Orlando Tosetto Jr., na Crusoé: “À espera do Sedex-Passageiro”
O amigo acreditará se eu lhe disser que, por mim, preferia antes estar numa cela sem janelas no Monte Athos a prestar atenção à política e aos políticos nacionais?...
O amigo acreditará se eu lhe disser que, por mim, preferia antes estar numa cela sem janelas no Monte Athos a prestar atenção à política e aos políticos nacionais? Pois acredite, amigo: eu preferia. E tanto que às vezes (digamos, cinco dias por semana), faço bem de conta que estou por lá: cabeludo, barbudo, despejando cinza na cabeça, vestindo uma túnica de estopa amarrada com esses barbantes finos de kebaberia, com um gato no regaço, tentando cantar um salmo em grego enquanto chove lá fora. (Na verdade, quando imagino isso estou no metrô, imprensado entre dois sujeitos ainda mais gordos e feios do que eu, com fones nos meus ouvidos tocando death metal, um livrinho fino nas mãos, e me desviando, de minuto em minuto, dos marreteiros que passam gritando que “chegou delícia, chegou qualidade”. O Monte Athos foi o país das maravilhas que achei para brincar de ser Alice).
Perdido voluntariamente nesse mundo muito mais pastoril, oloroso e prazenteiro do que os tais “corredores do poder”, é fácil eu me distrair e demorar a perceber quer as ignomínias, quer as asneirinhas cotidianas dos figurões, dos mandatários, dos executores das “políticas públicas”. Foi assim com a bobagenzinha tão fofa do ministro do Trabalho, esse ministro ocupadíssimo, que sugeriu que os Correios, bambas da logística, substituam o Uber, se e quando o Uber decidir nos deixar.
O amigo me permite uma digressão? Ah, permite, eu sei que permite. Ei-la:…
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