O delírio coletivo da suposta “taxação dos super-ricos”
O episódio da suposta “taxação dos super-ricos” é um caso lapidar de delírio coletivo em que as narrativas substituíram completamente a realidade...
O episódio da suposta “taxação dos super-ricos” é um caso lapidar de delírio coletivo em que as narrativas substituíram completamente a realidade.
É possível argumentar que há grupos condicionados a esse sistema de pensamento. Um influencer ou líder oferece uma explicação simples de mundo, coincidente com os valores do grupo e os demais saem repetindo aquilo e atacando quem se posiciona de forma diferente.
Nesse caso específico, fomos um passo além. A maior parte do debate que ocorreu em redes sociais e até em parte da imprensa foi sobre coisas que jamais aconteceram.
A própria expressão “taxação dos super ricos” é absolutamente delirante, porque não se taxou nada que ainda não fosse taxado, só se mudou a forma de arrecadação. E, aliás, ainda vão dar um desconto nos impostos.
Aqui no Brasil existem fundos exclusivos, aqueles com um só investidor. Você precisa ter mais de R$ 10 milhões para fazer um desses. São pouco mais de 1600 brasileiros e estima-se que tenham aplicados mais de R$ 600 bilhões, segundo a Ambima. Você leu certo: SEISCENTOS BILHÕES.
Eles sempre pagaram impostos sobre isso, mas só na hora em que sacam. Muitos deixam o dinheiro lá por gerações. Nos demais fundos, você paga imposto de renda duas vezes ao ano. Agora será assim também para eles.
Falei com dois investidores do tipo. Eles já esperavam essa mudança desde 2015. Michel Temer e Paulo Guedes anunciavam isso. Fizeram as contas, valia a pena e continua valendo. Se eles sacassem o dinheiro, pagariam 15% de impostos. Se não sacarem e pagarem só o imposto, o governo dá descontos entre 33% e 50%. Compensa e já sabiam.
A discussão, no entanto, girou em torno do que não aconteceu.
Primeiro veio a história de que Lula taxaria os super-ricos porque bilionários pagam, proporcionalmente, menos imposto de renda do que os pobres do Brasil. Não era nada disso.
Descobriram que era sobre fundos e começaram a dizer que não havia cobrança de impostos para quem investe mais de R$ 10 milhões em fundos e Lula mudou isso taxando os bilionários. Não era nada disso.
Descobriram que a taxação era só dos tais fundos exclusivos, então começaram a dizer que eles jamais pagaram impostos como os fundos disponíveis para o cidadão comum, então Lula mudou isso. Também não era nada disso.
Como a realidade dos fatos é enfadonha nesse caso específico, a argumentação inflamada tem ficado longe deles. O fato é que o governo conseguiu, com ajuda de parte da imprensa, posar de Robin Hood.
Estima-se que a arrecadação seja de R$ 24 bilhões em alguns anos. Resta saber se esse dinheiro vai para a tão alardeada justiça social ou para custear os sempre crescentes privilégios das Excelências.
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