Aras 'precisa cumprir o seu papel' e investigar Bolsonaro, dizem subprocuradores Aras 'precisa cumprir o seu papel' e investigar Bolsonaro, dizem subprocuradores
O Antagonista

Aras ‘precisa cumprir o seu papel’ e investigar Bolsonaro, dizem subprocuradores

avatar
Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 20.01.2021 15:26 comentários
Brasil

Aras ‘precisa cumprir o seu papel’ e investigar Bolsonaro, dizem subprocuradores

Seis subprocuradores-gerais da República, integrantes do Conselho Superior do Ministério Público Federal, cobraram de Augusto Aras medidas para investigar e responsabilizar Jair Bolsonaro por crimes comuns, pela sabotagem no combate à pandemia de Covid-19...

avatar
Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 20.01.2021 15:26 comentários 0
Aras ‘precisa cumprir o seu papel’ e investigar Bolsonaro, dizem subprocuradores
Foto: Leonardo Prado/PGR

Seis subprocuradores-gerais da República, integrantes do Conselho Superior do Ministério Público Federal, cobraram de Augusto Aras medidas para investigar e responsabilizar Jair Bolsonaro por crimes comuns, pela sabotagem no combate à pandemia de Covid-19.

Em resposta à nota lançada ontem, em que a Procuradoria Geral da República afirmou que cabe ao Legislativo responsabilizar o presidente por crimes de responsabilidade, os subprocuradores afirmaram, também em nota, que Aras “precisa cumprir o seu papel de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e de titular da persecução penal”.

“Devendo adotar as necessárias medidas investigativas a seu cargo – independentemente de ‘inquérito epidemiológico e sanitário’ na esfera do próprio Órgão [Ministério da Saúde] cuja eficácia ora está publicamente posta em xeque –, e sem excluir previamente, antes de qualquer apuração, as autoridades que respondem perante o Supremo Tribunal Federal, por eventuais crimes comuns ou de responsabilidade (CF, art. 102, I, b e c)”, diz a nota.

Eles também condenaram a afirmação da PGR de que o estado de calamidade pública é a “antessala” de um estado de defesa.

“A defesa do Estado democrático de direito afigura-se mais apropriada e inadiável que a antevisão de um “estado de defesa” e suas graves consequências para a sociedade brasileira, já tão traumatizada com o quadro de pandemia ora vigente”, diz a nota dos subprocuradores.

Assinam o texto José Adonis Callou de Araújo Sá, José Bonifácio Borges de Andrada, José Elaeres Marques Teixeira, Luiza Cristina Fonseca Frischeisen, Mario Luiz Bonsaglia e Nicolao Dino.

Leia aqui o artigo de Mario Sabino sobre a nota de Aras. E, abaixo, a íntegra da nota dos subprocuradores:

NOTA
Os Subprocuradores-Gerais da República signatários, integrantes do Conselho Superior do Ministério Público Federal, vêm expressar sua preocupação com a nota publica do senhor Procurador-Geral da República Augusto Aras, divulgada em 20.1.2021, em que Sua Excelência afirma, entre outras coisas, que o “estado de calamidade pública é a antessala do estado de defesa” e informa haver requisitado “inquérito epidemiológico e sanitário” ao Ministério da Saúde. Referida nota parece não considerar a atribuição para a persecução penal de crimes comuns e de responsabilidade da competência da Supremo Tribunal Federal, conforme artigo 102, I, b e c, da Constituição Federal, tratando-se, portanto, de função constitucionalmente conferida ao Procurador-Geral da República, cujo cargo é dotado de independência funcional.

O Brasil enfrenta, desde o início de 2020, grave crise sanitária causada pelo novo Corona Vírus, com vasta repercussão social, econômica e política, tendo a doença já causado a trágica morte de mais de 211 mil brasileiros. A gravidade da pandemia ensejou a união de esforços da comunidade científica, de empresas, entidades estatais e organismos internacionais, para estudos e produção de vacinas, em breve tempo. No Brasil, tivemos a associação de esforços de instituições como Instituto Butantan e Fundação Oswaldo Cruz, com empresas e entidades de outros países, para desenvolvimento e produção de vacinas.

Contudo, nesse cenário mundial de adoção de medidas de prevenção da propagação da doença e de mobilização de recursos e estudos para produção de vacinas, tivemos no Brasil diferente realidade, que nos conduziu ao agravamento como se verifica, por exemplo, em Manaus, desde a última semana, com o desabastecimento de cilindros de oxigênio, causando mortes de pacientes por asfixia e transferência emergencial de outros para tratamentos em estados diversos.

No Brasil, além da debilidade da coordenação nacional de ações para enfrentamento à pandemia, tivemos o comportamento incomum de autoridades, revelado na divulgação de informações em descompasso com as orientações das instituições de pesquisa científica, na defesa de tratamentos preventivos sem comprovação científica, na crítica aos esforços de desenvolvimento de vacinas, com divulgação de informações duvidosas sobre a sua eficácia, de modo a comprometer a adesão programa de imunização da população. Não bastassem as manifestações de autoridades em dissonância com as recomendações das instituições de pesquisa, tivemos a demora ou omissão na aquisição de vacinas e de insumos para sua fabricação, circunstância que coloca o Brasil em situação de inequívoco atraso na vacinação de sua população.

