A primeira-blogueira Janja e a diplomacia do “fuck” seletivo
Ela é apenas a expoente caricata de uma figura comum no meio político
Não foi à toa que batizei Janja (foto) de primeira-blogueira. Ela sempre faz jus à descrição.
No sábado, 16, a militante de esquerda que investiu na relação com Lula quando ele estava preso e conseguiu virar sua esposa quando foi solto mandou um “fuck you” para o dono do X, Elon Musk, nomeado para um cargo no governo eleito dos Estados Unidos, e chamou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, de “grande parceiro na questão das fake news”.
Nada há de “união e reconstrução”, como diz o slogan do governo, muito menos do decoro tradicional de uma primeira-dama, em xingar o futuro chefe do Departamento de Eficiência Governamental americano. Nada há tampouco de separação e independência dos Poderes, ou seja, de defesa da democracia, como dizia o slogan de campanha, em tratar um membro da cúpula do Judiciário como aliado, que dirá em pauta política do Executivo.
As falas ocorreram em eventos públicos do G-20, para o qual Janja também organizou um festival de música que distribuiu um “cachê simbólico de R$ 30 mil” a cada um dos 29 artistas camaradas do governo de seu marido. O dinheiro veio de patrocínios milionários de estatais controladas pelo PT, como Itaipu (R$ 15 milhões) e Petrobras (R$ 18 milhões), além de BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (que se recusaram a informar os valores).
Diante do grito de uma mulher que chamou o festival de “Janjapalloza”, a primeira-blogueira ainda manifestou irritação e repetiu o nome de fachada da mamata lulista: “Não, filha, é Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, vamos ver se consegue entender a mensagem, tá?”
Com esse mesmo pretexto de combate a fome e a pobreza, Lula recebeu milhões de reais de empreiteiras do petrolão para palestrar em outros países onde elas também tinham interesse em abocanhar contratos públicos e onde ele tinha influência para fazer lobby.
Nas redes sociais, alguns críticos ironizaram Janja manifestando saudades da falecida esposa de Lula, Marisa Letícia, que também xingou opositores, mandando enfiarem panelas no c…, mas, pelo menos, fez isso em conversa privada, gravada por escuta telefônica. Visto assim, pegar as chaves do triplex do Guarujá e encomendar um barco para ser entregue no sítio de Atibaia, ou participar da escolha da mesma cozinha para ambos os imóveis customizados por OAS e Odebrecht, foram igualmente atos mais discretos de Dona Marisa, que nunca demandaram de Lula um reparo público, como o que ele fez indiretamente em seu último discurso no festival:
“Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha (contra a fome) em que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém. Precisamos apenas indignar a sociedade”, declarou o presidente, após perder destaque mundial nas manchetes sobre o G-20 para a vulgaridade da atual esposa. Vamos ver se Janja consegue entender a mensagem, tá?
A primeira-blogueira, de todo modo, é apenas a expoente caricata de uma figura comum no meio político: a pessoa desprovida de mérito pessoal e trajetória de realizações que usa a militância para colar em alguém de poder e, deslumbrada, passa a curtir a vida intensamente com dinheiro dos pagadores de impostos, em viagens e eventos internacionais, fingindo estar lutando por causas nobres.
Quem se volta contra o líder, o “grande parceiro”, o partido ou a corrente ideológica que proporcionam isso a ela é tratado como um inimigo que merece se “fuck”.
É a diplomacia do “fuck” seletivo, palavrão jamais dirigido a outros parceiros do lulismo, como o ditador venezuelano Nicolás Maduro (que fraudou a eleição de 28 de julho, impeliu o rival Edmundo González a exilar-se na Espanha, prendeu outros opositores, ataca igualmente Elon Musk e também quer regular as redes sociais); o ditador russo Vladimir Putin (que bombardeou instalações civis da Ucrânia no domingo, 17, causando “fatalidades confirmadas, inclusive crianças”, segundo o presidente Volodymyr Zelensky); e o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do regime iraniano (que patrocina o terror permanente contra Israel).
Janja hostiliza apenas o dono da rede social onde, bem ou mal, fura-se a bolha de narrativas das emissoras de TV amigas do governo, que estão recebendo fortunas em verbas de publicidade federal. “Eles vão perder a próxima eleição”, limitou-se a responder Musk no X.
A vitória de Donald Trump nos EUA, de fato, levou a primeira-blogueira do Brasil – nem aí para as relações diplomáticas e comerciais entre os dois países nos próximos anos – a passar recibo de preocupação com os ventos políticos favoráveis à direita.
Janja sabe indignar a sociedade quando sente suas boquinhas ameaçadas.
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Comentários (5)
Rafaela Rufino
18.11.2024 12:26Temos que relevar. Ela nao tem gabinete. Tem que pagar suas próprias roupas. Culpa do Bolsonaro
Luiz Filho
18.11.2024 11:35Primeira dama de bordel. Onde tudo começou e depois uma fácil marmita de presidiário. Saiu do puteiro, mas o puteiro não saiu dela. Agora está “abrida” para novas experiências
Marcia Elizabeth Brunetti
18.11.2024 11:23É ótimo saber dos fracassos da Primeira-Blogueira (isso para ser delicado, né FMB?). Melhor que ela se limite a trocar as fraldas do seu amado.
Beth 11
18.11.2024 10:10Excelente!!
Andre Luis Dos Santos
18.11.2024 09:54Excelente Felipe!