Impeachment de Bolsonaro: a vingança e a vingança de Maia Impeachment de Bolsonaro: a vingança e a vingança de Maia
O Antagonista

Impeachment de Bolsonaro: a vingança e a vingança de Maia

avatar
Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 01.02.2021 11:00 comentários
Brasil

Impeachment de Bolsonaro: a vingança e a vingança de Maia

Depois de levar uma punhalada de ACM Neto, o seu Brutus, e demais cúmplices do DEM, Rodrigo Maia, ainda presidente da Câmara, cogita aceitar um dos pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro -- que aliciou com mais de 3 bilhões de reais em emendas e cargos no governo deputados de quase todos os partidos, inclusive o DEM, que deve abocanhar o Ministério da Educação, para que deixassem o barco de Baleia Rossi (sem trocadilhos), do MDB, e subissem no de Arthur Lira, do Progressistas, candidato do Planalto e do Centrão à presidência da Casa. Como relatado pela imprensa, em reunião ontem à noite, Maia afirmou ter em mãos um parecer jurídico favorável à abertura do processo de impeachment...

avatar
Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 01.02.2021 11:00 comentários 0
Impeachment de Bolsonaro: a vingança e a vingança de Maia
Foto: Adriano Machado/Crusoé

Depois de levar uma punhalada de ACM Neto, o seu Brutus, e demais cúmplices do DEM, Rodrigo Maia, ainda presidente da Câmara, cogita aceitar um dos pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro — que aliciou com mais de 3 bilhões de reais em emendas e cargos no governo deputados de quase todos os partidos, inclusive o DEM, que deve abocanhar o Ministério da Educação, para que deixassem o barco de Baleia Rossi (sem trocadilhos), do MDB, e subissem no de Arthur Lira, do Progressistas, candidato do Planalto e do Centrão à presidência da Casa. Como relatado pela imprensa, em reunião ontem à noite, Maia afirmou ter em mãos um parecer jurídico favorável à abertura do processo de impeachment.

A política brasileira é aborrecidamente vergonhosa.  Assim como vem ocorrendo desde sempre, o que move esse pessoal é a vingança, visto que a única convicção que exibem é a de que o dinheiro do pagador de impostos lhes pertence. Até a semana passada, Maia dizia que o impeachment do sociopata causaria instabilidade indesejável a um país que precisa enfrentar uma pandemia mortífera. Fingia ignorar que a saída de Bolsonaro da presidência da República é parte de um eficaz enfrentamento nacional da crise sanitária causada pela Covid-19. Mas mudou de ideia ao ter o seu tapetinho puxado pelo Planato et caterva. Agora tem até parecer favorável, veja só. Maia é mais do mesmo.

O presidente da Câmara decide monocraticamente pela abertura do processo de impeachment do presidente da República, de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal datado de 2015. Trata-se de decisão irrecorrível, sem possibilidade de recurso em plenário. A menos que o STF, uma vez provocado, mude de opinião (o que sempre é possível onde impera a jurisprudência de ocasião), o rito do impeachment seguiria numa comissão e o resto nem Deus sabe.

Maia poderia ter decidido pela abertura de um processo de impeachment no início do ano passado, quando ainda estava forte e Bolsonaro apenas esboçava a compra pesada do Centrão. Teria poupado o país de milhares de mortos pelo vírus. Não o fez. A sua conveniência política prevaleceu. Contentou-se com notas de repúdio às barbaridades cometidas pelo presidente da República. No apagar das luzes como mandachuva na Câmara, quer vingar-se e sair como herói. Assim como Eduardo Cunha fez com Dilma Rousseff. Assim como vem ocorrendo desde sempre, como já dito.

Se Maia abrir mesmo o processo de impeachment, contrariando os seus amigos do mercado, o Centrão vai regozijar-se: poderá cobrar fatura ainda mais alta de Bolsonaro, para mantê-lo no Planalto. Se a popularidade do presidente da República despencar, a rejeição a ele aumentar e manifestações populares de porte ocorrerem, o Centrão mudará de lado sem vergonha (e do que ele tem vergonha?), depois de lambuzar-se com o que lhe foi oferecido por Bolsonaro. O jogo do Centrão é de ganha-ganha-ganha; o do Brasil é invariavelmente de perde-ganha-perde. O impeachment de Bolsonaro em 2020 teria saído mais barato em vidas e dinheiro. Por causa de Maia, sairá mais caro em todos os aspectos, se vier a ocorrer. É o que temos no cardápio: vingança, não convicções.

Em 2016, escrevi um artigo sobre o papel da vingança na política brasileira. Escrevi-o depois que Eduardo Cunha se viu cassado e caiu na rede da Lava Jato. A história no Brasil não se repete como farsa porque não temos originalidade nenhuma, as variações de moldura enfatizando o tema único da pintura. Repito-me também, reproduzindo o artigo de quase cinco anos atrás:

“Devemos ao ex-presidente da Câmara, que agora terá de se haver com o juiz Sergio Moro, o impeachment de Dilma Rousseff. Não há como negar: o seu ato de vingança foi essencial para apeá-la do poder. Se não tivesse aceitado o pedido do trio Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal, é provável que Dilma ainda continuasse a presidir o Brasil, apesar de todos os seus crimes e com todas as consequências funestas que isso significaria. Aos petistas restou vingar-se de Eduardo Cunha votando pela cassação dele. Essa história ainda não acabou. O peemedebista disse que contará em livro toda a história do impeachment. Aguardamos ansiosamente, visto que deve sobrar também para os seus colegas de partido.