A controvertida atuação do Governo Federal levou o Supremo Tribunal Federal a proferir decisões que reconhecem a competência concorrente e asseguram que os Governos Estaduais e Municipais adotem as medidas necessárias ao enfrentamento da pandemia, o que evidentemente não exime de responsabilidade o Governo Federal, conforme ampla e claramente afirmado e reiterado pela Suprema Corte. 

De outro lado, e com a mesma gravidade, assistimos a manifestações críticas direcionadas ao TSE e ao sistema eleitoral brasileiro, difundindo suspeitas desprovidas de qualquer base empírica, e que só contribuem para agravar o quadro de instabilidade institucional. Além disso, tivemos recente declaração do Senhor Presidente da República, em clara afronta à Constituição Federal, atribuindo às Forças Armadas o incabível papel de decidir sobre a prevalência ou não do regime democrático em nosso País.

É importante recordar as espécies de responsabilidade dos agentes políticos no regime constitucional brasileiro. A possibilidade de configuração de crimes de responsabilidade, eventualmente praticado por agente político de qualquer esfera, também não afasta a hipótese de caracterização de crime comum, da competência dos tribunais.

Nesse cenário, o Ministério Público Federal e, no particular, o Procurador-Geral da República, precisa cumprir o seu papel de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e de titular da persecução penal, devendo adotar as necessárias medidas investigativas a seu cargo independentemente de “inquérito epidemiológico e sanitário” na esfera do próprio Órgão cuja eficácia ora está publicamente posta em xeque –, e sem excluir previamente, antes de qualquer apuração, as autoridades que respondem perante o Supremo Tribunal Federal, por eventuais crimes comuns ou de responsabilidade (CF, art. 102, I, b e c).

Consideramos, por fim, que a defesa do Estado democrático de direito afigura-se mais apropriada e inadiável que a antevisão de um “estado de defesa” e suas graves consequências para a sociedade brasileira, já tão traumatizada com o quadro de pandemia ora vigente.

Brasília, 20 de janeiro de 2021.

José Adonis Callou de Araújo Sá
Subprocurador-Geral da República
Conselheiro

José Bonifácio Borges de Andrada
Subprocurador-Geral da República
Conselheiro

José Elaeres Marques Teixeira
Subprocurador-Geral da República
Conselheiro

Luiza Cristina Fonseca Frischeisen
Subprocuradora-Geral da República
Conselheira

Mario Luiz Bonsaglia
Subprocurador-Geral da República
Conselheiro

Nicolao Dino
Subprocurador-Geral da República
Conselheiro

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Ellen DeGeneres deixa EUA após escândalos e reeleição de Trump

Visualizar notícia
2

"Sua hora vai chegar", diz Bretas a Paes

Visualizar notícia
3

Como Cid convenceu Moraes?

Visualizar notícia
4

Por que Luiz Eduardo Ramos ficou de fora da trama golpista?

Visualizar notícia
5

Crusoé: Cerco a Bolsonaro

Visualizar notícia
6

PF indiciou padre em caso de golpismo

Visualizar notícia
7

22 de novembro é feriado? Saiba onde!

Visualizar notícia
8

Microsoft pede a Trump endurecimento contra hackers russos e chineses

Visualizar notícia
9

E agora, Bolsonaro? As cenas dos próximos capítulos

Visualizar notícia
10

"Ultrajante", diz Biden sobre mandado de prisão para Netanyahu

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

STF quer julgar Bolsonaro antes do período eleitoral de 2026

Visualizar notícia
2

Comunicado importante (22/11) para quem inclui CPF na nota fiscal. Veja suas vantagens

Visualizar notícia
3

Moro defende Bretas contra Paes: “Delinquentes são seus amigos”

Visualizar notícia
4

Damares pede informações sobre "reunião secreta" de Lula com ministros do STF

Visualizar notícia
5

E agora, Bolsonaro? As cenas dos próximos capítulos

Visualizar notícia
6

Golpes na Black Friday (21/11): Descubra como se prevenir e ter mais segurança

Visualizar notícia
7

Meio-Dia em Brasília: Jair Bolsonaro, mais uma vez indiciado

Visualizar notícia
8

Trump vai rever políticas trans em segundo mandato

Visualizar notícia
9

Kremlin garante que EUA entenderam a mensagem de Putin

Visualizar notícia
10

Concurso PM (22/11): 2.700 vagas com remuneração de até R$ 4.852,21! Veja como se inscrever

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Augusto Aras Jair Bolsonaro José Adonis Callou de Araújo Sá José Bonifácio Borges de Andrada José Elaeres Luiza Frischeisen Mário Bonsaglia Nicolao Dino Pandemia PGR
< Notícia Anterior

Lewandowski dá prazo à Anvisa para prestar informações sobre vacina russa

20.01.2021 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Biden assina decretos

20.01.2021 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

CCJ da Câmara volta a discutir voto impresso

CCJ da Câmara volta a discutir voto impresso

Visualizar notícia
STF quer julgar Bolsonaro antes do período eleitoral de 2026

STF quer julgar Bolsonaro antes do período eleitoral de 2026

Wilson Lima Visualizar notícia
Comunicado importante (22/11) para quem inclui CPF na nota fiscal. Veja suas vantagens

Comunicado importante (22/11) para quem inclui CPF na nota fiscal. Veja suas vantagens

Visualizar notícia
Moro defende Bretas contra Paes: “Delinquentes são seus amigos”

Moro defende Bretas contra Paes: “Delinquentes são seus amigos”

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.