Bolsas americanas desvalorizam mais de R$ 40 trilhões em dois dias
Foi a pior semana para o mercado acionário desde março de 2020, quando começou a pandemia

Os índices acionários nos Estados Unidos despencaram pelo segundo dia consecutivo, totalizando perdas de 7 trilhões de dólares ou 40,6 trilhões de reais na cotação atual. Para efeito comparativo, o PIB do Brasil é estimado em 2,2 trilhões de dólares.
Os investidores estão reduzindo drasticamente suas exposições em renda variável em meio às incertezas sobre a continuidade da pressão tributária imposta pelo presidente Donald Trump.
Alguns países fortemente afetados estão em negociações com o governo dos EUA. Outros já anunciaram que vão “contra-atacar”.
Uma coisa é certa: a inflação será pressionada, pois os preços irão subir para todos os lados.
Petróleo também despenca
Como se não bastasse, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC, na sigla em inglês) anunciou a elevação da produção diária em três vezes o número esperado por agentes do mercado financeiro.
O anúncio fez derreter a cotação do petróleo em mais de 7% apenas nesta sexta-feira, 4 de abril, pois somou-se ao forte ajuste das bolsas de valores o receio de recessão no maior mercado consumidor do mundo. O “ouro-negro” desvalorizou cerca de 14% em dois dias, sendo negociado neste momento a 62 dólares, na menor cotação em quase 4 anos.
Direto da Mesa de Operações
Em apenas dois dias, as empresas norte-americanas perderam o equivalente a três “Brasis”; o pior desempenho semanal desde o pânico do Covid-19 em março de 2020.
Muitas empresas foram diretamente impactadas pelas tributações impostas por Trump, pois concentram produção em países duramente pressionados, como Vietnã e Camboja, tributados respectivamente com 90% e 97%.
Em 3 de abril, as ações da Nike despencaram para sua menor cotação desde 2017. A Nike utiliza o Vietnã como maior centro de produção de calçados fora da China e tem o Camboja como responsável pela produção de 16% dos seus produtos.
A Intel opera a sua maior fábrica de semicondutores também no Vietnã.
Ford e Coca-cola possuem fábricas relevantes no Camboja.
Em meio ao pânico generalizado, Trump anunciou na manhã desta sexta, 4, que está aberto a ajustar suas tarifas em caso de propostas “deslumbrantes” dos países impactados.
Fazendo jus ao showbiz, o presidente dos EUA prometeu que iria repensar e aliviar as tarifas sobre o Vietnã, fazendo com que as ações da Nike invertessem para alta de mais de 4% após a abertura. Uma cinematográfica pressão comercial seguida de abraços de ursos.
Um operador berrou ao fundo que era tudo chantagem de novela. Será?
A semana que vem será decisiva para avaliar se estamos revivendo uma guerra fria, pois, para completar, a China está fechada nesta sexta, 4, por conta de feriado nacional.
Para os ansiosos e menos acostumados com volatilidade, a recomendação segue sendo manter-se na arquibancada. Para os mais experientes investidores, compartilho uma reflexão eternizada pelo financista londrino Nathan Rothschild:
“Venda ao som de violinos. Compre ao som de canhões.”
Pedro Kazan é profissional do mercado financeiro desde 1999, empreendedor e palestrante, formado em Engenharia de Produção com ênfase em Engenharia Econômica pela UFRJ. De 2002 a 2004, fez parte do Controle Operacional da Mesa Proprietária do Banco BBM, de onde saíram os fundadores das mais renomadas Assets do Brasil, como SPX, Kapitalo e Navi. Desde 2004 dedica-se à Gestão de Recursos e Assessoria de Investimentos Private. Fundador do canal de educação financeira KZN Investimentos. Nascido no Rio de Janeiro. Vivendo em Lisboa.
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