Enquanto defendem a democracia, um jornalista…
No mesmo dia em que Alexandre de Moraes toma posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral e, muito corretamente, defenderá a democracia, na presença de ex-presidentes da República, do atual inquilino do Planalto, de togados poderosos, de parlamentares e dos candidatos nesta eleição, eu soube que continuarei no inquérito das fake news conduzido por ele...
No mesmo dia em que Alexandre de Moraes toma posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral e, muito corretamente, defenderá a democracia, na presença de ex-presidentes da República, do atual inquilino do Planalto, de togados poderosos, de parlamentares e dos candidatos nesta eleição, eu soube que continuarei no inquérito das fake news conduzido por ele.
Há mais de três anos, em abril de 2019, faço parte do inquérito sigiloso continuamente prorrogado, depois que a Crusoé publicou uma reportagem verdadeira sobre o então presidente do STF, o ministro Dias Toffoli (foto). A reportagem foi censurada por Alexandre de Moraes e, por ordem dele, tive de comparecer à PF, onde não sabia — nem o delegado — em que condição comparecia. Aliás, não sei até hoje. Depois de Dias Toffoli, já tivemos Luiz Fux na presidência do tribunal. Provavelmente, continuarei no inquérito quando a ministra Rosa Weber tomar posse.
Um recurso para me tirar dessa joça, relembrando os ministros de que eles mesmos decidiram que jornalistas e veículos de imprensa reconhecidos não poderiam constar do inquérito, ia ser julgado pela Segunda Turma, por esses dias. Julgamento virtual, sem que o meu advogado, André Marsiglia Santos, pudesse fazer sustentação oral, como parece ser o novo normal no STF. O ministro André Mendonça, no entanto, pediu vista. Ou seja, continuarei no inquérito indefinidamente, ao lado de bolsonaristas e extremistas de esquerda. Não defendo, não, que bolsonaristas e extremistas de esquerda sejam presos ou censurados por emitirem opinião, pelo contrário, mas essa companhia de má qualidade torna tudo ainda mais humilhante para quem é jornalista há quase 40 anos e tem na integridade o seu maior patrimônio. Para quem criou um site, este aqui, que foi recentemente indexado pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, pela sua relevância jornalística na cobertura das eleições de 2022.
Outro dia, li gente bacana defendendo a legalidade do inquérito. Gente bacana que assina manifesto pela democracia. Gente bacana que deveria achar que inquéritos como esse são o fim do mundo. Mas não acha. O precedente perigoso já vivo na pele. Não é vitimização, é constatação.
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