Terceira Via, ou o Otimismo
Os presidentes do MDB, da União Brasil, do PSDB e do Cidadania prometeram anunciar no dia 18 de maio uma candidatura única do Centro Democrático, anteriormente conhecido como Terceira Via. Neste momento, é difícil mostrar entusiasmo com a notícia. O processo envolveu a neutralização política de Sergio Moro por um ardiloso Luciano Bivar, o comandante da União Brasil, que agora pretende impor seu nome aos demais partidos, de preferência como cabeça de chapa. Não se imagina Bivar empolgando as multidões, mas ele tem um poderoso argumento político para esgrimir: 800 milhões de reais de fundo eleitoral...
Os presidentes do MDB, da União Brasil, do PSDB e do Cidadania prometeram anunciar no dia 18 de maio uma candidatura única do Centro Democrático, anteriormente conhecido como Terceira Via. Neste momento, é difícil mostrar entusiasmo com a notícia.
O processo envolveu a neutralização política de Sergio Moro por um ardiloso Luciano Bivar (foto), o comandante da União Brasil, que agora pretende impor seu nome aos demais partidos, de preferência como cabeça de chapa. Não se imagina Bivar empolgando as multidões, mas ele tem um poderoso argumento político para esgrimir: 800 milhões de reais de fundo eleitoral.
Dadas as circunstâncias, resolvi ler “Cândido, ou o Otimismo”, o livrinho escrito por Voltaire no século 18. Cândido atravessa guerras, enfrenta a Inquisição, vê Lisboa ser destruída por um terremoto, assiste a estupros e mutilações, mas não desanima. Sua definição de otimismo é “a fúria de sustentar que tudo está bem quando se está mal”. Decidi incorporar esse espírito, ao menos até 18 de maio, e tratarei a Terceira Via (hoje conhecida como Centro Democrático) como a minha Cunegunda. Cunegunda é a donzela por quem Cândido se apaixona. No final da história ela está feia, mas aprendeu a fazer doces.
Consultei dois experientes estudiosos das eleições brasileiras sobre como uma eventual candidatura encabeçada por Luciano Bivar poderia deslanchar. Depois de um longo silêncio, os dois fugiram da pergunta. Fingi não perceber, e tomei nota quando eles discorreram sobre as tarefas que terão de ser cumpridas por quem quer que seja o candidato do Centro Democrático.
Ambos coincidiram num ponto: para chegar ao segundo turno das eleições, qualquer chapa da Terceira Via terá não apenas de entusiasmar aqueles que não querem nem Lula nem Bolsonaro, mas também de atrair uma parcela do eleitorado que se desiludiu com nosso antipresidente.
Isso não significa reconhecer méritos no governo Bolsonaro e prometer fazer “ainda melhor”. Significa, pelo contrário, demonstrar que Bolsonaro deixou de cumprir as promessas que o levaram à presidência. “É preciso mostrar que ele traiu o espírito de 2018”, diz um dos pesquisadores.
Nesta semana, O Antagonista compilou algumas dessas promessas quebradas, que Bolsonaro não terá como repetir: acabar com a reeleição; acabar com o foro privilegiado; governar com poucos ministérios; nomear apenas ministros com capacitação técnica; combater a corrupção e apoiar a Lava Jato; eliminar o toma lá, dá cá.
“Algum elemento do discurso de Bolsonaro, o centro terá de incorporar. Não será, obviamente, a pauta de costumes. O jeito mais viável de fazer isso é apontar as pautas de economia e política que ficaram esquecidas, ou seja, os compromissos que ele traiu”, diz o outro estudioso.
Não consegui arrancar de nenhum dos dois que, por ter abrigado Bolsonaro em seu partido nas eleições passadas, Luciano Bivar está especialmente bem posicionado para reencarnar “o espírito de 2018” de maneira empolgante. Mas ouvi de um deles que, em política, quase tudo é possível. Para quem vive de otimismo, já é um começo.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)