Vacinação de Ibaneis no DF é capenga, frágil e inconsistente
A campanha de vacinação contra a Covid no Distrito Federal, governado por Ibaneis Rocha (MDB), é capenga, frágil e inconsistente, com desempenho pior do que o de estados grandes e com muitos munícipios...
A campanha de vacinação contra a Covid no Distrito Federal, governado por Ibaneis Rocha (MDB), é capenga, frágil e inconsistente, com desempenho pior do que o de estados grandes e com muitos munícipios.
O IBGE estima que o DF tem hoje por volta de 3 milhões de habitantes. A área do DF é de 5.760 km², menos de quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Apesar dessas características, o DF aparece hoje em 19º lugar no ranking da vacinação pelos dados do consórcio de veículos de imprensa. Só 36% da população recebeu a 1ª dose de uma das vacinas contra a Covid, desempenho muito inferior ao de São Paulo (49,91%), Rio Grande do Sul (49,05%), Mato Grosso do Sul (46%), Espírito Santo (45%) e Paraná (44%).
Procurada, a Secretaria de Saúde do DF informou a O Antagonista que “manteve a política de guardar a segunda dose, para assegurar a completa imunização da população, enquanto alguns estados, com o objetivo de aumentar o número de vacinados, optaram por usar as doses que seriam reservadas para segunda dose”.
Mas considerando-se a aplicação da 2ª dose mais a vacina em dose única da Janssen, o desempenho é semelhante: o DF está em 15º lugar, com 14% da população plenamente imunizada. O ranking é liderado hoje por Mato Grosso do Sul (28%), Rio Grande do Sul (22%), São Paulo (17,83%), Espírito Santo (17,59%) e Rio de Janeiro (15%).
Além do tamanho, há uma diferença importante: todos os governadores do Brasil compartilham a responsabilidade pela distribuição das vacinas com prefeitos, exceto Ibaneis, já que no DF não existem prefeituras.
Bem no comecinho da pandemia, o DF até largou na frente, em termos de distribuição, recebendo proporcionalmente mais doses do 1º lote da Coronavac do que os estados.
Uma das marcas da campanha de vacinação no DF é o classismo. Em junho, Ibaneis anunciou a inclusão dos bancários entre os grupos prioritários da vacinação. Pouco depois, o chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha, anunciou que a prioridade também valeria para os vigilantes que atuam em escolas e bancos. E ainda no mesmo mês, a Secretaria de Saúde informou que vacinaria com prioridade os oficiais de Justiça.
O DF também já conferiu status de prioridade na vacinação a biólogos e professores de educação física, entre outras profissões.
Nem todas as prioridades se confirmaram. A vacinação prioritária dos bancários, por exemplo, foi suspensa no começo de julho, antes de começar, atendendo a uma orientação do MPF.
Na sexta passada (16), no entanto, o governo de Brasília informou que destinará vacinas para bancários e funcionários dos Correios. Essa publicação veio 10 dias depois da apressada coletiva de imprensa em que Marcelo Queiroga anunciou, antes de publicação de nota técnica, a inclusão dessas categorias como prioridades.
A administração da vacinação no DF foi alvo de ações na Justiça, em processos diferentes.
Em uma das peças, o governador escreveu à 3ª Vara da Fazenda Pública que “[a] inclusão de outras categorias profissionais e grupos prioritários se dá em função das características e peculiaridades da população distrital, com a finalidade de atender ao interesse público e com o objetivo de serem retomadas as atividades no Distrito Federal o mais rápido possível”.
Apesar disso, como vemos, o desempenho da vacinação no DF está bem aquém da maioria dos estados.
No mesmo ofício, Ibaneis diz à Justiça que a criação de um calendário de vacinação iria “transcender a capacidade de governança distrital”.
Para o médico Claudio Maierovitch, sanitarista da Fiocruz Brasília, uma questão de fundo “que vale para o Brasil inteiro” está na falta de planejamento unificado. Para ele, o Plano Nacional de Imunização contra a Covid é “muito vago, muito cheio de aberturas”, permitindo a estados e municípios customizar prioridades “ao sabor das pressões locais”.
Ele também comentou o problema dos horários de funcionamento de postos de saúde no DF, que tradicionalmente funcionam apenas no horário comercial. Mais do que isso, há uma “dificuldade histórica” de salas de vacinação que fecham no horário de almoço, afugentando trabalhadores que não arriscam perder a viagem. E, acrescentou Maierovitch, “pensando como estratégia para Covid-19, velocidade é fundamental”.
Para o médico Márcio Bittencourt, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP, “não é esperado que uma cidade com uma estrutura essencialmente urbana fique, vamos dizer, para trás dos outros lugares”, considerando-se que a distribuição de vacinas segue praticamente a mesma proporção no país todo.
“A gente devia começar a vacinação 5 e meia da manhã para acabar 11 horas da noite”, sugeriu Bittencourt. “Quanto mais rápido a gente fizer, melhor”.
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