Agamenon: Um dia de cão
O governo de Luísque Inácio Lula da Silva começou com o pé esquerdo. Começou com o pé esquerdo, porque toda direita se mandou do país e hoje se encontra auto-exilada em Orlando. Como havia previsto, e citando-me a mim mesmo: o futuro do Jair vai ser Flórida...
O governo de Luísque Inácio Lula da Silva começou com o pé esquerdo. Começou com o pé esquerdo, porque toda direita se mandou do país e hoje se encontra auto-exilada em Orlando. Como havia previsto, e citando-me a mim mesmo: o futuro do Jair vai ser Flórida.
Lá, na América, o ex-presidente Jair Bolsonazi aguarda a chegada de OVNIs que vão lhe trazer de volta para o poder dentro de um pneu. Enquanto isso, na misteriosa cidade de Ratanabá, milhares de reptilianos bolsonaristas estão preparados para atacar Brasília com bombas de grafeno, nióbio e cloroquina. Só esperam um sinal da Rádio Jovem Ku Klux Pan para começar uma guerra civil comandada por militares da ativa, e da passiva também.
Mas isso é coisa do passado. No último domingo, durante a posse, Lula caiu em pranto convulsivo diante de uma multidão de fiéis seguidores. Uma delegação de lulistas veio direto da Papuda para saudar o seu líder. Muita emoção, minha gente.
Naquele momento de grande comoção nacional, também me debulhei em lágrimas, como se fosse comentarista político da Globonews ou empreiteiro de obras públicas. Vivíamos um momento histórico, quando o Brasil mostrou ao mundo que a nossa Justiça é cega. Não só cega, como também surda, muda e, se for submetida a um exame psiquiátrico, vai ficar comprovado que ”não bate bem da bola” também.
Mas, se o presidentiário chorava de emoção, minhas lágrimas de crocodilo foram por conta da chegada de mais um boleto na minha casa. A conta será queimada, junto com centenas de outras, para me aquecer esse inverno fora de época que acontece no Rio de Janeiro agora no verão. Essas cobranças bancárias à minha pessoa são uma clara tentativa de limitar a minha liberdade de expressão e o meu cheque especial. Vivemos um momento de otimismo e esperança no futuro que, no caso do Brasil, é sempre “do pretérito”.
Como Bozonaro não quis passar a faixa pro Lula, vários representantes da sociedade civil fizeram esse serviço: negros, indígenas originários de povos da floresta, silvícolas com deficiência, transgêneros lésbicos bissexuais não-binários e outras minorias representaram simbolicamente o Brasil, sem esquecer os anões pelados e besuntados de Nutella. Juntos mandaram uma mensagem ao mundo: Demagogia sempre! Até os cachorros terão voz, quer dizer latidos, neste governo. Isso ficou claro pela presença da cachorra da Janja, quer dizer, da cadela Resistência, que ficou latindo por dois anos na porta do presídio em Curitiba, enquanto Lula pagava sua etapa na cadeia. Resistência, a Primeira Cadela da República, será responsável pela Secretaria dos Direitos Humanos Caninos, ligada ao Ministério da Cachorrada Institucional.
Pois é, até uma cachorra arrumou emprego nos mais de 200 novos ministérios, menos eu, Agamenon Mendes Pedreira, que participei da fundação do PT em São Bernardo, quando Lula era apenas um desconhecido líder sindical sem dedo. Aliás, eu fui o único companheiro que deu guarida ao dedo perdido de Lula e arrumei para ele um bico de catador de meleca no meu nariz. Mas a política é injusta e hoje eu, que represento a categoria dos jornalistas idosos escroques, fiquei chupando o dedo. O meu, é claro, o dedo do Lula eu nunca mais vi. Dizem que ele andou metido em negociatas no Rodoanel.
Quem elegeu o Lula foi uma grande frente democrática. E bota frente nisso, tem até uma representante das milícias cariocas. É por isso que a pecuária é tão importante no Brasil. São necessárias milhões de vacas leiteiras para atender aos aliados sedentos com suas tetas cheias de verba. Por isso mesmo ninguém se entende, o que mostra que, finalmente, o Brasil está de volta à sua anormalidade. Anormalidade esta, por sinal, de onde nunca saiu.
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