Quanto o cunhado de Gilmar gastou em menos de quatro meses no Senado
Chiquinho Feitosa (foto), um empresário milionário que virou senador em novembro do ano passado, deixará o Senado nos próximos dias. Como primeiro-suplente, ele ficou na vaga do tucano Tasso Jereissati por menos de quatro meses...
Chiquinho Feitosa (foto), um empresário milionário que virou senador em novembro do ano passado, deixará o Senado nos próximos dias. Como primeiro-suplente, ele ficou na vaga do tucano Tasso Jereissati por menos de quatro meses.
Nesse período, segundo levantamento feito por O Antagonista no Portal da Transparência do Senado, Feitosa gastou R$ 101.713,60 da cota parlamentar, o chamado cotão, dinheiro público a que todo congressista tem direito a usar com quase tudo o que você conseguir imaginar.
No primeiro mês como senador temporário, o cearense torrou R$ 4.508,20 com alimentação, como noticiamos. Depois da repercussão negativa, ele não gastou mais nem um centavo do cotão para essa finalidade.
Feitosa usou R$ 42,1 mil do cotão para “divulgação da atividade parlamentar”: basicamente serviços de gerenciamento das redes sociais e elaboração de vídeos no formato de stories, conforme consta nas notas fiscais apresentadas ao Senado para ressarcimento.
O senador temporário também gastou R$ 12.505,40 com passagens aéreas entre Brasília e Fortaleza. Além disso, usou R$ 42,6 mil para “serviços de assessoria legislativa”. Feitosa disse a O Antagonista, no fim do ano passado, que esse gasto se refere ao trabalho de um assessor que atua no gabinete de Tasso Jereissati desde 2015 e, portanto, “não é coisa de agora”. Embora as regras da cota parlamentar permitam esse tipo de contratação, é inacreditável que os senadores se vejam instigados a gastar mais de dinheiro público com gente de fora, mesmo o Senado tendo um quadro técnico considerável.
Quem é Chiquinho Feitosa?
Em 3 de novembro, Francisco Feitosa de Albuquerque Lima, conhecido como Chiquinho Feitosa, assumiu uma vaga no Senado, no lugar de Tasso Jereissati (PSDB-CE), que se licenciou por quatro meses do cargo para, segundo alegou à época, trabalhar na campanha de Eduardo Leite para as prévias do PSDB.
Chiquinho tem 57 anos e é um bem-sucedido empresário dos ramos de transporte coletivo e agronegócio no Ceará. Em 2014, quando, filiado ao DEM, foi eleito primeiro-suplente na chapa de Jereissati, declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um patrimônio de R$ 5,6 milhões, incluindo participações em empresas e cabeças de gado e ovelhas.
Mesmo com a pandemia, sua posse foi um acontecimento, a ponto de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, dizer, no dia, que aquela era uma das cerimônias mais concorridas da história da Casa, com a presença de lideranças políticas e empresariais do país inteiro. Estiveram presentes, por exemplo, o ex-presidente do Senado Mauro Benevides, o presidente do STJ, Humberto Martins, e Gilmar Mendes, do STF, de quem é cunhado — Feitosa é irmão da esposa do ministro, Guiomar Mendes.
Chiquinho conhece bem como funciona Brasília: foi deputado federal entre 1999 e 2003 e nunca deixou romper os laços com o poder. Uma de suas sobrinhas é casada com o deputado federal Domingos Neto (PSD-CE), que foi o relator-geral do orçamento de 2021, em meio ao esquema das emendas de relator.
Em 2013, Gilmar e Guiomar foram padrinhos do casamento, com direito a festa no Copacabana Palace, do filho e herdeiro de Chiquinho com a filha de Jacob Barata Filho, conhecido com o “rei do ônibus”. Quatro anos depois, em três ocasiões, Gilmar mandaria soltar Jacob, que havia sido preso no âmbito de desdobramentos da Lava Jato do Rio. Na época, por meio de sua assessoria, o ministro disse que não via razão para se declarar suspeito, porque “o casamento não durou nem seis meses”. Na última terça-feira, como noticiamos, a Segunda Turma do STF arquivou denúncia de evasão de divisas envolvendo Jacob — o relator do caso foi o próprio ministro Gilmar, cujo posicionamento acabou sendo acompanhado por Ricardo Lewandowski e Kassio Nunes Marques.
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