Em NY, polarização “light”, democratas em queda e luz no fim do túnel
Via de regra, Brasil e ocidente “copiam” os Estados Unidos. Com o passar dos anos, o que ocorre nos EUA acaba influenciando as demais democracias
New York City (NYC), ou simplesmente Nova York, como é conhecida pelos brasileiros, foi fundada por uma colônia de imigrantes holandeses, em 1624, e batizada de Nova Amsterdam. Mais tarde, conquistada pelos ingleses em 1664, foi rebatizada de New York, em homenagem ao Duque de York da época, hoje o enroscado príncipe Andrew.
A megalópole mais cosmopolita da Terra é um emaranhado de ruas, avenidas, parques, rios, carros, arranha-céus e gente – muita gente! – distribuído por cinco grandes distritos, ou boroughs (Bronx, Brooklyn, Staten Island, Queens e Manhattan), sendo a “ilha”, cercada pelos rios Hudson e East, o mais famoso desses distritos (espécie de subprefeituras).
Com toda a diversidade étnica, correria desenfreada pelo ganha-pão, ou “ganha-milhão”, e mesmo o “state of mind” nova iorquino, a polarização política, hoje, faz parte, senão dos estratos mais pobres da sociedade local, ao menos da classe média (inclusive a média-baixa, de imigrantes legalizados) e, principalmente, dos ricos e poderosos.
Democrata x Republicano
Estado e cidade tradicionalmente democratas – a última vez em que um republicano venceu foi em 1984, com a reeleição do popularíssimo Ronald Reagan – assistiram a uma vertiginosa reação dos “vermelhos”, na eleição de Donald Trump em novembro passado. O presidente-eleito obteve 44% dos votos e Kamala Harris (Democrata), 56%
Nas eleições anteriores que disputou, Trump, nascido em NYC há 78 anos e um mega empresário de sucesso local, hoje com negócios bilionários por todo o mundo – ainda que cercados de trambiques, suspeitas e processos judiciais cíveis e criminais – obteve 37% dos votos em 2020 e 36% em 2016, ou seja, um salto de quase 20% de lá para cá.
A prefeitura da cidade é ocupada pelo democrata Eric Adams, eleito em 2022, um policial aposentado que já foi senador por New York. O governo do estado também é democrata, chefiado por Kathy Hochul, a primeira mulher a ocupar o Executivo estadual. Toda essa força política, porém, parece e pode estar em franco declínio, preocupando muito os democratas locais.
Agendas identitárias e assistencialistas
A causa já é conhecida por todos, e é nacional – senão mundial. Discursos e políticas públicas ideologizadas e produzidas para a utopia do mundo perfeito, não apenas já não seduzem tantos eleitores como, sobretudo, causam rejeição em muitos – os que pagam a conta no fim do dia e se sentem pressionados pela agenda do politicamente correto.
Em conversas com porteiros de edifícios comerciais populares, e outros, de alto luxo, ficou claro que em uma mesma categoria de trabalhadores – ainda que de mercados opostos – o sentimento é comum: “A gente trabalha para pagar as facilidades de quem não quer dar duro”. Dos seis com quem falei, quatro votaram – e em Trump – e dois, não (o voto não é obrigatório nos EUA).
Já no meio acadêmico, encontrei muita divisão. Professores (também quatro) votaram em Kamala, mas não pelas propostas democratas, e sim por rejeição a Trump. Todos, contudo, concordam que as políticas públicas precisam mudar e que os benefícios a imigrantes, principalmente os ilegais, são exagerados, mas são a favor de programas assistenciais para os mais pobres.
Luz no fim do túnel
Com os jovens (estudantes) com quem falei, o radicalismo impera. Os que odeiam Trump – e não necessariamente são democratas – não entendem muito de questões políticas e de administração pública. Apenas rejeitam o “bufão alaranjado”. Já os eleitores dele (a minoria dentre meus “entrevistados”) orgulham-se em declarar-se republicanos.
Um fato curioso, contudo, em meio à polarização (civilizada) de NYC, é a comum e generalizada sensação de “políticos e política piores”. Digo isso porque, no Brasil, a oposição ao lulopetismo enxerga todos os males apenas em um lado, e a salvação, em outro. Os nova iorquinos com quem falei consideram “todos os lados” ruins – atenção: não há, aqui, qualquer valor estatístico. São bate-papos aleatórios.
Via de regra, Brasil e ocidente “copiam” os Estados Unidos. Com o passar dos anos, o que ocorre nos EUA acaba influenciando as demais democracias. Neste sentido, fiquei animado. Quem sabe, daqui a algumas eleições, o eleitor brasileiro entenda que não há lado perfeito nem muito menos salvadores da pátria, e que quaisquer políticos e partidos precisam ser vigiados e cobrados, diuturna e implacavelmente, por todos nós?
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