Livramo-nos de duas pragas graças à vingança, sentimento que ensinamos às crianças ser feio, mas que na política brasileira tem servido como antibiótico. Senão, vejamos:

Em 1992, Fernando Collor caiu porque o seu irmão, Pedro, deu uma entrevista bombástica à Veja, para contar as relações promíscuas entre o então presidente e o seu tesoureiro, Paulo César Farias. Pedro estava fulo com o fato de Fernando ter cantado a sua mulher, Thereza.

Em 2005, a mesma Veja tentou circunscrever o escândalo de corrupção nos Correios, revelado pela revista, ao PTB de Roberto Jefferson. Ao perceber que o PT estava armando para cima dele por meio da Veja, o petebista procurou a revista para denunciar o mensalão e foi repelido (presenciei o fato). Jefferson, então, soltou o verbo na Folha de S.Paulo, para contar que o esquema era muito maior e comandado pelos petistas.

Roberto Jefferson foi condenado no mensalão, assim como Eduardo Cunha será condenado no petrolão. Ambos levaram con- sigo os seus algozes.

A morte dos vingativos é final comum no gênero literário-teatral conhecido como “peças de vingança”, do qual William Shakespeare é o maior mestre. As ‘peças de vingança’ nacionais, contudo, não estão à altura de um bom dramaturgo. Os seus personagens são demasiado estúpidos.

Fernando Collor foi estúpido ao achar que o irmão seria corneado mansamente. O PT foi estúpido ao acreditar que poderia jogar toda a culpa da corrupção governamental sobre Roberto Jefferson, sem que ele reagisse. O PT foi igualmente estúpido ao imaginar que poderia anular Eduardo Cunha na presidência da Câmara, um dos cargos mais poderosos da República.

Havia algo de podre no estado da Dinamarca, para citar a frase de Marcellus em Hamlet, a ‘peça de vingança’ mais popular de Shakespeare. Há algo de podre no Estado do Brasil. Não precisamos, contudo, de fantasmas magníficos para os nossos personagens se vingarem uns dos outros.”

Temos de contar com a vingança, apenas, para termos a impressão fugidia de que algo mudou em Brasília. Aborrecidamente vergonhoso.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Ellen DeGeneres deixa EUA após escândalos e reeleição de Trump

Visualizar notícia
2

"Sua hora vai chegar", diz Bretas a Paes

Visualizar notícia
3

Rafinha Bastos ironiza Globo por vídeo de jornalistas como atores

Visualizar notícia
4

Como Cid convenceu Moraes?

Visualizar notícia
5

Crusoé: Cerco a Bolsonaro

Visualizar notícia
6

Por que Luiz Eduardo Ramos ficou de fora da trama golpista?

Visualizar notícia
7

E agora, Bolsonaro? As cenas dos próximos capítulos

Visualizar notícia
8

PF indiciou padre em caso de golpismo

Visualizar notícia
9

Jojo Todynho e Luciano Hang, juntos para cancelar (preços altos)

Visualizar notícia
10

Moro defende Bretas contra Paes: “Delinquentes são seus amigos”

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Chefe da Jaguar rebate críticas: "ódio vil"

Visualizar notícia
2

"Era sempre uma competição: você ou eu", diz Merkel sobre Trump

Visualizar notícia
3

Crusoé: Irã já possui material para fabricar quatro bombas atômicas

Visualizar notícia
4

Melhores casas de apostas - Sites confiáveis em 2024

Visualizar notícia
5

Rafinha Bastos ironiza Globo por vídeo de jornalistas como atores

Visualizar notícia
6

Crusoé: A dancinha do trumpismo

Visualizar notícia
7

Bolsonaro sabia de plano para ‘neutralizar’ Lula e Moraes, disse Cid em depoimento

Visualizar notícia
8

Crusoé: As intenções de Putin ao ameaçar atacar os EUA

Visualizar notícia
9

Texas vota pela inclusão de lições bíblicas nas escolas públicas

Visualizar notícia
10

Jojo Todynho e Luciano Hang, juntos para cancelar (preços altos)

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

ACM Neto Arthur Lira artigo Baleia Rossi coluna DEM Dilma Rousseff Eduardo Cunha eleição para a presidência da Câmara Impeachment Jair Bolsonaro Mario Sabino O Antagonista Rodrigo Maia vingança
< Notícia Anterior

"Rejeitamos o estigma de que somos 11 ilhas", diz Fux aos ministros do STF

01.02.2021 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

“Os produtores não aceitam quem é apoiado e apoia a esquerda”

01.02.2021 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Ceará oficializa Miss Gay no calendário do Estado

Ceará oficializa Miss Gay no calendário do Estado

Visualizar notícia
Janones quer o fim do PL, partido de Jair Bolsonaro

Janones quer o fim do PL, partido de Jair Bolsonaro

Visualizar notícia
Após inquérito da PF, líderes da Câmara dão PL da Anistia como "morto"

Após inquérito da PF, líderes da Câmara dão PL da Anistia como "morto"

Wilson Lima Visualizar notícia
Rafinha Bastos ironiza Globo por vídeo de jornalistas como atores

Rafinha Bastos ironiza Globo por vídeo de jornalistas como atores

Deborah Sena Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.