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“As posições de uma pessoa dentro da Embrapa tornaram-se política de governo”, diz pesquisador

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Cedê Silva
5 minutos de leitura 05.02.2022 11:00 comentários
Entrevista

“As posições de uma pessoa dentro da Embrapa tornaram-se política de governo”, diz pesquisador

Falsas controvérsias científicas, influenciadas por um grupo de pesquisadores da Embrapa, influenciaram a política e a legislação ambiental no Brasil em anos recentes - e seguem um método...

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“As posições de uma pessoa dentro da Embrapa tornaram-se política de governo”, diz pesquisador
Foto: Alan Santos/PR

Falsas controvérsias científicas, influenciadas por um grupo de pesquisadores da Embrapa, influenciaram a política e a legislação ambiental no Brasil em anos recentes – e seguem um método.

A conclusão está em artigo científico liderado pelo pesquisador Raoni Rajão, coordenador do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da UFMG. O estudo foi publicado em 25 de janeiro na revista Biological Conservation e motivou o Sinpaf, sindicato dos trabalhadores da Embrapa, a pedir publicamente a exoneração do colega Evaristo de Miranda (na foto, à esquerda, com o presidente Bolsonaro).

“Nós observamos que essas falsas controvérsias têm um método. Elas seguem um certo protocolo, e também têm efeitos”, disse Rajão, em entrevista a O Antagonista.

“O efeito no caso do Brasil, especificamente, é serem utilizadas para legitimar a descontrução de políticas ambientais”, acrescentou. “São mentiras doces que escondem verdades amargas”.

Entre as falsas controvérsias abastecidas por agentes públicos, o artigo cita estudos sobre o Código Florestal, reformado em 2012; a suposta arbitrariedade de multas ambientais e o papel das Unidades de Conservação no combate ao desmatamento.

O artigo conta que na época do debate sobre a reforma do Código Florestal o grupo de Evaristo de Miranda apresentou ao Congresso um estudo mostrando que a lei inviabilizaria a agropecuária. Esse estudo não foi enviado para revistas científicas, onde estaria sujeito a revisão por outros pesquisadores.

“O resultado indicava que se a legislação fosse implementada de maneira completa na Amazônia e no Pantanal, praticamente toda a agropecuária teria que ser expulsa, seria tida como ilegal”, disse Rajão.

“Examinando de maneira mais próxima, os números obtidos por outros estudos não chegam à mesma conclusão. Uma das formas de chegar a esse número apresentado pelo grupo do Evaristo é pegando cada rio disponível na base da Agência Nacional de Águas [ANA] e colocando nele uma faixa de proteção, que é de no mínimo 30 metros na legislação antiga e vai até 500 metros, como se todas demandassem 500 metros, como se fossem todas como a do Rio Amazonas. Isso faz com que você superestime a área que precisa ser preservada. E foi somente assim que nós conseguimos observar um número similar ao apresentado pelo grupo da Embrapa”, acrescentou o pesquisador.

“Ou seja: são escolhas metodológicas extremamente questionáveis que depois geram resultados que vão corroborar o discurso de quem? O discurso de quem já quer promover uma anistia, e foi isso que aconteceu no final das contas com o Código Florestal, que perdoou 58% de todo o desmatamento ilegal feito até 2008”, prosseguiu Rajão.

“Existem grupos isolados de pessoas que apesar de não serem pesquisadores ativos na comunidade científica – porque não publicam [em revistas científicas], não participam de congressos, não têm uma atividade da comunidade – são capazes de pegarem temas que já estão definidos, de certa forma fechados dentro da comunidade científica, e apresentarem esses temas como se fossem grandes controvérsias”, disse o professor, resumindo a pesquisa publicada na Biological Conservation.

O contrário também acontece. “Pegar algo que já é bem estabelecido, como ‘fogo é um instrumento do processo de desmatamento’, e negar. Falar ‘não, floresta úmida não pega fogo'”, disse o pesquisador.

Bolsonaro já disse coisas parecidas várias vezes. Em junho do ano passado, disse em uma de suas lives: “Não pega fogo na Amazônia (…) A floresta é úmida”. Em novembro, voltou ao tema“A Floresta Amazônica não pega fogo”.

Rajão resaltou que o artigo, assinado por outros 11 pesquisadores, não é uma crítica à Embrapa. “O artigo critica um grupo relativamente pequeno, liderado pelo Evaristo de Miranda, dentro da Embrapa. Como exemplo de geração de falsas controvérsias e seus impactos. O artigo não é uma crítica à Embrapa”.

Porém, acrescentou, “as posições de uma pessoa dentro da Embrapa tornaram-se política de governo. De maneira absolutamente central nos últimos anos, e de certa forma com aval da diretoria da instituição”.

Procurados por O Antagonista desde segunda-feira (31), o Ministério da Agricultura e a Embrapa não responderam às nossas perguntas.

Na terça (1º), a Embrapa publicou uma nota de repúdio ao artigo do grupo de Rajão, pelo que chamou de “suas limitações e sugerida parcialidade”. A nota repete parte da linguagem usada pelo vice-presidente Mourão, dizendo que “[o]s agricultores passaram a ser apresentados como os grandes vilões do meio ambiente”, e não enfrenta os problemas levantados pelo artigo.

Evaristo de Miranda é também um dos proponentes do ‘boi bombeiro’, uma de várias falsas controvérsias que ficaram de fora do artigo na Biological Conservation.

Leia mais:

Brasil chegou enfraquecido na COP26 por não ter feito dever de casa, diz pesquisador

A lenda do Boi Bombeiro

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Cedê Silva

Cedê Silva é formado em Jornalismo pela UFMG e em Relações Internacionais pela PUC Minas. Começou a carreira como repórter do Estado de Minas, passou pelo Estadão, Veja BH e CQC, onde criou o quadro 'Choque de Realidade'. Desembarcou em 2019 em O Antagonista, com a missão de expor os absurdos diários da política de Brasília com reportagens em vídeo. É apresentador do Campeonato Brasileiro de Debates.

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