Putin bate na “mãe das cidades russas”
Bombardear Kiev (foto) é um ato de desespero de Vladimir Putin. O ditador russo esperava que as suas tropas fossem recebidas com um tapete de flores na Ucrânia, assim como os soldados de Adolf Hitler foram recepcionados na Áustria, em 1938, com o Anschluss, a anexação do país pela Alemanha nazista. Não foi o que ocorreu -- e Vladimir Putin, diante da resistência dos ucranianos, da reticência do seu exército na luta contra um povo irmão e também da incompetência dos seus generais, agora permitiu que um míssil fosse lançado contra um prédio residencial da "mãe das cidades russas"...
Bombardear Kiev (foto) é um ato de desespero de Vladimir Putin. O ditador russo esperava que as suas tropas fossem recebidas com um tapete de flores na Ucrânia, assim como os soldados de Adolf Hitler foram recepcionados na Áustria, em 1938, com o Anschluss, a anexação do país pela Alemanha nazista. Não foi o que ocorreu — e Vladimir Putin, diante da resistência dos ucranianos, da reticência do seu exército na luta contra um povo irmão e também da incompetência dos seus generais, agora permitiu que um míssil fosse lançado contra um prédio residencial da “mãe das cidades russas”. Quando ele anexou unilateralmente a Crimeia, em 2014, Vladimir Putin usou essa expressão nascida no século XII, que, como explica a francesa Alexandra Goujon, especialista em Ucrânia e Belarus, “visa a justificar o pertencimento dos territórios ucranianos ao Império Russo” e, ao mesmo tempo, “a desacreditar a especificidade da identidade ucraniana e a pertinência de um estado soberano como testemunham os argumentos históricos utilizados pela Rússia desde 2014”.
O bombardeio de Kiev, portanto, atinge um mito fundador do discurso pan-eslavista de Vladimir Putin — e, se ele vier a despejar mais bombas na capital da Ucrânia, isso certamente terá um efeito muito negativo na Rússia, apesar da censura férrea exercida pelo Kremlin sobre os meios de comunicação e a internet. Nenhuma máquina de fake news será capaz de justificar ataques à “mãe das cidades russas”.
Matar ou ferir a mãe é imperdoável, mesmo quando a mãe é postiça. Na verdade, diz Alexandra Goujon, bem respaldada pela historiografia, “a expressão ‘Kiev, mãe das cidades russas’ se assemelha a um abuso de linguagem que tem por objetivo demonstrar a continuidade entre a Rous de Kiev (nome da antiga confederação que reunia eslavos, bálticos, escandinavos, normandos e gregos) e o estado russo contemporâneo. A homofonia entre Rous e Russo, assim como as traduções em línguas estrangeiras, participa da confusão. A Rous de Kiev é um estado multiétnico de uma época em que as nações ucraniana e russa não existiam. Como indica o historiador Andreas Kappeler, a questão de saber se ela é ucraniana ou russa é, portanto, vã. No entanto, desde o século XVII, Kiev tornou-se a capital de uma nação ucraniana que se construiu, inclusive sob o império russo e sob a União Soviética, antes de se tornar independente em 1991″.
Vladimir Putin está perdendo a guerra da história, seja na frente mitológica como na real.
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