Debatendo e rebatendo as bravatas de Nikolas sobre PIX
A indignação dele é seletiva. Como canta a banda (também) mineira Skank, “é uma mosca sem asas, que não ultrapassa as janelas de nossas casas”
Tenho lado, sim. O da verdade e da realidade dos fatos. A mim, pouco importa a fonte da mentira, da desinformação ou da manipulação. Se do governo, do judiciário, do Congresso, da imprensa… Analiso e critico os fatos, positivamente ou negativamente, sob minha ótica e meus valores. Isso não significa, jamais, que eu esteja certo ou seja o dono da verdade quando emito alguma opinião.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) é um craque da comunicação digital de massa. Sabe – talvez como ninguém no Brasil – ser ouvido e levado em consideração. Isso é fato! Como é fato ser o deputado federal mais votado do país. Porém, de igual sorte, sempre a meu sentir, é craque em tornar o ambiente político ainda pior, bem como, jamais, sendo parlamentar municipal ou federal, produziu algo verdadeiramente útil para o Brasil.
Isto posto, não me surpreendeu seu vídeo sobre o PIX, que ultrapassou 200 milhões de visualizações, e sua eficácia política. Surpreendente, isso sim, foi o número de visualizações da bravata. Como surpreendente foi o recuo do governo. Acovardado politicamente, e não à toa, pois tem um enorme telhado de vidro, Lula sentiu o golpe, enfiou a viola no saco e saiu de fininho. No jargão do futebol, amarelou.
Muito barulho por nada
A medida da Receita Federal, de monitorar as transações via PIX, era regular e deveria ser ordinária, corriqueira, “no big deal” como falam os americanos. Mas “quem faz a fama, deita na cama”, e o lulopetismo merece ser tratado assim. Como? Bem, não confiável, incapaz, ineficaz, perdulário, corrupto, invasivo, arrecadador, confiscatório, trapalhão. “Acabou, Jéssica?”. Acho que por ora, sim.
Por isso, a decisão de voltar atrás e revogar a “fiscalização” das operações via PIX acima de 5 mil reais, para pessoas físicas, e 15 mil reais, para pessoas jurídicas, mostrou a cara e a coragem de quem governa o país. Ainda que seja normal a qualquer órgão arrecadador de impostos, em qualquer nação do mundo, fiscalizar operações financeiras, sob o PT tudo se torna nebuloso.
O PIX, como reconheceu o próprio Nikolas, não seria tributado, mas… e no futuro? O moço tratou de levantar a dúvida e pregar na medida a pecha de primeira parte de um plano maquiavélico de arrecadação de impostos de pessoas simples. Ato contínuo, como se uma coisa tivesse algo a ver com a outra, resvalou, ainda que veladamente, na aceitação da sonegação, justificada pelo mau uso – eu diria péssimo! – da nossa grana por parte do governo Lula.
Política com p minúsculo
Ora, o que um político responsável e interessado no desenvolvimento do país precisa combater, é o mau uso do dinheiro, e não a fiscalização sobre quem supostamente não paga impostos, do menor ao maior contribuinte, aliás. Nikolas começa o vídeo já com uma falsa contraposição: ”o governo quer saber como você ganha cinco mil e paga dez mil de cartão, mas não quer saber como uma pessoa que ganha salário mínimo faz para sobreviver pagando luz, educação, moradia, compra do mês e gás”.
Obviamente, nenhuma das despesas citadas foi escolhida por acaso. Obviamente, também, a informação não é real. A Receita, ou o governo, não quer saber disso (ganha cinco e paga dez), pois já sabe. Tampouco é verdade que o governo não quer saber como “quem ganha salário mínimo vive“, já que não é sua função. Sim. Eu sei. O jogo de palavras faz sentido, mas não deixa de ser mera manipulação, que é o que eu combato. Repito: não me importa o mensageiro, mas, sim, a mensagem.
O mineirin astuto apontou, e justamente, as contradições – que eu chamo de mentiras – do governo Lula sobre “blusinhas”, sigilo de gastos, isenção de IR e até “picanha”. Isso tudo para colocar em xeque a não taxação do PIX. Porém, percebam, isso nada mais é do que dizer: “vão taxar, sim! Só bobo acha que não”. Por acaso alguém é louco de acreditar em governo? Pronto! Com o jogo de palavras, a população passou a acreditar, ou melhor, a ter certeza de que amanhã haverá imposto sobre o PIX.
Bravatas a esmo
“Quem será mais afetado com essa medida será o trabalhador informal. Feirantes, o seu João, que vende picolé, motorista de Uber…”. Não é verdade! Tal medida não afetaria mais ou menos ninguém em especial. Até porque, nestes casos citados, PIX acima de 5 mil reais deve ser algo raro. Daí, parte para mais confusão e fala sobre a diferença entre um motorista de aplicativo faturar 5 mil reais e lucrar 5 mil reais.
O que isso tem a ver – ainda que seja fato – com o monitoramento, se o próprio deputado afirmou que não haverá tributação? É o lema do Abelardo Barbosa (ok, Chacrinha): “eu não vim para explicar, eu vim para confundir”. E conseguiu. Com louvor!
“Trabalhadores que vivem no aperto terão suas movimentações vigiadas como se fossem grandes sonegadores”. Na boa, com o perdão pela expressão, é muita sacanagem intelectual. Imagino as pessoas mais simples, realmente se sentindo vigiadas, como se de fato um auditor da Receita estivesse de olho na “vaquinha do churrasco”, imaginando ali um grupo de mega sonegadores.
