Lula foi didático no Le Monde. Didático na mentira
A entrevista que Lula deu ao jornal francês Le Monde é prova de que prisão curta dificilmente tem efeito reeducativo. Os petistas elogiam a entrevista como muito "didática". De fato, o didatismo sobre a capacidade de Lula mentir é evidente. Tanto a entrevista ao jornal Le Monde como a aparição de Lula na CNN americana, no programa de Christiane Amanpour, fazem parte da velha, mas eficaz, estratégia do PT e da esquerda em geral: usar as conexões internacionais na imprensa para promover-se ou vitimizar-se, a depender da necessidade...
A entrevista que Lula deu ao jornal francês Le Monde é prova de que prisão curta dificilmente tem efeito reeducativo. Os petistas elogiam a entrevista como muito “didática”. De fato, o didatismo sobre a capacidade de Lula mentir é evidente.
Tanto a entrevista ao jornal Le Monde como a aparição de Lula na CNN americana, no programa de Christiane Amanpour, fazem parte da velha, mas eficaz, estratégia do PT e da esquerda em geral: usar as conexões internacionais na imprensa para promover-se, vitimizar-se ou ambos, a depender da necessidade. Depois de Estados Unidos e França, eu chutaria que as próximas entrevistas de Lula serão a jornais da Espanha, Alemanha, Itália e Reino Unido. Vamos ver se os assessores petistas cumprirão diligentemente a agenda, como deve ser.
Mesmo que os jornais estejam povoados de militantes sobre os quais não temos dúvidas, apenas certezas, Lula solto voltou a ser um personagem relevante, embora não mais tão interessante ao leitor estrangeiro. A entrevista foi publicada no jornal Le Monde às 10h58, horário francês, e até este momento, 12h29, horário brasileiro, o aplicativo do jornal do qual sou assinante não mostra nenhum comentário. É bom os petistas tomarem logo providências.
Na entrevista publicada hoje, Lula mente sobre a Lava Jato, para não variar, dizendo que Sergio Moro e os procuradores que o denunciaram se comportaram com “gângsters” e que “hoje a verdade está sobre a mesa”. Nenhuma palavra — e também nenhum pergunta — sobre os bilhões desviados da Petrobras. Não há mais nem a necessidade de dizer que ele não sabia de nada. Outra mentira repisada: a que “a decisão do juiz Edson Fachin, no início de março, provou a minha inocência, com cinco anos de atraso”. Fachin não declarou Lula inocente, somente facilitou o caminho para que os crimes de Lula prescrevessem, ao declarar que Sergio Moro era incompetente para julgar o petista. Roubaram a verdade e a mesa.
Lula também mente ao afirmar que “honestamente” não sabe se será candidato a presidente em 2022. Honestamente, ele é candidato e já está em campanha. Está tão em campanha que, ao contrário daquele Lula radical da presepada de 7 de abril de 2018, quando ele ensaiou resistir à prisão, em assembleia permanente e indecorosa na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, agora novamente se apresenta como o presidente que governou “também para os banqueiros e os empresários”. E afirma que o seu vice, José de Alencar, era “empresário trabalhador, honesto, vindo de uma partido de centro-direita, que foi o melhor vice-presidente que este planeta já conheceu!”. É o Lula de centro, da Carta aos Brasileiros, doido para voltar ao Planalto e para deixar os Guilhermes Boulos úteis pelo caminho.
Quando perguntado sobre o fato de a esquerda brasileira não ter produzido “novos dirigentes da mesma estatura sua”, o petista faz uma comparação futebolística, também para não variar (ele já havia feito outra antes, ao dizer que o PT era como o Paris Saint-Germain): “Quanto tempo foi necessário para que a França produzisse um Kylian Mbappé ou um Zidane? Muito tempo, não? A política, é a mesma coisa. Foi necessário pelo menos um século para que as esquerdas europeias produzissem um François Mitterrand ou um Willy Brandt. Demora! Mas eu lembro que o PT dispõe de muitas figuras importantes, que poderiam muito bem ser candidatos à eleição presidencial. Esse partido é um produtor de talentos, desde a antiga presidenta Dilma Rousseff até o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad”. Ter Lula Mbappé e as suas comparações futebolísticas de volta é mesmo doloroso, especialmente para explicar como ele se acha incomparável. A falsa modéstia é uma virtude que Lula, o criador de postes (e Deus nos livre deles), não tem.
