O jogo de Gilberto Kassab
O paulista Gilberto Kassab (foto), cacique do PSD, é o mais pragmático dos políticos brasileiros em atividade -- e não vai aqui nenhuma ironia com o adjetivo. No ano passado, ele vendia aos seus interlocutores a ideia de que o mineiro Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado, tinha chance de ser presidente da República. Eu sempre achei que, na verdade, Rodrigo Pacheco era apenas um bom "cavalo de parada" para Gilberto Kassab e que a candidatura do político mineiro se prestava mais a atrair quadros para o PSD e, assim, a ajudar a fazer uma grande bancada parlamentar, bem como a eleger governadores...
O paulista Gilberto Kassab (foto), cacique do PSD, é o mais pragmático dos políticos brasileiros em atividade — e não vai aqui nenhuma ironia com o adjetivo. No ano passado, ele vendia aos seus interlocutores a ideia de que o mineiro Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado, tinha chance de ser presidente da República. Eu sempre achei que, na verdade, Rodrigo Pacheco era apenas um bom “cavalo de parada” para Gilberto Kassab e que a candidatura do político mineiro se prestava mais a atrair quadros para o PSD e, assim, a ajudar a fazer uma grande bancada parlamentar, bem como a eleger governadores. Aliás, o cacique pessedista quer atrair o tucano Eduardo Leite para as suas hostes.
Geraldo Alckmin era peça central no jogo de Gilberto Kassab, como favorito ao Palácio dos Bandeirantes. Concorreria como governador pelo PSD. Mas Geraldo Alckmin cedeu ao canto da sereia de Lula e pode vir a compor chapa com o chefão petista, na condição de vice. Gilberto Kassab não gostou do movimento do ex-tucano, evidentemente, porque isso desarrumou o seu tabuleiro. Mas, pragmático que é, ele não guarda rancores na geladeira. Na verdade, Gilberto Kassab não guarda rancores nem mesmo numa caixa de isopor, as exceções confirmando a sua personalidade.
Disposto desde sempre a apoiar Lula num eventual segundo turno, ele vem acompanhando as pesquisas que mostram o petista bem lá na frente e começa a achar que os dividendos políticos a serem colhidos com Lula serão bem maiores para o PSD, se o apoio ao chefão petista ocorrer já no primeiro (e talvez único) turno. Gilberto Kassab não abre as cartas antes do tempo, claro, mas as conversas com Lula são intensas e, aparentemente, muito promissoras. Diz que o apoio ao PT no primeiro turno é “fato vencido”, mas isso não significa necessariamente que ele não se renderá à verdade dos fatos.
Em entrevista que irá ao ar hoje, na GloboNews, a jornalista Andreia Sadi perguntou ao cacique do PSD, segundo antecipou O Globo: “Se o Lula ganhar a eleição e te chamar para ser ministro, o senhor aceita?” A resposta de Gilberto Kassab foi a seguinte: “Não vou dizer que não aceito missões (…), dizer para você que não vou ser ministro. Não vou deixar de analisar nenhum convite porque é muito honroso ser ministro, mas realmente não está nos meus planos nos próximos anos”.
Obviamente, ele toparia ser ministro de Lula. Mas há outros cenários possíveis, nos quais Gilberto Kassab forneceria um vice a Lula. As opções são Rodrigo Pacheco (Lula adoraria ter um mineiro como companheiro de chapa, deu certo com José Alencar) ou, como o cacique do PSD não guarda rancores, o próprio Geraldo Alckmin, que se filiaria ao partido, como inicialmente previsto, só que agora para ser candidato a segundo de Lula. Há quem diga que o próprio Gilberto Kassab poderia deixar os intermediários de lado e ser o vice do petista. Muito improvável, mas não impossível. Em qualquer cenário, será preciso fazer uma acomodação com Rodrigo Pacheco — que já avalia desistir da candidatura ao Palácio do Planalto. Está prevista para hoje uma conversa do cacique do PSD com o presidente do Senado. A aliança com Lula está na pauta.
Seria ótimo para chefão petista ter o partido de Gilberto Kassab ao seu lado. Venderia de modo ainda melhor a ideia de que ele não cederá a radicalismos. Aliás, se fechar mesmo com Lula, Gilberto Kassab sempre poderá dizer que o fez justamente para servir de freio ao PT — e não se pode dizer que uma bancada de 40 a 50 parlamentares do PSD deixará de ser bom breque.
O jogo segue.
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