Olho por olho
Em seguida, citando números do MEI, afirmou que “muitos brasileiros não declaram imposto de renda pois não teriam como pagar suas contas” para, em seguida, ameaçar: “se é difícil sem declarar, imagina o PT tirando 27.5% do que você ganha. Será impossível sobreviver”. Bem, aqui, amigos leitores, duas questões: 1) a mim isso soa como certa concordância com sonegação, e 2) como assim o PT tirando 27.5%? Eu sei que é “modo de falar”. Mas é exatamente sobre isso a minha crítica e minha contrariedade com esse tipo reducionista e simplista de fazer política, sempre na base da falsidade eleitoreira.
“Porque se fosse pra pagar imposto alto igual na Suíça, mas ter o serviço da Suíça, ok”. Bom, já que comparou ardilosamente com a Suíça, farei o mesmo: um parlamentar suíço ganha uma ajuda de custo (e não polpudos salários mais benefícios), paga a própria residência e o próprio transporte, não tem dezenas de assessores e produz muito mais para seu país.
E aí, Nikolas? Se ao menos você custasse e produzisse como um deputado da Suíça, tudo bem. Mas ganhando o que você ganha, ou melhor, custando o que você custa, só entregar video de TikTok “num tá bão, não, sô”. O que acha dessa comparação?
Ameaças da esquerda
Em seguida (no vídeo), veio com os gastos de Lula, Janja e companhia, “sob sigilos”, o que é verdade. Aliás, em momento algum Nikolas mentiu. Apenas distorceu e manipulou as palavras e os fatos. Por isso, a ameaça do governo e do deputado Guilherme Boulos, de processá-lo por fake news, é apenas a prática repugnante da esquerda de perseguir quem dela discorda ou combate.
Mas voltando aos gastos secretos do governo, repito: o que isso tem a ver com o monitoramento de PIX? Nada! Mas Nikolas afirma que “o governo quer tirar o sigilo bancário de você, trabalhador comum, empreendedor. Sigilo pra ele, vigilância pra você”. Olha, chega a ser triste ter de explicar tamanha bobagem.
O sigilo, imposto por Lula sobre seus próprios gastos, não vale para os devidos órgãos de controle e fiscalização. “Ah, Ricardo, o TCU não fiscaliza nada”. Bem, aí é outra história. Mas não existe sigilo absoluto sobre despesas públicas. Ponto. E mais: o sigilo bancário de qualquer brasileiro só pode ser quebrado por ordem judicial.
Nikolas revelado
À Receita, por qualquer auditor, não é facultada a fiscalização sem razão, e somente com todos os devidos processos internos de controle autorizados. Muito menos vigiar alguém como disse falsamente Nikolas.
Por fim, falou dos gastos das estatais, dos gastos “absurdos” – bota absurdos nisso! – da Janja, dos ministros, do STF e blá blá blá. Tal vídeo não passa, portanto, de panfleto político bem-roteirizado, bem-editado e maravilhosamente bem-distribuído. Meus sinceros parabéns aos responsáveis.
Mas de prático e de real preocupação com o contribuinte, não há nada. Nikolas tá “agando e andando” para a “mordida” do governo na nossa grana. Só quer saber de barulho e de likes. Lembrando sempre que jamais, em tempo algum, criticou as rachadinhas da família Bolsonaro, as vendas de imóveis em dinheiro vivo, o caso das joias sauditas, a extinção da Lava Jato, a decisão de Toffoli que ajudou Flávio Bolsonaro a escapar do COAF, enfim. A indignação dele é seletiva. Ou como canta a banda (também) mineira Skank, “é uma mosca sem asas, que não ultrapassa as janelas de nossas casas”.
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Comentários (3)
Um_velho_na_janela
16.01.2025 09:17O melhor Artigo que eu li no Antagonista, mesmo que eu já tivesse adiantado algumas conclusões dele, da forma sintética que meu amadorismo permite, no comentário ao Artigo de Redação " Acuado, governo Lula anuncia recuo sobre monitoramento do Pix" Meus parabéns Ricardo!
Daniela_RS
16.01.2025 09:16Concordo em parte, Ricardo Kertzman. O deputado Nikolas Ferreira, de fato, é um oportunista caçador de cliques e likes, que não faz jus ao que recebe como deputado federal, tem uma produtividade ínfima nessa função e é um passador de pano para Bolsonaro e sua trupe. Porém, não está errado no que falou sobre a vigilância às movimentações a partir de 5 mil. Isso, de fato, poderia pegar muita gente que está, hoje, sobrevivendo na informalidade, que movimenta valores acima de 5 mil por diversos motivos (despesas de trabalho com insumos, por exemplo, ou cartão de crédito "compartilhado", recurso muito usado pela população de baixa renda para viabilizar compras pessoais e de insumos). O histórico do desgoverno atual levou as pessoas a desconfiar de uma possível e quem sabe provável taxação da população de baixa renda a partir das movimentações do PIX e do cartão de crédito. O deputado foi hábil em ecoar os receios da população, que já existiam desde que a notícia da regulamentação veio a público. Mas o raciocínio dele, exposto no vídeo, faz sentido, sim.
Luis Eduardo Rezende Caracik
16.01.2025 08:45Apenas uma pequena observação, Ketzman. Você sabe quanto este patriotíssimo e cyber-midiático deputado faturou com as visualizações do vídeo? Procurei saber, pelas regras de monetização das redes e do Youtube. Foram cerca de 200.000 dólares. Qual será sua verdadeira motivação? Será patriotismo? Preocupação com os informais? Com os pagadores de impostos? Certamente não. E gostaria muito de saber onde esta dinheirama foi depositada para o deputado, pelas inocentes redes que veicularam este vídeo.