Depois não reclamem da antipolítica
A cassação do mandato de Deltan Dallagnol fez políticos como Gleisi Hoffmann (PT), Renan Calheiros (MDB) e Eduardo Cunha (PTB) celebrarem loucamente nas redes sociais na noite desta terça-feira, 16. Essa comemoração é um erro do qual esses políticos ainda podem se arrepender...
A cassação do mandato de Deltan Dallagnol fez políticos como Gleisi Hoffmann (PT), Renan Calheiros (MDB) e Eduardo Cunha (PTB) celebrarem loucamente nas redes sociais na noite desta terça-feira, 16. Só faltou rasgarem as roupas e dançarem pelados na praça, como faziam os pagãos nas antigas saturnálias, festas de “renascimento”.
Essa comemoração é um erro do qual esses políticos ainda podem se arrepender.
A decisão que retirou o mandato de Dallagnol (uma sentença com bases frágeis, que contradiz os entendimentos firmados do próprio TSE) pode ser uma vitória contra um dos protagonistas da Lava Jato, mas não significa que as descobertas da Lava Jato foram invalidadas e seus escândalos, esquecidos.
Gleisi, Renan e Cunha trabalham com uma falsa premissa: a de que a Lava Jato despertou a ira dos brasileiros contra os políticos. Não é nada disso. A ira já existia.
O que a Lava Jato criou foi a expectativa de que desmandos e corrupção seriam finalmente punidos – de que as leis, finalmente, valeriam para todos.
Essa expectativa foi frustrada, em parte, por erros da própria operação.
Para uma multidão de eleitores, no entanto, os risos de Gleisi, Renan e Cunha são outra demonstração – mais uma – de que o Brasil não tem cura. De que, no final, os personagens de sempre acabam prevalecendo.
É bom lembrar que o castigo a Dallagnol veio no mesmo dia em que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados deu parecer favorável a um projeto que pretende anistiar (pelo segundo ano seguido) partidos e dirigentes partidários que fraudaram cotas eleitorais, falharam na prestação de contas ou simplesmente usaram dinheiro público de maneira irregular. Os partidos criam as regras, pisoteiam as regras que eles mesmos criaram e, para fugir das consequências, concedem perdão a si próprios.
A ideia de que a política é uma atividade intrinsecamente perversa não faz bem a nenhum país. Ela abre a porta para os extremistas, as soluções autoritárias, os falsos salvadores da pátria. O 8 de janeiro mostrou o tipo de loucura que a antipolítica pode produzir.
Mas não basta condenar esse fenômeno.
O prazer indisfarçado de Gleisi, Renan e Cunha com o revés de Deltan Dallagnol é o tipo de comportamento que tende a reacender a chama da antipolítica. E depois suas excelências reclamam diante do incêndio.
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