Precisamos imitar um francês do século 17 Precisamos imitar um francês do século 17
O Antagonista

Precisamos imitar um francês do século 17

avatar
Redação O Antagonista
4 minutos de leitura 25.12.2017 15:30 comentários
Brasil

Precisamos imitar um francês do século 17

Por Mario Sabino - Publicado originalmente em 15.05.17, na nossa newsletter Emmanuel Macron tomou posse como presidente da França, no domingo passado, com a intenção de levar adiante reformas que diminuam o desemprego e aumentem a competitividade do país. Mas o tema deste artigo é um francês do século 17: Jean-Baptiste Colbert, ele também um reformista...

avatar
Redação O Antagonista
4 minutos de leitura 25.12.2017 15:30 comentários 0
Precisamos imitar um francês do século 17
mario_1

Por Mario Sabino – Publicado originalmente em 15.05.17, na nossa newsletter

Emmanuel Macron tomou posse como presidente da França, no domingo passado, com a intenção de levar adiante reformas que diminuam o desemprego e aumentem a competitividade do país. Mas o tema deste artigo é um francês do século 17: Jean-Baptiste Colbert, ele também um reformista.

Superintendente das finanças de Luís XIV, ele substituiu o marquês Nicolas Fouquet, detido e julgado por corrupção e condenado ao banimento. Pouco antes de ser detido, Fouquet havia recebido Luís XIV na sua magnífica propriedade em Vaux-le-Vicomte. O rei ficou espantado com a riqueza do meliante, confirmando as suspeitas levantadas por Colbert, que cobiçava o cargo de Fouquet.

No comando do dinheiro do reino, Colbert promoveu uma reforma geral na administração. É curioso que pareça novidade liberal gerir o estado como uma empresa comercial, mas foi o que o mercantilista Colbert levou a cabo há quase quatro séculos. Todos os impostos e despesas passaram a ser meticulosamente registrados. As repartições (os “bureaux”) foram organizadas para dar conta dos controles rígidos exigidos por Colbert. Aliás, a palavra “burocracia”, inventada no século seguinte por Vincent de Gournay, originou-se da estrutura criada pelo superintendente de Finanças de Luís XIV.

Emmanuel Macron é acusado pela esquerda de ser representante dos banqueiros — o que ele efetivamente é. Colbert era acusado pelas nobreza de ser representante dos grandes comerciantes — o que ele efetivamente era. Como disse o historiador Jacques Barzun, “com Luís XIV, a burguesia estava no poder; as leituras e os memorandos iniciais do rei fizeram dele, em parte, um rei burguês”. Por meio da centralização administrativa feita por Colbert, esvaziou-se o poder tirânico exercido pelos nobres locais.

Com tolerância zero para a corrupção ou mesmo a simples malandragem (a “moral burguesa” tem lá suas vantagens), o superintendente das Finanças propiciou que a França se tornasse a principal exportadora de artigos para a Europa. Peças de tecido com um centímetro a menos do que o registrado nos “bureaux” de exportação eram retidas pelos inspetores e destruídas. Resultado: a confiança dos importadores aumentou as encomendas de todos os produtos.

Depois de instalar uma administração eficiente e, consequentemente, colocar as finanças em ordem, Colbert procurou mitigar os efeitos da pobreza entre artesãos ou camponeses. Lê-se em Jacques Barzun: ele “usou seus funcionários para coletar dados estatísticos que lhe permitissem planejar uma ação corretiva. Renovou estradas, drenou pântanos, construiu canais e tomou medidas para aliviar a carga fiscal, como pedágios e outros tributos”. Como se não bastasse, deve-se a Colbert boa parte do patrimônio artístico francês.

Luís XIV, no entanto, colocaria tudo a perder, por causa da sua ambição expansionista — transmitida como vírus a seus sucessores. A França entraria continuamente em guerras durante um século e meio, arruinando a sua economia e abrindo caminho para os demagogos revolucionários. A centralização administrativa eficaz transformou-se em máquina pesada. Uma pena, porque, como nota Jacques Barzun, a França de Luís XIV poderia ter dado uma lição mundial de economia política graças a Colbert.

O termo “colbertismo” ainda é usado na França, tanto para o bem como para o mal. Espero que o capitalista Macron inspire-se no mercantilista Colbert — e que o Brasil imite a receita. Somos um país de imitadores, mas está na hora de pararmos de imitar apenas as coisas ruins.

Esportes

Conheça Pedro Lourenço, empresário que vai comprar a SAF do Cruzeiro

27.04.2024 22:00 3 minutos de leitura
Visualizar

Rússia coloca jornalista da Forbes em prisão domiciliar

Visualizar

Tornado devasta cidade da China e deixa mortos e feridos

Visualizar

Atlético-MG vence o Cuiabá e assume a liderança do Brasileirão

Visualizar

Iraque criminaliza relações homossexuais

Visualizar

Padre desafia o governo: "É impossível ser sacerdote em Cuba"

Visualizar

Tags relacionadas

Mario Sabino newsletter Retrospectiva 2017
< Notícia Anterior

“Uma única mala talvez não desse toda a materialidade para apontar se houve ou não crime”

25.12.2017 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

O golpe do indulto contra as delações premiadas

25.12.2017 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Flávio Bolsonaro pede ao TCU anulação de megalicitação de Lula

Flávio Bolsonaro pede ao TCU anulação de megalicitação de Lula

27.04.2024 19:56 4 minutos de leitura
Visualizar notícia
Acidente caótico no Rodoanel: Ventilador se desprende e causa colisões

Acidente caótico no Rodoanel: Ventilador se desprende e causa colisões

27.04.2024 19:54 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
Pacientes e funcionários são amarrados em assalto a hospital

Pacientes e funcionários são amarrados em assalto a hospital

27.04.2024 19:48 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
Virginia participa de atividade na escola da filha

Virginia participa de atividade na escola da filha

27.04.2024 18:26 3 minutos de leitura
Visualizar notícia

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.