A candidatura de Flávio Bolsonaro e o voto da ‘dona Amélia’
O desafio de Flávio Bolsonaro não reside entre os eleitores petistas ou bolsonaristas. O desafio dele é convencer uma maioria silenciosa
Precisamos falar da dona Amélia. Sim, daquela dona Amélia, típica eleitora bolsonarista 60+. A brasileira ainda encantada com o ex-presidente; aquela que ainda acredita na teoria segundo a qual Adélio Bispo foi contratado pelo PSOL ou PT para tirar o então candidato, Jair, da disputa eleitoral; aquela que desconfia da credibilidade das urnas eletrônicas e que, vez em quando, ainda é chamada de “tia do zap”.
Mas essa dona Amélia, ao contrário da militância virtual, não é virulenta. Afinal de contas, ela tem vida fora das redes sociais. Tem filhos, netos, uma horta para cuidar. Faz parte do ciclo de orações da Igreja Católica ou integra o grupo de obreiras de alguma igreja evangélica. As conversas sobre política se atêm à ceia de Natal. Ainda assim, quando o clima fica pesado, ela é a primeira a mudar de assunto e lembrar que, o Natal, é a celebração do nascimento de Cristo, não uma reunião familiar transformada em debate da TV Globo cujo tema é: Lula ou Bolsonaro, quem é pior?
A dona Amélia é a personificação dos desafios da candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência da República. Nem toda Amélia votará automaticamente no Flávio, apesar de ele ser filho de Jair. A dona Amélia é a típica eleitora bolsonarista; não da família Bolsonaro. Uma coisa é acreditar no Jair; outra, bem diferente, é no Flávio. O próprio Flávio sabe disso. O próprio Jair sabe disso.
A “Carta aos Brasileiros”, divulgada por Flávio e escrita a mão por Jair, tem um trecho que chama a atenção e dá sinais disso. “Trata-se de uma decisão consciente, legítima e amparada no desejo de preservar a representação daqueles que confiaram em mim”, disse o ex-presidente na carta.
Flávio, em coletiva, reforçou esse desafio (de obter o voto das donas Amélias) quando disse, em alto e bom som, que faltava algo em que acreditar. Principalmente eleitores como dona Amélia. “Acho que, mais uma vez, como muitas pessoas dizem que não tinham ouvido da boca dele ou não tinham visto uma carta assinada por ele. Acho que isso aqui tira qualquer sombra de dúvida”, disse Flávio.
O mercado não teme a vitória de Flávio; teme a vitória de Lula. O mercado – e 90% dos analistas políticos – entendem eleitores como a dona Amélia. Eleitores que têm resistência em aderir automaticamente a uma candidatura “Plano B”. Foi assim com Fernando Haddad em 2018, e não será diferente com Flávio em 2022. O próprio clã sabe disso. Em 2018, Lula imaginou que iria transferir automaticamente seus votos para o hoje ministro da Economia. Errou feio.
O levantamento Paraná Pesquisas divulgado nesta sexta-feira, 26, dá indícios de que Flávio pelo menos conseguiu convencer algumas donas Amélias pelo Brasil. Em dezembro, a diferença entre Lula e Flávio, que era de sete pontos percentuais em novembro (45,4% a 38,6%), caiu para três pontos (44,1% a 41%). Como a margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, há um cenário de empate técnico no limite da margem de erro.
O desafio de Flávio não reside entre os eleitores petistas ou bolsonaristas. O desafio dele é convencer pessoas como… a dona Amélia.
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