Acabou a festa das blusinhas e das “bugigangas”
Entre a fome de arrecadação do governo e o déficit de competitividade dos produtos brasileiros, é o consumidor quem sempre perde
Publico este artigo pouco antes de a Câmara votar a famigerada “taxação das blusinhas” – o fim da isenção de impostos para importações de até 50 dólares.
Lula andou dizendo que é contra o fim da isenção e que vetaria o imposto, caso ele fosse implementado.
Não se trata, no entanto, de uma questão de princípios. O que Lula não quer de maneira nenhuma é arcar com o ônus de impor esse castigo aos consumidores.
Dourando a pílula
Na tarde desta terça-feira, 28, o petista se encontrou com Arthur Lira, o presidente da Câmara, para discutir o assunto.
Logo em seguida, chamou o ministro da Fazenda Fernando Haddad para uma conversa.
Buscavam uma forma de dourar a pílula, ou seja, suavizar o custo político da medida.
Parecem tê-la encontrado numa alíquota de importação de 20%, um terço dos 60% cobrados de produtos acima de 50 dólares.
E seria irrealista imaginar que o presidente não deu sua bênção a essa fórmula.
Arrecadação
Se não fosse a preocupação com sua popularidade, Lula já teria cedido há tempos aos argumentos de Haddad e do próprio Lira.
Desde o ano passado o ministro queria taxar as importações.
Ele vive contando moedas para evitar que o controle das contas públicas sob o PT seja visto definitivamente pelo que é – uma causa perdida.
A política fiscal do governo está montada num tripé: arrecadação, mais arrecadação e mais arrecadação ainda.
E continuará sendo assim, porque Lula não aceita conter gastos.
Lobby
Arthur Lira atua como lobista de setores da indústria e do comércio atingidos pela falta de tributação dos produtos importados.
Como deputado que se elege com poucos votos, ele tem mais incentivos para ouvir esses grupos organizados do que para se sensibilizar com a choradeira das compradoras e compradores de sites chineses.
Não é que ele esteja errado em prestar atenção ao “setor produtivo”. A isenção dos importados é de fato arrasadora para quem produz no Brasil e carrega nas costas o peso do nosso sistema tributário.
Alegria de pobre
Mas é triste constatar que o país não consegue jamais melhorar sua competitividade e por isso recorre ao protecionismo tarifário de maneira sistemática.
Para manter empresas vivas e evitar demissões, Brasília nos condena a pagar eternamente mais caro por nossas “bugigangas” (palavra usada por Lula).
Então é isso: por motivos ruins ou piores, a farra das blusinhas se aproxima do seu fim, inexoravelmente.
Alegria de pobre dura pouco.
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