USP não pode mais ser refém da lacração estudantil USP não pode mais ser refém da lacração estudantil
O Antagonista

USP não pode mais ser refém da lacração estudantil

avatar
Madeleine Lacsko
4 minutos de leitura 10.10.2023 16:35 comentários
Narrativas Antagonista

USP não pode mais ser refém da lacração estudantil

Precisamos aprender a lidar com um fenômeno novo, o da lacração estudantil. Ele tem sido confundido, de forma errônea, com movimento estudantil. Não são o mesmo fenômeno...

avatar
Madeleine Lacsko
4 minutos de leitura 10.10.2023 16:35 comentários 0
USP não pode mais ser refém da lacração estudantil
Arte O Antagonista

Precisamos aprender a lidar com um fenômeno novo, o da lacração estudantil. Ele tem sido confundido, de forma errônea, com movimento estudantil. Não são o mesmo fenômeno e têm objetivos diametralmente diferentes.

O movimento estudantil, concorde você com ele ou não, tem o objetivo de conseguir realizar as próprias propostas e convencer o máximo possível de gente sobre sua ideologia e seus projetos. A lacração estudantil tem o objetivo de não resolver nada e ficar em litígio constante.

Não é exclusividade dos estudantes. Muitos estudiosos falam sobre a quarta onda do feminismo, por exemplo. É um fenômeno que se inicia por volta de 2013, com as redes sociais. O objetivo dos coletivos deixa de ser avançar direitos e passa a ser reclamar do mundo e esculhambar quem ousa pensar de maneira diferente.

É algo que acontece com praticamente todo tipo de militância. Os  militantes e ativistas têm sido substituídos pela lacração, originada nas redes sociais.

São movimentos com maior aderência porque é possível ser parte deles mesmo sendo preguiçoso e sem abrir mão de privilégios. Por exemplo, alguém pode fingir que é antirracista porque faz posts sobre e xinga um monte de gente de racista. Pouco importa se é racista ou se vive da exploração racial.

Eu, que sou mulher, fico mais abismada com a cara de pau relacionada às lutas feministas. Promovemos à condição de feministas mulheres que vivem do trabalho do marido, acompanham o marido em tudo ou simplesmente são herdeiras que não mandam em nada na administração das próprias finanças.

É algo que se torna possível na era das redes, caso você faça parte da patota certa. Pessoas que são reconhecidas como ativistas passaram a ocupar o lugar de ativistas.

É um movimento natural porque beneficia quem já está no poder. Muito mais simples e cômodo lidar com quem luta para fingir que é lutador. Sempre é complicado para os poderosos lidar com quem realmente quer promover mudanças.

No caso da USP, a maioria dos alunos quer ter aula e a maioria dos professores também. Assim como na internet, estão todos reféns da lacração, que é uma minoria violenta. Ninguém entra na USP para ter aula e ninguém pode falar mais nada na internet. Todos com medo da reação dos novos princesos.

A carta da Faculdade de Direito dizendo que as aulas devem ser retomadas traz um detalhe muito interessante sobre a diferença entre lacração e movimento estudantil.

Não há uma liderança unificada nem uma pauta de reivindicações, o que torna impossível negociar. Os métodos são muito parecidos com os da lacração, que se intitula representante de um grupo sem ter representatividade real. É o famoso flanelinha de minoria.

Vários grupos foram recebidos, cada um tinha sua pauta, mas, mesmo quando se resolvia a questão, o conflito não acabava. Eles precisavam recorrer a lideranças, que às vezes nem faziam parte do ambiente universitário, eram de fora.

Muitas das reivindicações são feitas a quem não pode decidir sobre o tema. Um deles é o da cota de professores negros e indígenas, exigida por esses alunos à direção de unidades. Isso tem de ser feito por lei, o diretor não tem como resolver.

Uma tática comum na internet é feita quando se resolve uma demanda: “move the goalposts”, mover as traves do gol. A pessoa faz o gol e então o lacrador move a trave e exige outra coisa. Se uma demanda é atendida, logo se diz que não adianta e surge outra.

Exatamente isso tem ocorrido com os alunos. Exigiram contratação de mais professores. Foram contratados quase 150 professores. Agora querem a tal cota de minorias. Se resolverem, o problema será outro.

Essa é a diferença fundamental entre lacração e militância, ou entre a antipolítica e a política. Na política existem discordâncias e até polarização, mas o objetivo é criar pontes e fazer modificações na vida real. Na lacração, o objetivo é jamais resolver nada e manter o estado de constante conflito para lucrar politicamente ou financeiramente.

É diante disso que a USP está agora. Não há negociação com um grupo que não quer negociar. Foi feita uma salada de pautas que inclui metrô, CPTM e Sabesp no mesmo balaio. Na internet, muita gente se deixa dominar por esse pessoal. Na universidade pública, eles não podem decidir no grito e na ameaça quem tem ou não aula.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

"Sem anistia!" Para Lula também?

Visualizar notícia
2

Crusoé: Comunista Flávio Dino é tudo, menos juiz

Visualizar notícia
3

Tropas russas cruzam inesperadamente rio Oskil, em Kharkiv

Visualizar notícia
4

Mancha misteriosa em imagem de santa intriga fiéis em Goiás

Visualizar notícia
5

Mais uma frente contra o Janjapalooza

Visualizar notícia
6

Os fantasminhas da Embratur

Visualizar notícia
7

Mercadão de sentenças nos tribunais brasileiros?

Visualizar notícia
8

Crusoé: O que pensa o presidente uruguaio eleito sobre Venezuela

Visualizar notícia
9

Prefeitura de SP reclama de "retrocesso" de Dino sobre cemitérios

Visualizar notícia
10

Kamala Harris e o fiasco financeiro de sua campanha de US$ 1,5 bilhão

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

"Meu defeito foi jogar limpo”, diz Bolsonaro. Não imagino o que seria sujo

Visualizar notícia
2

E agora, Marta?

Visualizar notícia
3

MP solicita arquivamento de investigação sobre Gusttavo Lima

Visualizar notícia
4

Crusoé: Turismo em Cuba cai para metade. E a culpa não é dos EUA.

Visualizar notícia
5

Deputado quer fiscalizar Carrefour após boicote a carnes do Mercosul

Visualizar notícia
6

PSOL vai lançar candidatura de Henrique Vieira à Presidência da Câmara

Visualizar notícia
7

STF forma maioria contra proibição de crucifixo em prédios públicos

Visualizar notícia
8

O dia do Flamengo na Câmara

Visualizar notícia
9

Temer compara 8 de janeiro a protestos contra reforma da Previdência

Visualizar notícia
10

MST quer a cabeça do ministro Paulo Teixeira

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

greve lacração Narrativas Antagonista USP
< Notícia Anterior

Pix, serviço de pagamento do BC, será premiado nos EUA

10.10.2023 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Cop 30: Delegação da ONU chega a Belém para visita técnica

10.10.2023 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Madeleine Lacsko

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Ivo Patarra na Crusoé: Emendas secretas, mudar para ficar do jeito que está

Ivo Patarra na Crusoé: Emendas secretas, mudar para ficar do jeito que está

Visualizar notícia
O que você acha dos alunos que gravam professores em sala de aula?

O que você acha dos alunos que gravam professores em sala de aula?

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Relação do Brasil com a China de Xi Jinping alcança um novo patamar

Relação do Brasil com a China de Xi Jinping alcança um novo patamar

Madeleine Lacsko Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.