Não há política sem impurezas
Sergio Moro está sendo patrulhado por ter se encontrado com o ex-presidente Michel Temer. Há quem se diga decepcionado, mesmo ele tendo justificado o cafezinho desta forma: "A política é a arte do diálogo, o que não significa que Temer passou a integrar o meu projeto." O candidato do Podemos, no entanto, está absolutamente certo em fazer movimentos como esse, tanto por razões pragmáticas quanto por princípio...
Sergio Moro (foto) está sendo patrulhado por ter se encontrado com o ex-presidente Michel Temer. Há quem se diga decepcionado, apesar da justificativa que ele deu para o cafezinho: “A política é a arte do diálogo, o que não significa que Temer passou a integrar o meu projeto.” O candidato do Podemos, no entanto, está absolutamente certo em fazer movimentos como esse, tanto por razões pragmáticas quanto por princípio.
Moro desperta sentimentos negativos em boa parte dos políticos de Brasília: raiva, medo, desconfiança. Dissipar esse clima, um pouco que seja, pode ajudá-lo na campanha e será absolutamente indispensável se ele chegar ao governo.
O Congresso nunca foi tão poderoso. As emendas de relator transferiram da Presidência para os líderes parlamentares uma das principais ferramentas para criar maiorias e dar andamento a um programa de governo. Nessas circunstâncias, ou Moro começa a construir pontes desde já com personagens influentes de vários partidos, ou terá imensas dificuldades, caso se eleja, para emplacar pautas que requeiram emendas à constituição, e até mesmo projetos de lei ordinária. Sem falar, é claro, que suas defesas serão magras contra a bazuca do impeachment, que estará apontada para ele assim que assinar o termo de posse.
Deve-se elogiar a disposição de Moro para conversar e, mais ainda, a capacidade de convencer pessoas prontas a odiá-lo a se sentar com ele. Iniciativas como essa desarmam algumas das críticas que petistas e apologistas do petismo gostam de lhe fazer: que ele representa uma extrema direita com verniz, ou é alguém que não sabe agir sem a autoridade que a toga confere.
Não adianta sonhar com uma Presidência capaz de impor decisões ao Congresso ou trabalhar apenas com bancadas temáticas. Isso é bolsonarismo, ou seja, antipolítica.
Uma candidatura que não viva do autoengano e não esconda desejos autoritários tem de aceitar a política com suas impurezas. É possível navegar por Brasília sem perder o rumo e os valores. Muita gente faz isso. O contrário – Brasília tornar-se de repente um ambiente esterilizado – simplesmente não vai acontecer
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