Atentado a Trump: os ataques cretinos e as críticas legítimas à imprensa Atentado a Trump: os ataques cretinos e as críticas legítimas à imprensa
O Antagonista

Atentado a Trump: os ataques cretinos e as críticas legítimas à imprensa

avatar
Felipe Moura Brasil
6 minutos de leitura 14.07.2024 14:08 comentários
Análise

Atentado a Trump: os ataques cretinos e as críticas legítimas à imprensa

Tudo se mistura na reação à cobertura do crime

avatar
Felipe Moura Brasil
6 minutos de leitura 14.07.2024 14:08 comentários 0
Atentado a Trump: os ataques cretinos e as críticas legítimas à imprensa
Foto: Reprodução/ X

A imprensa se tornou alvo de ataques cretinos e de críticas legítimas em razão de sua cobertura dos diversos momentos – com diferentes níveis de certeza – do episódio em que se viu uma tentativa de assassinato do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, novamente rival de seu sucessor, Joe Biden, na disputa de 2024.

No jornalismo responsável, a cobertura em tempo real de qualquer série de acontecimentos requer precauções das quais a confirmação posterior de seus elementos factuais prescinde. 

Avaliar à luz da confirmação posterior o grau de certeza ou incerteza conferido a cada momento a um desses elementos configura, quando se ignoram as variações do número e da qualidade das evidências disponíveis ao longo do tempo, uma ou mais de três opções básicas: 

– incapacidade para conceber as hipóteses não descartadas nos momentos anteriores;

– desconhecimento do conjunto necessário de evidências para concluir que algo aconteceu de tal maneira e não de outra;

– e a mais grave: desonestidade intelectual, seja para militância política-ideológica, seja para afetação de superioridade.

As primeiras imagens divulgadas nas redes sociais e em emissoras americanas de TV que chegaram aos plantonistas de sábado à noite nas redações brasileiras foram de Trump sendo retirado do palanque por seguranças, o que gerou uma rápida busca pelas imagens anteriores, até a obtenção do vídeo do discurso interrompido ao som de estampidos.

Nesse vídeo frontal do palanque, não aparecem armas, nem munições, nem atiradores, nem fica claro se Trump foi atingido, ainda que de raspão, ou se há qualquer outra vítima. O som de estampidos impõe a atuação preventiva dos seguranças, mas não evidencia, do ponto de vista jornalístico, que tiros foram disparados na área ou em torno do evento, que dirá contra o ex-presidente, com o intuito de matá-lo. Por mais desagradável que soe a ativistas e influenciadores de direita, o que se tinha até o momento, antes da confirmação das autoridades locais, eram barulhos de supostos tiros que levaram à retirada de Trump.

O que não se tinha, por outro lado, em momento algum, era base para noticiar que “Trump cai do palco”, como fez um jornal brasileiro, o que rendeu críticas legítimas nas redes sociais, turbinadas, notadamente, por percepção prévia de alarmismo seletivo da imprensa, que só vê ameaças na direita e não contra seus líderes.

A imagem de sangue na orelha de Trump passou a circular naquele momento, ainda sem confirmação de autoridade de que o ferimento derivou de um tiro de raspão. A relação de causa e efeito entre armas de fogo (ainda não visíveis) e os estampidos (audíveis), ou entre tiros (não confirmados) e o sangue, não era verificável de modo independente, mas, sim, presumida, o que, em matérias noticiosas, não se omite, apenas se trata com a devida cautela, até a divulgação de evidência conclusiva ou confirmação de autoridade competente, quando termos como “supostos” e outras muletas são removidos dos títulos da cobertura jornalística, ao menos nos veículos que não estejam interessados em distorcer a situação. 

Foi o que aconteceu, em vários deles, quando o promotor distrital do condado de Butler, Richard Goldinger, confirmou as seguintes informações, que eu, Felipe, imediatamente repercuti no X:

– Trump foi atingido de raspão na orelha por um tiro, mas está seguro;

– O atirador está morto;

– Uma pessoa da plateia foi morta;

– Outra pessoa está em estado grave.

As informações foram corroboradas por um porta-voz do Serviço Secreto.

Somente depois, circularam imagens de uma pessoa sendo carregada na plateia; de um trumpista falando em TV americana que viu o atirador subir em telhado próximo e que alertou à polícia; de dois “snipers” em outro telhado reagindo aos disparos do atirador; do próprio atirador morto ao lado de sua arma modelo AR e até do momento em que ele havia disparado, sem falar na foto que captura o movimento do projétil próximo à orelha do ex-presidente.

De madrugada, após vazamento do nome ao New York Post, o FBI confirmou a identidade do atirador e disse considerar o ato como tentativa de Thomas Crooks de assassinar Trump, embora os motivos não estivessem claros.

Diante de tamanhas evidências, nem os veículos mais hesitantes, ou militantes, deixaram de noticiar as relações de causa e efeito, de modo que a desinformação ficou restrita a teóricos lulistas da conspiração como André Janones, deputado federal flagrado em áudio defendendo “rachadinha” e aliviado na Comissão de Ética da Câmara graças a Guilherme Boulos.

O New York Times e o Washington Post ainda foram criticados por terem fechado a capa de suas edições impressas deste domingo, 14, com chamadas genéricas: “TRUMP MACHUCADO, MAS SEGURO, DEPOIS DE UM TIROTEIO – Um suspeito atirador e um espectador do comício foram mortos”; “Trump fica ferido em tiroteio – POSSÍVEL TENTATIVA DE ASSASSINATO – Atirador mais 1 mortos; o ex-presidente está ‘bem’”. Não se sabe exatamente a hora do fechamento na noite de sábado, mas, considerando as informações incluídas nas matérias, há críticas legítimas ao uso da palavra “tiroteio” no título, que, apesar do subtítulo do WP, dilui no conjunto dos tiros de lado a lado a responsabilidade do atirador pelo crime, ao qual se seguiu a reação legal dos “snipers”.

O alarmismo seletivo da imprensa, do qual tratou Crusoé em edição lançada na véspera do atentado, contribui para que a necessária prudência jornalística na cobertura em tempo real de episódios espinhosos seja colocada no balaio das condutas repudiáveis, o que abre flanco, claro, para ataques cretinos cometidos pelos oportunistas de sempre.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Visualizar notícia
2

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
3

Relação do Brasil com a China de Xi Jinping alcança um novo patamar

Visualizar notícia
4

Jaguar se rende à cultura woke e é alvo de críticas

Visualizar notícia
5

Toffoli remói a narrativa dos grampos de Youssef

Visualizar notícia
6

PF deve indiciar 40 pessoas por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
7

TPI emite mandado de prisão para Netanyahu

Visualizar notícia
8

Ucrânia acusa Rússia de usar míssil criado para guerra nuclear

Visualizar notícia
9

O que Meloni vai fazer com a motosserra de Milei?

Visualizar notícia
10

Kassab projeta Tarcísio presidente até 2030

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
2

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
3

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia
4

Crusoé: Morales acusa governo boliviano à ONU de violar direitos humanos

Visualizar notícia
5

Papo Antagonista: Indiciamento de Bolsonaro e bolsonaristas

Visualizar notícia
6

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
7

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
8

Casinos Online Brasil - Explore os 10 Principais Sites de Jogos

Visualizar notícia
9

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
10

"Antissemita", diz Netanyahu sobre mandado de prisão do TPI

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!
< Notícia Anterior

ESPANHA X INGLATERRA: Horários e onde assistir

14.07.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

São Paulo regula a venda de cães e gatos

14.07.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Felipe Moura Brasil

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Duda Teixeira Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.