Perguntado sobre por que falou tão pouco de ambiente na sua última entrevista à imprensa brasileira (eu chamaria de comício), ele respondeu que o desmatamento na Amazônia atingia 27 mil quilômetros quadrados por ano e que “nós baixamos essa cifra para 4.000 km2. Nós conseguimos reduzir os gases do efeito estufa em 69%. Nós criamos 114 zonas de preservação ambiental, um Instituto Nacional de observação espacial (sic), o Inpe, para controlar o desmatamento e os incêndios. Bolsonaro terminou com esse instituto porque ele não queria diminuir os incêndios”. Antes de mais nada, o Inpe existe desde 1961, não foi Lula que o criou, e o instituto controla os incêndios na Amazônia desde 1988, quando o presidente era José Sarney, como mostra a série histórica que o próprio instituto mantém no ar. O Inpe foi alvo de Bolsonaro, mas não foi extinto, como pode supor o leitor francês pela resposta de Lula. Quanto ao desmatamento na Amazônia, em 2003, primeiro ano do primeiro mandato do petista, o Inpe registrou a destruição de 25.396 quilômetros quadrados. Em 2004, esse número subiu para 27.772 quilômetros quadrados, a segunda maior da série histórica; em 2005, diminuiu para 19.014 quilômetros quadrados. Foi nesse momento, se bem me lembro, que a Veja publicou uma reportagem de capa sobre como o PT estava destruindo a Amazônia. A tendência foi de queda a partir de 2005, mas durante o governo Lula somente em 2009 e 2010 a cifra ficou abaixo de 10.000 quilômetros quadrados, passando à casa dos 7.000 quilômetros quadrados. Ou seja, durante a maior parte do governo do chefão petista, o desmatamento na Amazônia manteve-se acima do verificado em 2019, primeiro ano de mandato de Bolsonaro, quando a barbárie voltou a crescer e atingiu 10.129 quilômetros quadrados. Os dados são do Inpe, lembre-se, aquele instituto que Lula não criou, que começou a medir o desmatamento na Amazônia no governo de José Sarney e que não foi extinto sob o atual presidente.
Lula foi muito didático, ainda, ao dizer que a cultura do ódio surgiu com Bolsonaro, que o povo brasileiro foi “bombardeado, nesses últimos anos, por um discurso de ódio e fanatismo que negou a política. Antes, se encontrávamos um adversário político do Brasil num restaurante, a gente apertava a mão. Hoje, arriscamos tomar um tiro de fuzil! É preciso desmontar tudo isso. A democracia, é o oposto: é a civilidade, a maturidade”. Foi com o petista na presidência que o discurso de “nós contra eles” ganhou impulso. Foi com o petista na presidência que foram financiados blogs sujos para atingir oponentes políticos e jornalistas que apontavam os crimes do PT e do próprio Lula. Foi com o petista na presidência que dossiês falsos eram criados para tumultuar o processo eleitoral. Foi com o petista na Presidência que a democracia foi sabotada com a compra de parlamentares a baciada e campanhas eleitorais financiadas com dinheiro roubado. Foi com o petista na presidência que se tentou criar um Conselho Federal de Jornalismo para amordaçar a imprensa. Foi com o petista na presidência que eu fui indiciado pela PF lulista, como redator-chefe da Veja, a mando do ministro da Justiça que funcionava como advogado de defesa de Lula. O sociopata atual deu continuidade formidável ao serviço de radicalização iniciado pelo mitômano.
Surfar nas enormidades assassinas de Jair Bolsonaro é fácil, basta dizer o óbvio sobre as medidas de enfrentamento da pandemia, assim como Lula fez na entrevista; difícil é reeducar-se em prisão curta interrompida por decisão do STF, o tribunal que propiciou a um criminoso condenado em três instâncias inaugurar a categoria de ex-condenado — e, desse modo, avacalhar a Justiça brasileira na imprensa internacional, para dizer o mínimo.
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