Mercado gostou de bolsonarismo mais forte que o antecipado
O rali eleitoral de segunda-feira (4) tem intrigado os menos afeitos ao mercado financeiro. A forte alta dos ativos brasileiros pós-eleição criou uma enxurrada de narrativas eleitoreiras em prol de cada candidato...
O rali eleitoral de segunda-feira (4) tem intrigado os menos afeitos ao mercado financeiro. A forte alta dos ativos brasileiros pós-eleição criou uma enxurrada de narrativas eleitoreiras em prol de cada candidato. Para entender o movimento, é preciso compreender que o investidor vive de expectativas, e elas foram alteradas com o resultado do primeiro turno. As mudanças foram em direção a uma política mais voltada ao centro, com menos espaço para aventuras fiscais — defendidas, frise-se, pelos dois candidatos que avançaram para o segundo turno.
Os operadores de mercado buscam dados para tentar amenizar a contaminação da preferência pessoal nas decisões. No caso específico das eleições, as fontes são as pesquisas. A tese é de que essa forma de trabalhar evita que a razão seja levada pela emoção. É claro que todos têm uma preferência, mas, embora seja possível falar o que quiser, ninguém coloca dinheiro onde não acredita que possa ganhar mais.
Foi dessa forma que o mercado reagiu ao resultado eleitoral do primeiro turno. Mais do que preferir um candidato a outro, o dinheiro vai em direção às probabilidades. A chegada nas urnas de um bolsonarismo mais forte que o antecipado nas pesquisas altera parâmetros. Além disso, a eleição de um legislativo como forte componente de direita não estava precificada.
Nos dias que precederam a votação, Lula aparecia com uma liderança quase incontestável e declarava, entre outras coisas, que não aceitaria estatais sem preocupação social. Também prometia aumento de gastos, em prol, por exemplo, da educação (a volta do Fies). Além disso, os investidores acreditavam em um retorno da política de incentivo ao consumo, que marcou os dois primeiros mandatos do petista, além de outra medidas vistas como inflacionárias pelo mercado.
Na B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), papéis ligados a essas premissas acumulavam ganhos conforme Lula abria vantagem. As ações de empresas ligadas à educação, como Cogna e Yduqs, por exemplo, acumularam altas de 18,55% e 17,38% no mês de setembro. Na ponta oposta, estatais como Banco do Brasil e Petrobras registraram perdas de 6,98% e 10,32% (no caso da petroleira, a queda foi reforçada pela redução de 9,63% no preço do petróleo no período).
Muito mudou assim que a contagem de votos se encerrou. O resultado das urnas, com um bolsonarismo mais forte que o antecipado, deve empurrar Lula para uma versão mais parecida com a da famosa Carta aos Brasileiros, com políticas mais ao centro e sem muito espaço para medidas fiscais heterodoxas. Essa é a visão predominante nas mesas de operação. É claro que o day after das eleições também foi marcado por uma folga na aversão ao risco no exterior. Mas a mudança nas perspectivas por aqui claramente reforçou o otimismo.
O real foi a moeda que mais se valorizou entre os emergentes na segunda-feira após o primeiro turno. O risco-país, medido pelo CDS (Credit Default Swap) para cinco anos, caiu mais de 11% nos últimos dois dias. Os juros futuros recuaram fortemente, com um ambiente esperado de menor pressão sobre os juros e com arcabouço fiscal menos “criativo”. As estatais, que perdiam valor até a abertura das urnas, recuperaram boa parte das perdas no dia seguinte, com os papéis do Banco do Brasil subindo 7,63% na segunda-feira, e da Petrobras, com valorização de 7,99%. Na ponta contrária, as ações de Cogna e Yudqs foram as únicas a fecharem no negativo na sessão.
Para o mercado, no que diz respeito ao pleito deste ano, a máxima aristotélica de que “a virtude está no meio”, indicando a equidistância entre as visões mais extremadas de ambos os polos, é definitivamente o impulsionador dos ativos brasileiros domestica e internacionalmente. Ajustes feitos, o mercado nacional como um todo deve permanecer otimista em função da redução dos riscos esperados.
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