Agamenon: O primeiro turno a gente nunca esquece
Eu, Agamenon Mendes Pedreira, o maior jornalista morto-vivo do Brasil, já fui testemunha pessoal de muitos acontecimentos da nossa história. Vi com meus próprios olhos o assassinato do Titanic, o naufrágio de Kennedy e o autossuicídio de Getúlio Vargas. Mas nunca vi uma eleição tão conturbada como a que estamos vivendo agora...
Eu, Agamenon Mendes Pedreira, o maior jornalista morto-vivo do Brasil, já fui testemunha pessoal de muitos acontecimentos da nossa história. Vi com meus próprios olhos o assassinato do Titanic, o naufrágio de Kennedy e o autossuicídio de Getúlio Vargas. Mas nunca vi uma eleição tão conturbada como a que estamos vivendo agora… testemunhamos uma corrida de cavalgaduras, disputada cabeça a cabeça, se é que algum dos dois tem alguma.
O Brasil é uma nação gulosa e insaciável! Não satisfeitos com as filas intermináveis da semana passada, os brasileiros querem mais. Parece que têm comichão no buraco da urna. Urna que, igual à mulher do Chico Buraque, não tem orifício para o eleitor enfiar, sôfrego, o seu voto. É tudo eletrônico! É só apertar os números e a tecla “confirma”, que tá tudo resolvido. Igual ao vibrador Hitachi que a Isaura, a minha patroa, utiliza em seus intercursos sexuais. Para quem não tem nada, como a Isaura, a minha patroa, possuir um aparelho Hitachi não deixa de ser um consolo. Cheio de trocadilhos e veias. Por isso mesmo, eu, que já não comia nada, agora também não como mais ninguém. Vivo num canto, encostado, juntando poeira junto com o aparelho de videocassete, o DVD e o Nintendo.
O brasileiro está entre o SUS e a caldeirinha! Tá ruim, mas vai piorar. Felizmente. Agora vai sair pesquisa errada todo dia para o povo se distrair. Essas pesquisas de opinião pública partem de um princípio equivocado: o de que todo mundo tem uma opinião. Agora eu entendi o que é “margem de erro”. Não tem nada a ver com dois pontos pra baixo ou pra cima: as margens mostram os erros dos institutos de pesquisa. E tanto o IPEC Kamikaze como o Datatrolha já revelaram que o resultado vai dar 100 % errado (com margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos).
No fundo, no fundo e no raso, as pesquisas são que nem cocô: você faz todo dia e tem que dar uma olhada pra ter certeza que deu alguma merda, mesmo sabendo que sempre dá. O IPIX e o DataFoda-se transformaram a eleição num imenso Fla x Flu, em que você torce pro seu time fanaticamente mesmo que ele seja uma bosta, o técnico horrível e o presidente do clube um ladrão —não necessariamente nessa ordem.
Escolher entre Jair Bolsonazi e Luísque Inácio Lula da Silva é uma verdadeira escolha de Sofria. Eu sei que esse trocadilho é péssimo, mas os dois candidatos são muito piores. Os dois continuam tacando lenha na fogueira, e o Ibama não faz nada diante dessa devastação eleitoral-ecológica. Agora surgiu uma nova polêmica para entreter os comentaristas da GloboNews, coitados, que devem ser patrocinados pela Sadia porque passam o dia todo enchendo linguiça.
É o seguinte: o presidente fez uma “arminha” com as mãos e, mais uma vez, deu um tiro no próprio pé. E olhem que ele tem quatro, fica mais fácil acertar! Durante um discurso, Jair Metias Brochonaro disse que os nordestinos votaram no Lula porque são analfabetos, atraindo para si o ódio dos paraíbas, baianos e outros brasileiros de cabeça chata. Nem mesmo os jegues, que abundam naquela região, diriam tamanha burrice numa véspera de eleição. Além da seca, nossos irmãos nordestinos, coitados, sofrem muito preconceito por parte dos sudestinos. Não podemos esquecer das grandes contribuições culturais que o Nordeste deu ao Brasil, como o cangaço, o forró e a carne de sol. Sem falar nos grandes intelectuais como Gilberto Freyre, autor de Casa Grande, Biro-Biro e Senzala, e Arriando Suassunga, autor do inesquecível Auto do Genocida, o livro favorito do presidente Bolsoasno.
O que está em jogo nesta eleição são os valores morais, e os dois candidatos baseiam suas campanhas na defesa da família. A deles, no caso. Quem é que vai dizer que a relação entre o filho e a puta não é uma relação estritamente familiar? Vejam o caso do afro-candidato ACM Neto, que herdou seu cargo do pai, que, por sua vez, ganhou o seu de presente do avô. Por sua vez, Mula da Silva controla o PT como se fosse sua família e, quando foi presidente, criou o mensalão para dar mesada aos seus companheiros filhos.
Já o candidato Jair Boçalnaro se acha o verdadeiro paladino da família brasileira. Para ele, a família vem em primeiro lugar e, graças ao seu sobrenome, elegeu seus filhos Flávio, Eduardo e Cartucho.
Mas o povão, inclusive eu, o jornalista Agamenon Mendes Pedreira, está desempregado e está cansado de ver uma conta de luz no fim do túnel. Aconteça o que acontecer, em 30 de outubro o Brasil vai mudar. Só não se sabe pra onde: Lisboa, Miami ou Caracas.
Agamenon Mendes Pedreira é maçom of a bitch.
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