Chamberlula
Arthur Neville Chamberlain entrou para a história pela porta dos fundos, ao tentar domar Adolf Hitler com diplomacia, assinando o famigerado Acordo de Munique, em 1938. A arrogância e uma pitada de ingenuidade o levaram a desconsiderar informações estratégicas que poderiam ter sido usadas para deter o avanço alemão. Na recente viagem a Washington, Lula...
Arthur Neville Chamberlain entrou para a história pela porta dos fundos, ao tentar domar Adolf Hitler com diplomacia, assinando o famigerado Acordo de Munique, em 1938. A arrogância e uma pitada de ingenuidade o levaram a desconsiderar informações estratégicas que poderiam ter sido usadas para deter o avanço alemão.
Na recente viagem a Washington, Lula encarnou uma versão piorada de Charmberlain, tanto em arrogância como em ingenuidade, ao propor a criação de um grupo de ‘países neutros’ para negociar a paz entre Rússia e Ucrânia. Para o petista, a invasão bárbara comandada por Vladimir Putin seria apenas “um equívoco” e que teria faltado a Volodymyr Zelensky capacidade de diálogo.
“Precisamos falar com o presidente Putin sobre o erro que foi a invasão, e devemos falar para a Ucrânia conversar mais. O que quero dizer a Biden é que é necessário um grupo de países pela paz”, disse. Com uma ou outra nova palavra, trata-se do mesmo discurso covarde já apresentado na campanha eleitoral, quando disse que resolveria a guerra tomando uma ou duas cervejas.
Na ocasião, chegou a insinuar que Zelensky, “um bom comediante”, teria estimulado a guerra para “aparecer” e que Putin teria “muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia”. Culpar a vítima é forma mais hipócrita de normalizar ações criminosas e relações de poder abusivas.
A ofensiva militar de Putin tem notório caráter expansionista e começou na invasão da Crimeia em 2014, sendo executada por etapas, com sucessivas violações de tratados internacionais, numa reedição da “política do fato consumado” aplicada por Hitler nos primeiros anos. Assim como aquela, a de Putin também inclui uma poderosa frente de desinformação, além de inédita ameaça nuclear.
Está bem longe, portanto, de ser um equívoco como pinta Lula. Relativizar a atuação da Rússia é compactuar com a barbárie e ofender os princípios democráticos que ele alega defender.
Suas declarações em solo americano envergonham o Brasil e reforçam a percepção de despreparo que marcou suas incursões diplomáticas anteriores, seja no conflito israelo-palestino — que ele prometeu resolver com uma partida de futebol — ou na questão do programa nuclear iraniano — na qual foi ludibriado.
Em alerta emitido ontem, dias depois da visita de Lula aos EUA, a embaixada americana na Rússia pediu aos cidadãos residentes ou em viagem que deixem o país “imediatamente” por risco de “detenções indevidas”.
“Os serviços de segurança russos prenderam cidadãos americanos sob acusações espúrias, apontaram cidadãos americanos na Rússia para detenção e assédio, negaram-lhes tratamento justo e transparente e os condenaram em julgamentos secretos ou sem apresentar provas críveis”, diz um trecho do comunicado.
Na verdade, ao defender a neutralidade, Lula já escolheu um lado.
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