subir nas pesquisas, com discurso de defesa da soberania, contrapondo-se à celebração do tarifaço feita por Eduardo e à sua tentativa de utilizar essa e outras medidas impostas pelo governo americano para pressionar o Congresso e o STF do Brasil a aliviarem o pai;
- Jair Bolsonaro perdeu a liberdade mais cedo, ficando em prisão preventiva domiciliar em decisão tomada por Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito aberto para investigar Eduardo por coação no curso do processo;
- Com a apreensão do celular de Jair Bolsonaro neste inquérito, foi encontrada uma minuta de pedido de asilo político na Argentina, usada para reforçar, pelo risco de fuga, a justificativa da prisão preventiva domiciliar;
- Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, sem qualquer recuo de Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia em razão da aplicação de Lei Magnitsky contra o relator e das perdas de visto de 8 ministros do STF no total e familiares;
- Lula pretende indicar ao STF um ministro ainda mais camarada e jovem para a vaga de Luis Roberto Barroso, que, tendo maior ligação com os EUA, onde costuma dar palestras e onde trabalhava seu filho, aposentou-se para tentar reaver o visto de sua família;
- A oposição ao petista ficou ainda mais dividida e embaraçada diante dos ataques de Eduardo a todos os potenciais candidatos de 2026.
Claro que Lula tem o dom de se desgastar sozinho dizendo barbaridades como a de que “os traficantes são vítimas dos usuários também”. Mas, nessas horas, seus propagandistas também podem contar com Eduardo para devolver a bola tomada e ampliar novamente o placar.
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Comentários (1)
Eliane ☆
27.10.2025 22:31Torcendo para que Lula continue soltando suas "pérolas ". Ainda tenho fé de que vamos derrotar Lula ou qualquer "poste". E que o deputado EAD pare de sabotar o Brasil. Um camisa 10 que todo adversário sonha; fazendo gol contra.