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Um outro caminho para a cultura

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Josias Teófilo
5 minutos de leitura 24.12.2022 11:44 comentários
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Um outro caminho para a cultura

Governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas vai administrar alguns dos mais importantes equipamentos culturais do país. São mais de 60 instituições mantidas pelo Estado, entre eles a principal...

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Um outro caminho para a cultura
Foto: Reprodução/Facebook

Governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas vai administrar alguns dos mais importantes equipamentos culturais do país. São mais de 60 instituições mantidas pelo Estado, entre eles a principal orquestra brasileira, a Osesp, e o Festival de Inverno de Campos do Jordão, referências no mundo da música clássica.

Ex-ministro do Governo Bolsonaro, Tarcísio já demonstrou que não vai seguir os passos, na cultura, do governo do qual participou. Ele anunciou Marília Marton para a Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Marília já trabalha na secretaria, e atuou como chefe do Gabinete da Cultura de Geraldo Alckmin entre 2011 e 2015. Ou seja, a gestão será de continuidade.

Com efeito, o PSDB, nas últimas décadas, consolidou o estado de São Paulo como uma potência cultural, especialmente na área de música clássica. Para entender como o estado desenvolveu essa tradição, é preciso tratar de uma personalidade-chave da vida musical brasileira da segunda metade do século XX: o maestro Eleazar de Carvalho. Cearense de Iguatu, estudou música na Marinha, onde tocou tuba em bandas militares. “Observei que a comida servida às crianças que tocavam na banda era melhor. Apresentei-me, embora não tocasse qualquer instrumento. Sou músico por gulodice”, assim explicava sua motivação inicial pela música.

Estudou regência com o compositor brasileiro Francisco Mignone, na Escola de Música do Rio de Janeiro. Inspirados pela passagem do maestro italiano Arturo Toscanini com a Orquestra da NBC, Eleazar e um grupo de músicos criaram a Orquestra Sinfônica Brasileira, que veio a ser regida pelo maestro húngaro Eugen Szenkar, tendo Eleazar como assistente. Foi aos Estados Unidos com o objetivo de reger algumas das três grandes orquestras do país (Boston, Filadélfia e Nova York) e, apesar do fracasso inicial na Orquestra da Filadélfia, dirigiu as principais orquestras americanas e europeias da época, entre elas as filarmônicas de Berlim, Viena e Nova York, as sinfônicas de Boston, Londres e Paris. Começou como assistente do maestro russo Serge Koussevitzky, que tinha também ninguém menos que Leonard Bernstein como assistente na Sinfônica de Boston.

Mas a carreira de Eleazar não se resumiu à atuação frente às orquestras, foi também importante professor de regência. Entre os seus alunos estão alguns nomes centrais da regência mundial do final do século 20: Seiji Ozawa, Zubin Mehta, Charles Dutoit, Claudio Abbado (lendário maestro da Filarmônica de Berlim, falecido em 2014).

Da sua experiência dirigindo o Festival de Tanglewood, evento de verão da Sinfônica de Boston, ele tirou o molde para o Festival de Inverno de Campos do Jordão. Junto com o Secretário de Cultura Max Feffer, ele criou o festival com o aspecto que tem hoje, voltado para o ensino e a prática orquestral. Feffer, filho de imigrantes russos, foi um grande incentivador da cultura. Foi ele quem encomendou, por exemplo, a Quinta Sinfonia de Camargo Guarnieri, além de ter criado o Festival de Jazz.

Em depoimento à TV Cultura, à época, Eleazar disse: “(A ideia é) fazer 250 jovens conviverem ali durante um mês, ouvindo os profissionais da música, vivendo naquele ambiente. Me parece que, após esse festival, depois de se assistir às grandes obras interpretadas pelos grandes músicos, de um curso intensivo com os grandes nomes que fizeram história, os nossos jovens guardarão um pouco daquilo que eles levaram anos para aprender”.

Seu lema era: “Mais escolas para mais orquestras”. Como efeito, por Campos do Jordão passariam várias gerações de músicos de orquestra, muitos deles hoje destacados internacionalmente e/ou integrantes dos vários grupos profissionais que o estado de São Paulo possui. A mais importante delas é a Osesp, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, recriada por Eleazar de Carvalho com a pretensão de criar uma grande orquestra internacional no Brasil. Seu objetivo, porém, nunca foi verdadeiramente realizado durante a sua vida, nem mesmo o de conseguir uma casa para a Osesp, que ensaiava e se apresentava em diversos espaços distintos.

O que se diz é que, no velório de Eleazar de Carvalho, realizado no Theatro Municipal de São Paulo, foi grande a comoção por ter o maestro morrido sem realizar o sonho de uma casa para a sua orquestra.

Nesse contexto, o então governador Mário Covas resolveu dar uma casa à orquestra e reformulá-la. Para isso convidou o maestro John Neschling. O local escolhido foi a antiga Estação Júlio Prestes, originalmente projetada por Cristiano Stockler das Neves, um ferrenho opositor da arquitetura moderna. O pátio interno da construção (antes apenas um jardim), foi adaptado pelo arquiteto Nelson Dupré, e lá nasceu a Sala São Paulo.

Atualmente, a Fundação Osesp administra também o Festival de Inverno de Campos do Jordão, e a Sala recebe parte da programação do festival. Junto ao Cultura Artística e ao Mozarteum, formam um ecossistema de excelência que torna São Paulo um dos melhores lugares para se ouvir música clássica no mundo. O Governo do Estado de São Paulo dispõe de equipamentos culturais de importância maior do que os dispostos pelo Governo Federal. E isso precisa ser devidamente mantido e valorizado.

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