Apagão em SP: de Nunes a Lula, filho feio não tem pai
Neste imbróglio todo, sem direito algum, milhões de consumidores que pagam contas caríssimas e recebem péssimos serviços como contrapartida
Em meio às centenas de milhares de pessoas sem energia elétrica até mesmo para atividades básicas como trabalhar e estudar, agravadas por situações que envolvem o risco de vida de doentes e acamados, assistidos por aparelhos que auxiliam na respiração, por exemplo, os responsáveis – ou irresponsáveis -, sejam pessoas físicas ou jurídicas, continuam trocando acusações, tentando escapar de suas culpas, sem contudo solucionar definitivamente o problema que se arrasta desde a última sexta-feira, 11, quando um temporal com fortes rajadas de vento atingiu a capital paulista.
O governo federal, através do seu ministro de Minas e Energias, Alexandre Silveira (PSD), culpa a concessionária Enel, aponta o dedo para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e acusa o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), adversário de Guilherme Boulos (Psol), aliado do presidente Lula (PT), de corresponsável por causa da ineficiência no programa municipal de poda de árvores, lembrando que os diretores da Aneel foram nomeados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que, historicamente, Lula e o PT sempre foram contra privatizações e concessões de empresas e serviços estatais.
Por sua vez, o prefeito de SP acusa o governo federal, notadamente o presidente Lula, por não pressionar a Aneel, e também o ministro Silveira por defender, segundo ele, a renovação da concessão à própria Enel. Nunes desfila números grandiosos de poda de árvores e insiste que não tem qualquer responsabilidade pelo apagão. A empresa (Enel) culpa as árvores caídas sobre os fios, os eventos climáticos, a falta de mão de obra qualificada e diz que trabalha dia e noite, inclusive com custos elevadíssimos de horas extras, para solucionar a falta de energia que já dura quatro dias em algumas regiões.
A gente somos inúteis
Já Guilherme Boulos, deputado federal e candidato à Prefeitura de São Paulo, corre em defesa do padrinho político, Lula, igualmente acusa a “Aneel de Bolsonaro” e ataca – com certa razão – o adversário Ricardo Nunes, esquecendo-se, contudo, que quedas de árvores e falta de energia são históricas na cidade, inclusive quando administrada por sua vice, Marta Suplicy, e por Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda. Por fim, na troca de acusações e no passa repassa de responsabilidades, a Aneel diz cumprir seu papel de agência reguladora e garante dura investigação e punição à Enel.
A empresa Enel, de origem italiana, acumula mais de 320 milhões de reais em multas, desde 2018, quando venceu o leilão e assumiu a operação em São Paulo, mas conseguiu judicialmente a suspensão de ao menos 265 milhões de reais. Só pelos prejuízos causados no apagão de 2023, foram 165 milhões de reais em penalidades não quitadas. Neste imbróglio todo, como percebido, resta apenas um envolvido, este sem direito algum ou voz para reclamar. São os milhões de consumidores que pagam uma conta caríssima e, não raro, recebem um péssimo serviço, ou mesmo serviço algum como contrapartida.
A expressão popular, “filho feio não tem pai”, cai como uma luva aqui. No Brasil cartorial, os apaniguados do poder mandam e desmandam, cobram e não entregam, e vida que segue. Os políticos, via de regra, financiados pelos que mandam e desmandam, cobram e não entregam, atuam de forma oportunista ou conivente. As autoridades responsáveis pela fiscalização e punição em caso de falhas, ou são cúmplices dos que mandam e desmandam, cobram e não entregam, ou tornam-se impotentes perante um judiciário, no mínimo, letárgico – para não dizer cúmplice ou omisso. Banânia é o paraíso para as Enel da vida
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