Crusoé: Lula continua alimentando o monstro bolivariano
Brasil manifesta incômodo com ditadura de Maduro nos bastidores, mas atrasa manifestação oficial contra arbitrariedades do regime
A imprensa brasileira está inundada de notas de bastidor sobre como o governo Lula considerou “preocupante” ou mesmo “inaceitável” o mandado de prisão contra Edmundo González Urrutia, que venceu Nicolás Maduro nas eleições da Venezuela e teve a vitória roubada. Mas declaração oficial de repúdio que é bom, nada até agora.
Escrevo depois do meio-dia desta terça-feira, 3. Segundo as tais notas de bastidor, cuja única finalidade é servir ao público interno a mentira de que o governo tem convicções democráticas, um comunicado deve ser publicado pelo Itamaraty ainda hoje. Falta Lula conversar com o chanceler Mauro Vieira.
Oito países latinos já se manifestaram sobre o assunto. Diz o comunicado: “Argentina, Costa Rica, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai rejeitam de forma inequívoca a ordem de prisão emitida pelo Juiz do Primeiro Tribunal Especial do Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela contra o senhor Edmundo González, candidato presidencial da oposição no último processo eleitoral de 28 de julho de 2024”.
Não se deve esperar do texto brasileiro que inclua uma “rejeição inequívoca” ou expressões sinônimas. Será um trololó frouxo, repleto de eufemismos, que se absterá de criticar a decisão do tribunal venezuelano que mandou encarcerar Urrutia.
A premissa é que não se deve criticar o Judiciário de um outro país, mas a premissa está errada, porque na Venezuela o Judiciário foi colonizado e se confunde com a ditadura de Nicolás Maduro. Não há Justiça independente e técnica, apenas um braço jurídico do regime.
Outra premissa errada é que o Brasil tem de preservar condições que lhe permitam servir de mediador entre governo e oposição na Venezuela. Como acreditar na hipótese da negociação se Maduro está pronto a jogar num calabouço o político que o enfrentou nas urnas? O ditador e sua claque querem silenciar o mais rápido possível a oposição, mandá-la para o exílio ou a clandestinidade. Em seguida, querem prosseguir com sua pilhagem das riquezas do país. O resto é conversa fiada.
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