Chega de crachá: catraca livre para Carluxo
Em 2121, os brasileiros nossos netos poderão finalmente ter informações sobre os crachás de acesso ao Palácio do Planalto expedidos em nome dos filhos do presidente da República, Carlos e Eduardo Bolsonaro. A Secretaria-Geral da Presidência impôs sigilo de um século a esses cartões, depois que a Crusoé pediu acesso a eles, por meio da Lei de Acesso à Informação...
Em 2121, os brasileiros nossos netos poderão finalmente ter informações sobre os crachás de acesso ao Palácio do Planalto expedidos em nome dos filhos do presidente da República, Carlos e Eduardo Bolsonaro. A Secretaria-Geral da Presidência impôs sigilo de um século a esses cartões, depois que a Crusoé pediu acesso a eles, por meio da Lei de Acesso à Informação.
Carlos Bolsonaro usou o seu crachá para ir 32 vezes ao palácio presidencial, entre abril de 2020 e junho de 2021. Mais de duas vezes por mês, portanto, em média geral, porque os registros de entrada de Cartuxo deixam claro que ele deixou de frequentar com assiduidade o Palácio do Planalto no final de junho do ano passado, semanas após a nomeação de Fábio Faria como ministro das Comunicações. O vereador carioca só voltou a dar as caras no Planalto a partir de janeiro de 2021. “Uma planilha elaborada pela Casa Civil mostra que o filho 02 de Jair Bolsonaro tem acesso livre ao terceiro andar do palácio e ao próprio gabinete da Presidência. Eduardo Bolsonaro, por sua vez, esteve no gabinete presidencial em três oportunidades, todas em abril de 2020″, publicou a Crusoé.
O sigilo foi decretado nos termos uma lei de 2011, segundo a qual “as informações pessoais relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem terão seu acesso restrito, independentemente de classificação de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem) anos”.
O pecuarista José Carlos Bumlai também tinha acesso livre ao gabinete do então presidente Lula, como revelou a Veja, uma década atrás. A reportagem relatou que Bumlai gostava “de contar a amigos que, certa vez, durante um sonho, uma voz lhe disse para se aproximar do então candidato Lula. Na campanha de 2002, por meio do ex-governador Zeca do PT, Bumlai conheceu o o futuro presidente e cedeu uma de suas fazendas para a gravação do programa eleitoral. São amigos desde então. Seus filhos também se tornaram amigos dos filhos de Lula. Amizade daquelas que dispensam formalidades, como avisar antes de uma visita, mesmo se a visita for ao local de trabalho. Em 2008, após saber que o serviço de segurança impusera dificuldades à entrada do pecuarista no Planalto, o presidente ordenou que fosse fixado um cartaz com a foto de Bumlai na recepção do palácio para que o constrangimento não se repetisse. O pecuarista, dizia o cartaz com timbre do Gabinete de Segurança Institucional, estava autorizado a entrar ’em qualquer tempo e qualquer circunstância'”.
José Carlos Bumlai usava o acesso ao gabinete de Lula para fazer negócios do interesse particular de muita gente, menos do seu, do meu e de 99,9% dos cidadãos brasileiros. Mas Carlos, principalmente, ia tanto ao Palácio do Planalto para quê? Como ele já está bem grandinho para visitar o local de trabalho do papai e ser paparicado pelas secretárias, é de se imaginar que fosse para defender o interesse público, usando da sua interlocução privilegiada com o presidente da República, certo?
Soube-se que Carluxo, filho mais amoroso de Jair Bolsonaro, esteve 32 vezes no Palácio do Planalto, entre o início do ano passado e meados deste malfadado 2021, depois que a CPI da Covid inquiriu a Presidência da República a respeito do assunto. O vereador é suspeito de integrar o chamado “gabinete paralelo” que aconselhou o sociopata no início da pandemia. Se tudo não passa de invenção de uma oposição que só sabe perseguir gente honesta e da “extrema imprensa”, por que a divulgação das informações referentes ao seu crachá poderia macular a “intimidade, vida privada, honra e imagem” do clã Bolsonaro?
Já que a transparência do atual governo é para ser a mesma do que dava a José Carlos Bumlai acesso direto ao gabinete presidencial, é melhor dispensar crachás e tascar logo um cartaz com a foto de Carluxo, Eduardo, Flávio (e, quem sabe, Frederick Wassef) na portaria do Palácio do Planalto, autorizando-os a “entrar em qualquer tempo e qualquer circunstância”. O guarda abre a catraca e pronto (se é que já não o faz sem necessidade de cartaz nenhum, claro).
Catraca livre para Carluxo e estamos conversados. Chega de hipocrisia. Poupem ao menos os brasileiros nossos netos.
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