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A democracia do PT é eleitoreira

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Mario Sabino
5 minutos de leitura 19.08.2022 14:38 comentários
Opinião

A democracia do PT é eleitoreira

O PT não aprendeu nada, a não ser a enganar os ingênuos sobre a sua natureza autoritária, o seu stalinismo intrínseco e tropical. Depois de passar mais de uma década torpedeando a democracia, por meio da compra de votos de parlamentares com dinheiro oriundo de corrupção, o partido encontrou em Jair Bolsonaro uma alavanca para alçá-lo novamente ao Palácio do Planalto. Os petistas só assinaram os manifestos pela democracia por cálculo eleitoral, não por convicção...

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A democracia do PT é eleitoreira
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

O PT não aprendeu nada, a não ser a enganar os ingênuos sobre a sua natureza autoritária, o seu stalinismo intrínseco e tropical. Depois de passar mais de uma década torpedeando a democracia, por meio da compra de votos de parlamentares com dinheiro oriundo de corrupção, o partido encontrou em Jair Bolsonaro uma alavanca para alçá-lo novamente ao Palácio do Planalto.

Os petistas só assinaram os manifestos pela democracia por cálculo eleitoral, não por convicção. Como já cansei de escrever, a democracia não lhes é valor universal, mas valor estratégico — uma forma de chegarem ao poder e lá permanecer indefinidamente, usando dos mesmos expedientes que sempre utilizaram. Apesar da pele de cordeiro democrático, o lobo continua lá, ameaçador, como demonstram as simpatias do PT e do seu chefão por regimes ditatoriais. Hoje, na sabatina promovida pelo Estadão, Fernando Haddad, poste de Lula em 2018 e hoje candidato ao governo de São Paulo, foi indagado sobre a proximidade do PT com o regime venezuelano. Como registramos, ele tergiversou: primeiro, alegou que há a autodeterminação dos povos sobre seus governos, e que esta autodeterminação estaria sendo atacada (‘Infelizmente temos que reconhecer que americanos se metem em assuntos internos de outros países, contra a democracia’, disse). Depois, afirmou que nenhum dos dois lados está correto na disputa política do país. ‘Na Venezuela, a oposição também não é democrática. Você tem um conflito real que podemos e devemos ajudar. Acho que o Lula vai ter um papel muito grande [nessa mediação]”.

Fernando Haddad continuou: “Se eu gosto do governo Maduro? Não. Mas se me perguntam se eu gosto do comportamento que a oposição está tendo? Não. Nós temos o dever de ajudar a Venezuela, e a Venezuela pode se reencontrar em uma democracia plena se houver um papel internacional, com a liderança do Brasil, para encontrar o caminho”.

A verdade é que Nicolás Maduro (à esquerda na foto), herdeiro do chavismo, contou com grande ajuda dos governos do PT para manter-se como ditador incontrastável. O auxílio do PT e de Cuba foram essenciais para ele reprimir a oposição democrática (sim, democrática) em seu país. No ano passado, em maio, Lula enviou uma mensagem a Nicolás Maduro, de acordo com a embaixada da Venezuela: “O irmão ex-presidente Lula enviou uma saudação fraternal ao nosso presidente Nicolás Maduro reafirmando que ele ‘é filho de Bolívar’ e que nossa Pátria Bolivariana contará sempre com seu apoio”. Sim, apoio. Apoio a uma ditadura cruenta. O PT não está interessado em mediar transição democrática nenhuma na Venezuela, porque vê o regime bolivariano como exemplo a ser seguido.

Nesta edição semanal da Crusoé, o repórter Duda Teixeira comparou os programas de política externa de Jair Bolsonaro e de Lula, disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral. A conclusão é que o primeiro se tornou menos ideológico nas relações internacionais (no programa, enfatize-se, porque o sujeito é incontrolável)  e o segundo não tem sequer o pudor de dizer que repetirá os mesmos erros que cometeu quando era presidente da República. Leia este trecho da reportagem da Crusoé:

“O programa da coligação que apoia Lula traz em negrito a ideia de recuperar uma ‘política externa ativa e altiva’, que ‘nos alçou à condição de protagonista global. A expressão foi cunhada e propalada por Celso Amorim, que foi chanceler de Lula entre 2003 e 2010. Uma de suas principais marcas foi a negociação com a teocracia iraniana, que resultou em um acordo com a Turquia sobre o destino do urânio enriquecido — uma parte dele seria entregue a Ancara, para evitar que Teerã quantidade suficiente para fabricar bombas atômicas. Festejado pelos petistas como um grande feito, o tal acordo foi ignorado por todas as grandes potências. Como chanceler, Amorim também fortaleceu os laços com os ditadores cubanos Fidel e Raúl Castro, com o venezuelano Hugo Chávez e com o cocaleiro boliviano Evo Morales. Nesse trabalho, embora no comando do Itamaraty, ele precisou se submeter ao assessor da presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, um velho quadro do PT que faleceu em 2017. Nenhum desses países latino-americanos é citado no programa do PT, mas a intenção de retomar as conversas com eles transparece. O PT propõe reconstruir “a cooperação internacional Sul-Sul com América Latina e África” e “fortalecer novamente o Mercosul, a Unasul, a Celac e os Brics”. Em entrevistas, Amorim também defende a retomada de relações diplomáticas com a ditadura do venezuelano Nicolás Maduro.

A Unasul é uma das principais incógnitas. Esse grupo foi criado em 2008 pelo venezuelano Chávez basicamente para projetar influência em países governados pela esquerda na região. Sem mostrar utilidade, afundada em dívidas e atacada por sua cumplicidade com autocracias, a Unasul foi abandonada por diversos países, incluindo o Brasil, em 2019. Sua sede em Quito, no Equador, foi desativada. Estaria o PT querendo ressuscitar esse bloco que teve uma função majoritariamente ideológica aproveitando-se da vitória de partidos de esquerda na América Latina? Pois é exatamente isso. Celso Amorim disse no ano passado que a Unasul vai reviver: ‘A volta de governos progressistas na América do Sul propicia, obviamente, o retorno da Unasul’.

O PT realmente não aprendeu nada. É um partido de matriz autoritária e continuará a sê-lo. O seu apego à democracia é apenas eleitoreiro.

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Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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